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quarta-feira, 13 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Felizes os que observam a palavra do Senhor
de reto coração e que produzem muitos frutos,
até o fim perseverantes!” (Lc 8,15).

            Somos hóspedes de uma casa. Mais que hóspedes, somos já parte da família. Nossa casa é esta: este espaço físico e humano que nos abriga, esta comunidade cristã da qual fazemos parte, esta assembleia na qual vivemos uma experiência de fé. Isto é, acolhidos por Deus na pessoa de cada um de nós, aqui reunidos, sentimo-nos um corpo: corpo eclesial de Cristo.
            Deus hoje nos acolhe em sua casa e nos convida a sentar aos pés de Jesus para escutá-lo e participar do banquete eucarístico que ele nos oferece. Somos desafiados pelo evangelho a ter o coração hospitaleiro de Maria e as mãos laboriosas de Marta.
            As leituras (deste domingo) nos convidam à abertura ao projeto de Deus e à hospitalidade, atitudes que revelam a presença do Senhor em nossa vida.
            A hospitalidade de Abraão é retribuída com a promessa do nascimento do filho. Acolher Jesus e sua proposta de vida é o melhor que podemos fazer. O evangelizador enfrenta com otimismo e esperança o sofrimento decorrente do empenho pelo bem da comunidade. A celebração eucarística também é uma ação de hospitalidade na qual Deus nos acolhe e nós acolhemos a Cristo e dele nos alimentamos.
            Um grande mal em nossa sociedade, e também na Igreja, é o ativismo, a falta de disposição para aprofundar o essencial, sob o pretexto de tarefas urgentes.
            Jesus é um exemplo para todos nós. Sua pessoa está prioritária e permanentemente focada no modo de ser do Pai. Pelo hábito desta escuta é que ele desenvolveu uma atitude de serena e saudável acolhida de tudo e de todos. É a partir daí que Jesus observa a Marta que ela anda ocupada e preocupada com muitas coisas, enquanto uma só é necessária. Essa observação não é uma recusa da hospitalidade, mas indica uma escala de valores: a melhor parte é a que Maria escolheu! O que esta faz é fundamental e indispensável: escutar. O resto (as correrias pastorais, as reuniões) é importante, mas deve ter fundamento no escutar. Jesus censura Marta não porque ela cuida da cozinha, mas porque quer tirar Maria do escutar, para fazê-la entrar no ritmo de suas próprias ocupações. Marta não conhecia a escala de valores de Jesus.
            Podemos perceber, através da Carta aos Colossenses de hoje, que foi da identificação profunda com Cristo que Paulo tirou a força para seu surpreendente apostolado. Gente ocupada é o que menos falta. Mas sabemos muito bem que toda essa ocupação não tira em torno daquilo que é fundamental. Dá até pena de ver certas pessoas complicarem sua vida com mil coisas de que dizem que simplificam a vida. Ao lado delas encontramos o pobre, o lavrador, o índio, vivendo uma vida simples, mas com muito mais conteúdo e, sobretudo, com um coração sensível e solidário.
            A exemplo do nosso mestre Jesus, importa acolher (a Deus, a Jesus, aos outros) em primeiro lugar no coração. Só então as demais ações terão sentido. Isso vale na vida pessoal e também na vida comunitária. Comunidades que giram exclusivamente em torno de preocupações e reivindicações materiais acabam esvaziando-se, caem em brigas de personalismo e ambição. Mas comunidades que primeiro acolhem com carinho a palavra de Jesus num coração disposto saberão desenvolver os projetos certos e por a palavra de Jesus em prática. Buscai primeiro o Reino de Deus.
            Que Deus nos ajude a vivermos este espírito do Evangelho trazido por Jesus. Que pela força da Eucaristia, na qual o Pai nos acolhe como corpo eclesial de Cristo, possamos viver a atitude de Maria para que, empenhados como Marta, mas conectados ao único e necessário, que é Palavra reveladora do Pai, trabalhemos com serenidade e paz pelo bem da humanidade.
            A Palavra de Deus deste domingo nos coloca diante da Hospitalidade e de nossa Espiritualidade Eclesial: Ministros Ordenados, Agentes de Pastoral, nossas Comunidades são reconhecidos como bons cristãos por causa da hospitalidade e da espiritualidade ou por causa das intermináveis atividades, como construções materiais? Como é linda a Leitura Orante da Palavra que iniciam nossas reuniões, nossos encontros e atividades! O Padre Pitico nos tem incentivado a ouvirmos antes de tudo o que a Palavra de Deus (em outras palavras, o próprio Mestre Jesus) tem a nos dizer!?! Não poucas vezes nos envolvemos com atividades que nem nos dizem respeito como: decoração de Templos, coordenação de Quermesses, sempre preocupados em arrecadar recursos financeiros para a manutenção de nossas Paróquias, que deveriam ser tarefas dos Conselhos constituídos e não dos Presbíteros. O que não podemos jamais deixar de lado, é a mais rica espiritualidade na administração dos Sacramentos que só os Ministros ordenados podem presidir: a Reconciliação, Unção dos Enfermos e a Celebração Eucarística. Para todas as demais atividades, podemos formar Líderes de Lideranças em nossas Comunidades. E que também esses desempenhem suas atividades pastorais e sociais, sempre e cada vez mais à luz da escuta de Jesus, como fez Maria, escolhendo assim a melhor parte.
            Finalmente poderíamos nos perguntar: sendo o tempo uma questão de prioridade, quais são nossas prioridades no hodierno do exercício de nossa missão eclesial e do nosso ministério? Rezamos o suficiente todos os dias? Somos fiéis, sentados aos pés de Jesus, e justos, em nossas decisões? Nossas Comunidades rezam ou cozinham melhor? Se é que sabem o que pretendo refletir, a começar de meu próprio ministério?
            Sejam muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Gn 18,1-10; Sl 14 (15); Cl 1,24-28 e Lc 10,38-42).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 58-60 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 63-68.