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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

HOMILIA PARA O 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM DE 2012


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “Estamos no 23º Domingo do Tempo Comum. Com o intuito de uma interação sempre maior entre a Palavra e a Eucaristia, as duas mesas que constituem um só ato de culto, é que propomos a reflexão da liturgia deste final de semana. Neste Ano B, em que acompanhamos o Evangelho de Marcos, a Palavra  nos propõe um encontro com aquele que anunciou e mostrou presente o Reino de Deus, por suas ações e ensinamentos: Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem. [...]

            O refrão: ‘Ide pelo mundo, e proclamai a Boa Nova a toda criatura!’, que sintetiza a tarefa principal do missionário e discípulo descrito em Marcos, acompanhado do Salmo 145(146), foi o escolhido para a Celebração de minha Ordenação Presbiteral há quase 23 anos.  Canta-lo neste domingo, remete minha profunda saudade àquela manhã, em que fui ordenado Presbítero para sempre. Tenho procurado viver com fidelidade, não obstante meus incontáveis limites, a missionariedade e o discipulado, sob meu lema sacerdotal: ‘Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7).’ [...]

            Sabendo que a liturgia ‘não esgota toda a ação da Igreja’ (SC, n.9), mas é seu cume e fonte (SC, n.10), importa também, que, especialmente neste Mês da Bíblia, nos empenhemos, pessoal e comunitariamente, para um encontro com Cristo na Palavra. Como nos dizem os bispos reunidos em Aparecida: ‘A Palavra de Deus não são meras palavras. A Palavra é uma pessoa que fala e fala a outra pessoa. E, por ser pessoa, busca estabelecer uma relação...’ (Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja, Documentos da CNBB, n.97, introdução).

            A atividade de Jesus em território pagão realça a universalidade da sua missão. Marcos assim destaca que Jesus veio para comunicar a vida a todas as pessoas, abolindo a distinção entre povos impuros e povo puro.

            O gesto da imposição das mãos, solicitado pelos que trouxeram o homem surdo, era um gesto familiar a Cristo e de uso tradicional para a transmissão de poder e autoridade, para a transmissão de bênçãos. Os que trouxeram o enfermo pensavam, pois, que esse gesto fosse essencial para a cura. Jesus, apartando-se da multidão com o surdo-mudo, queria muito provavelmente evitar qualquer mal-entendido de cunho messiânico. Jesus colocou os dedos em seus ouvidos, como que indicando que ia abri-los, e, cuspindo, com a saliva tocou a língua dele. Vale lembrar que, na antiguidade, a saliva era considerada remédio medicinal. Os gestos e os toques de Jesus vão despertando, excitando a fé daquele homem, preparando-o para o que vai realizar (ver Is 50,4-5). Antes da palavra de ordem para a cura, Jesus, olhando para o céu suspirou, assim indicando que a cura que haveria de seguir era obra do Pai, a fonte de todo o bem. Depois de sua oração silenciosa, ordenou a cura: abre-te (efatá)! ‘Imediatamente seus ouvidos se abriram e sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade’. Uma vez que Marcos não se refere nem à possessão, nem a algum espírito, como faz em tantos outros casos, é bem provável que se tratasse de um defeito natural. Cristo, consciente de que realizava o plano do Pai e não buscava ‘atrair os holofotes’ sobre si mesmo, além de afastar-se da multidão para realizar a cura, recomenda insistentemente que não o digam a ninguém. Marcos evoca Isaías, lembrando que Jesus havia feito os surdos ouvirem e os mudos falarem. Foi Jesus mesmo que, interrogado pelos mensageiros do Batista se ele era o Messias, deu exatamente essa resposta (cf. Mt 11,1-6; Lc 7,18-23).

            Quando os israelitas exilados encontravam-se desanimados e abatidos, o profeta oferece-lhes um oráculo de esperanças e de reconforto: ‘Coragem! Não temais! O vosso Deus vem para vos salvar!” (v.4). Segundo o profeta, Deus está para entrar em ação em favor deles. Com Jesus tem início o cumprimento dessas promessas messiânicas. Num tempo em que a falta de sentido, a desesperança, a depressão campeiam inexoravelmente, cada cristão em particular, nossas comunidades em uníssono devem oferecer uma mensagem de alento, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados; testemunhando ao mundo que Deus, nosso Pai, cuida de todos como seus filhos e filhas.

            As injustiças e desigualdades que verificamos constantemente em nossa sociedade, as quais, muitas vezes, são banalizadas, jamais poderão ser aceitáveis no seio das comunidades cristãs (2ª leitura). Os preconceitos discriminatórios, praticados dentro das comunidades cristãs, constituem pecados graves que precisam ser extirpados, uma vez que estas foram constituídas justamente para serem um sinal de esperança para os empobrecidos e marginalizados.

            Redimidos e adotados como filhos e filhas, esperamos pela fé em Jesus Cristo, de nosso bondoso Pai, a verdadeira liberdade e a herança eterna. Jesus Cristo em sua atividade provoca a admiração das pessoas, porque faz bem todas as coisas.

            Alimentados e fortalecidos pela Palavra e pelo Pão, dons de Jesus Cristo, esperamos viver com ele para sempre. Esperamos ainda que a nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os laços da amizade.

            Vejamos o que mais, em nossa comunidade, podemos fomentar em termos de estudo e celebração em torno da Palavra de Deus” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 23, pp. 15-20).

            Não basta celebrarmos uma liturgia bem preparada. Não basta contarmos com uma multidão de fiéis em nossas celebrações, que saem das mesmas tão vazias como nelas entraram. Há até mesmo quem se satisfaz em ver seu Templo lotado de fiéis em busca de gestos espetaculosos, como curas emocionais, geralmente equivocadas, quando não enganosas. A surdes e a mudes continuarão reinando em nosso mundo tão oco de Deus. É necessário e urgente, anunciar o espetacular, e este se chama ninguém, a não ser Jesus Cristo, Deus de Amor no meio de nós! O grande e único milagre do “efatá” já aconteceu a todo aquele que se digna chamar-se cristão: é aberto ao anúncio do Reino de Deus, que é um Reino de Amor, Verdade, Justiça, Liberdade e de Paz! Só quem acolhe Jesus na pessoa do outro, mesmo surdo, mudo, cego, coxo, pobre e marginalizado, porque diferente das convenções de uma sociedade consumista e hipócrita e de comunidades que se desfiguram do verdadeiro cristianismo, compreende sua missão e seu discipulado nos dias atuais!

            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Is 35,4-7; Sl 145(146); Tg 2,1-5 e Mc 7,31-37)