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terça-feira, 18 de setembro de 2012

A FIGUEIRA QUE QUERIA SER CRUZ


Foto: K2 Imagens.
 
 
A FIGUEIRA QUE QUERIA SER CRUZ 

“É como decifrar sinais sem ser sábio competente...” 

                                                                                Violeta Parra 

Em Marcos 11: 12 – 14, existiu uma figueira coberta de folhagens, em direção a qual Jesus se dirigiu para ver se acharia algum fruto. Mas nada encontrou senão folhas, pois não era tempo de figo. Dirigindo-se à árvore, Jesus disse: “Ninguém jamais coma do teu fruto”.

E ninguém mais comeu, e nem comeria,  dos frutos físicos dessa figueira.

Mas naquela época, ninguém percebeu uma pequena Pomba Branca, a mesma que apareceu no batismo do Cristo — segundo o famoso quadro de Verrocchio, Leonardo da Vinci e Botticelli — fugindo com uma única semente no bico.

E o tempo passou.

E como não poderia deixar de ser, Jesus, depois de tanta insistência do Espírito Santo, resolveu perdoar a figueira, mas não de todo: deu autorização divina à pombinha branca que procurasse por um local adequado para nele deixar a semente com mais de dois mil anos, mas ela não deveria dar frutos pois palavra de Deus não volta atrás.

Ora, o local adequado para acolher semente tão preciosa só poderia ser a torre de uma igreja.

A Pomba Branca chegou a sobrevoar a Catedral de uma grande capital do Brasil — para agradar a Deus, que dizem , é brasileiro — mas acabou vindo parar em Ribeirão Preto, mais precisamente na avenida da Saudade. E numa torre simples, antiga, mas que abriga a seus pés muitas histórias de amor e fraternidade,  a Ave construiu  seu ninho e nele depositou, sem alardes, a semente.

E a semente se fez arbusto antes do final dos tempos previsto pelos Maias para dezembro de 2012.

Mas sabemos que é da natureza da figueira dar frutos.

E a semente, agora jovem figueira,  silenciosamente, autorizada pelo Pai, encontrou uma forma de “burlar” a ordem do Filho: dia a dia, entrelaçou suas raízes em forma de cruz, ao invés de entrelaçar galhos e parecer acintosa diante do Criador.

Para não destruir parte do Templo, ofereceu-se novamente em holocausto nas mãos dos bombeiros, homens que salvam vidas.

Mas dessa vez, não secou, e de forma poética, no momento em que o inverno se fazia primavera, voltou a dar frutos, um pão espiritual oferecido aos pobres da Santo Antoninho, em forma de cruz  entronizada.
 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO


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