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quarta-feira, 6 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Contemplai, justificado, a vossa face;
e sereis saciados quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15).

            Deus se fez próximo de nós. Revelou-se profundamente humano. Misericordioso, isto é: coração totalmente voltado para o mísero (=misericordioso). Tão próximo de nós que, na pessoa de seu filho Jesus, podemos afirmar: Só Deus é humano. Porque Deus é assim, é que nos reunimos no Dia do Senhor, o Domingo: para dele assimilarmos o verdadeiro espírito de humanidade. Tanto sua Palavra como o exemplo de doação, representado pelo Corpo entregue e pelo Sangue derramado de Jesus – agora sob as espécies de pão e vinho -, são para nós a principal fonte de aprendizado do que significa ser humano, profundamente humano, a fim de que todos tenham vida, e vida em abundância.
            Imagem de Deus e revelador do rosto misericordioso do Pai, Jesus neste domingo nos mostra o caminho da vida eterna: não só conhecer os mandamentos, mas também vivenciá-los, assumindo as atitudes do bom samaritano. A Eucaristia deste domingo abra nosso coração à misericórdia e à compaixão para com as pessoas caídas à beira do caminho.
            A Palavra de Deus está ao nosso alcance: não é proposta muito difícil de ser assumida e vivida, pois requer apenas o amor para se transformar em gesto de misericórdia. Vamos acolhê-la no coração, para que nos torne próximos de toda pessoa necessitada.
            A vivência do mandamento de Deus não está fora de nossas possibilidades. O autêntico amor nos torna próximos dos pobres e sofredores. Jesus Cristo é a plenitude do divino no humano. Cristo, o bom samaritano, faz-se mais próximo de nós, tornando-se nosso alimento e revelando o amor misericordioso do Pai celeste.
            Quem faz a experiência de estar mais próximo de Deus ou, inversamente, faz a experiência de sentir Deus mais próximo de si? Aquele e aquela – seja lá quem for; não importando raça ou religião – que se faz próximo do humano, e do humano mais arrebentado. O próprio Jesus, por sua vida, morte-ressurreição e dom do Espírito, viveu e vive esta experiência vital divinamente. E pensar que nós somos discípulos e discípulas dele!...
            Jesus não respondeu diretamente ao mestre da lei, porque a questão não é descobrir quem é e quem não é próximo. Coração generoso se torna próximo de qualquer um que precisa; a melhor maneira de ter amigos é ser amigo. A questão também não é teórica, mas prática. Na prática esquecemos a parábola de Jesus e fazemos como o sacerdote e o levita: afastamo-nos do necessitado, mesmo se pertence à nossa comunidade, e não nos aproximamos dele. Tornar-se próximo é ser solidário. Somos solidários com os que vivem na margem da estrada de nossa sociedade? Mesmo quando damos uma esmola a um coitado, não é para nos desviarmos dele? Vai e faze a mesma coisa... Imitar o samaritano exige solidariedade, assumir a vida do outro, não se livrar dele. Torná-lo um irmão, pois este é o sentido verdadeiro da palavra próximo. Só assim podemos fazer a mais verdadeira experiência de Deus, senti-lo próximo de nós e sentir-nos próximos dele.
            Existem Bispos e Padres que, no final da Missa, costumam dirigir-se à porta da Igreja para cumprimentar pessoalmente as pessoas que vão saindo, desejando-lhes um bom domingo, uma ótima semana, bênçãos para a família, para o trabalho, para os estudos etc. Afinal, a celebração continua também na vida... Assim se estabelecem laços afetivos e de aproximação entre o pastor e os fiéis, e entre os próprios fiéis entre si. Se houver possibilidade, é aconselhável e pastoralmente muito eficiente, que se adote tal procedimento nas comunidades.
            A Reitoria da Igreja Santo Antoninho é pequenina. Costumo omitir o Abraço da Paz após a Oração do Pai Nosso. Sempre achei aquele momento inoportuno e de certa forma, um tanto forçado, quando não falso. Prefiro deixá-lo para o final da Missa. Até porque valorizo muito os momentos de “silêncio para interiorização pessoal”: no Rito Penitencial, após as Leituras Proclamadas, após a Homilia, no Momento indicado para o Abraço da Paz e após a Comunhão. Quando cheguei, há mais de oito anos, o Povo que frequenta nossa amada Igrejinha, aproveitava para colocar as novidades em dia. Mais parecia uma feira do que um Templo. Sugeri que antes das Missas haja silêncio no interior da Igreja. As saudações de chegada acontecem fora da Igreja, no Átrio. Colocamos um fundo musical, permitindo a oportunidade das pessoas prepararem-se bem para a Celebração. Já no canto da dispersão, ao final das celebrações, todos se abraçam e desejam-se mutuamente a paz. Este sim parece ser um abraço espontâneo, verdadeiro. Eu fico à porta da saída e quem deseja passa por mim e também nos abraçamos desejando-nos todo bem e toda paz. As pessoas gostam e cobram quando isso não é possível. É, também, compreensível que nem sempre tal gesto é possível. No meu caso funciona bem, por sermos poucos. Praticamente todos se conhecem, o que enriquece ainda mais a celebração. Celebramos próximos uns dos outros, quase que “apertando-nos” na pequenina Santo Antoninho!
            Finalmente, a Palavra de Deus deste Décimo Quinto Domingo Comum nos propõe o “próximo” à luz da Parábola do Bom Samaritano! Trata-se de um “Próximo machucado, surrado, enxotado, incompreendido, engolido pelas drogas e alcoolismo, desemprego, abandono famíliar, envelhecido, enfermo mal servido, proveniente de famílias desestruturadas”. Nossas comunidades são realmente configuradas com o Bom Samaritano? Ou nos identificamos mais com o sacerdote e o levita que olham para o machucado e saem correndo para o mero cumprimento de seus preceitos e compromissos outros? Confesso que não consigo entender a presença real de Jesus Cristo no coração de um presbítero que não cumprimenta seu irmão por bobagens, ou até mesmo questões mais sérias. Já imaginaram um Sacerdote concelebrando com seu “próximo” virando-lhe a cara? Como um coração desses terá lugar para Jesus, se sua misericórdia não consegue acolher um simples irmão nem mais e nem menos importante; nem melhor e muito menos pior do que o próprio arrogante e prepotente “juiz não constituído pelo Evangelho” deste domingo do Bom Samaritano? E isso se estende também às nossas Comunidades: Pastorais, Movimentos, Serviços, Comissões, Conselhos que realizam obras magníficas para serem vistas pelos outros, mas além de excluir os que vivem em “situações irregulares ou desumanas”, ainda pisam sobre eles e os difamam? Que não deixemos escorrer pelas mãos esta rica oportunidade de conversão, coerência e bom sendo, fazendo em nossas relações humanas a experiência da mais verdadeira misericórdia!
            Desejando-lhes bênçãos e paz, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Dt 30,10-14; Sl 68(69); Cl 1,15-20 e Lc 10,25-37).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 41-44 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 57-62.