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terça-feira, 25 de setembro de 2012

O SER HUMANO É NATURALMENTE RELIGIOSO


O SER HUMANO É NATURALMENTE RELIGIOSO 

Pe. Gilberto Kasper
 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

                De fato a história universal registra, independente da cultura e do lugar, que todos os povos tinham e tem religião. E, mais ainda, a religião está na base de sua vida. Quem a recalca, segundo pesquisa de Georg Siegmund, risca anormalidade. É o que já Santo Agostinho sentenciara: “Fizestes-nos para Vós, Senhor, e nosso coração está irrequieto enquanto não repousar em Vós”.

            Depois da implosão da União Soviética, cujo ateísmo militante proibia qualquer expressão religiosa, verificou-se o estranho fenômeno de jovens, que antes não tinham a menor ideia de religião, acorrerem aos mananciais do Evangelho. Reconhecem-se subitamente “agarrados por Deus”. São pessoas que cresceram num ambiente asséptico de todo germe da religião. De repente, porém, tiveram a certeza absoluta a existência de Deus, não como uma teoria, mas como Alguém que os atinge de perto.

            O ser humano tem indubitavelmente uma dimensão transcendente. Desde os tempos mais remotos tentou vincular-se com a divindade. Crê em Deus e o acolhe, no dizer de Santo Agostinho, como mais íntimo que ele mesmo. Reconhece-o como seu Supremo Bem, colocando-o na origem e no destino de sua vida.

            O cristianismo veio reforçar essa tendência mostrando-a como uma ação divina em nós. E, mais ainda, anuncia que o próprio Deus, na pessoa de seu filho, se fez homem. Veio habitar entre nós. Conhecemo-lo com o nome de Jesus Cristo. Essa encarnação de Deus elevou a dignidade humana ao mais alto grau, coroado com um Deus ainda mais excelso de filhos de Deus pelo batismo. Deus se solidarizou conosco. Jesus garante que tudo o que se fizer ao menor de seus irmãos é feito a Ele, o que equivale a dizer que dele receberá a recompensa. Falamos de uma ordem sobrenatural, que se situa no campo da graça. Todos nós participamos da plenitude da graça e da verdade de Cristo.

            Temos, pois, a certeza de que o ser humano se compõe de matéria – foi tirado do barro e, por isso, como se costuma dizer, é de carne e osso – e de espírito – recebeu o sopro divino. É um organismo vivo pensante. Sintetiza, em seu ser humano, os três degraus da vida: vegetativa, sensitiva e intelectiva, acrescidos da graça divina. Desenvolve por isso quatro atividades: uma orgânica, assimilando alimentos, outra psicológica, expressando sentimentos, a terceira espiritual, pelo conhecimento intelectivo e pela vontade livre, a quarta sobrenatural, pelas virtudes infusas da fé, da esperança e da caridade.
            Soa ainda hoje a exortação, que vem desde Tertuliano: “Cristão, reconhece tua dignidade!” Não menos incisivo é o imperativo socrático: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. De fato, não basta existir. Não se consegue viver plenamente sem reconhecer o que nos torna humanos. O ser humano é, sim, matéria, mas matéria orgânica pensante e amante. Ele é capaz de Deus e de acolher o universo, conhecendo-o. Mas também se sente conhecido e amado e assumido por Deus e por muitos irmãos.