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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

UM MENINO ENVOLTO EM FAIXAS NUMA MANJEDOURA


Pe. Gilberto Kasper

 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

            “Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala” (Lc 2,6-7).

            Maria envolveu o menino com faixas. Sentimentalismos à parte, podemos imaginar o amor com que Maria aguardava a sua hora e terá preparado o nascimento do seu Filho. A tradição dos ícones, com base na teologia dos Padres, interpretou teologicamente também a manjedoura e as faixas. O menino rigorosamente envolvido com faixas aparece como uma alusão antecipada à hora da sua morte: Jesus é desde o início o Imolado. Por isso, a manjedoura era representada como uma espécie de altar.

            Segundo Agostinho, a manjedoura é o lugar onde os animais encontram o seu alimento. Agora, porém, jaz na manjedoura Aquele que havia de apresentar-Se a Si mesmo como o verdadeiro pão descido do céu, como verdadeiro alimento de que o homem necessita para ser pessoa humana.

            O evangelista Lucas narra que Maria, depois da alusão do anjo à gravidez da sua parenta Isabel, se dirigiu “apressadamente” para a cidade de Judá, onde viviam Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,39). Os pastores foram apressadamente, com certeza movidos pela curiosidade humana, ou seja, para ver o prodígio que lhes fora anunciado; mas seguramente sentiam-se também cheios de ardor devido à alegria neles gerada pelo fato de agora ter nascido verdadeiramente o Salvador, o Messias, o Senhor, de quem tudo estava à espera, e eles seriam os primeiros a poderem vê-LO.

            E quantos cristãos se apressam hoje quando se trata das coisas de Deus? E, no entanto, se há algo que mereça pressa – talvez o evangelista nos queira dizer tacitamente isso mesmo -, são precisamente as coisas de Deus.

            Aos pastores, o anjo tinha indicado como sinal que iriam encontrar um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura. A pobreza de Deus é o seu verdadeiro sinal (cf. Bento XVI. A Infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012, pp. 59ss – livre interpretação).

            Celebrar o Natal em que terminamos o Ano da Fé, em que sediamos a Jornada Mundial da Juventude e recebemos a primeira viagem do Santo Padre o Papa Francisco, também somos convidados a identificar o sinal da presença amorosa de Deus entre nós. Não se trata de correr apressadamente a um estábulo em busca de um menino envolvo em faixas reclinado numa manjedoura. Mas poderemos encontrar na manjedoura, isto é, na pobreza do nascimento de Jesus, o grande sentido de celebrarmos tal evento de nossa fé, em que misteriosamente se realiza a redenção dos homens.

            É compreensível que as pessoas simples que crêem no evento do Natal ouçam o cantar também dos pastores e, na Noite Santa, se juntem às melodias, desde então, em Belém, até o fim dos tempos, exprimindo a todos com o canto a grande alegria, de que Deus, continua sendo reconhecido em Sua pobreza, no semblante de todos que o celebram à luz da fé, desde a intimidade de seus corações!
            “Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz ao nosso caminho. E que esta luz da fé cresça sempre em nós, até chegar aquele dia sem ocaso, que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor” (Papa Francisco in Lumen Fidei, p. 61). Que este Natal seja o mais abençoado e cheio da ternura de Deus para todos!