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quarta-feira, 19 de abril de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA

Domingo da Divina Misericórdia

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            O Segundo Domingo do Tempo Pascal nos introduz no Tempo em que celebramos a ressurreição do Senhor, como único e grande dia, que se estende desde o Domingo da Páscoa ao domingo de Pentecostes. “Os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (Normas Universais ao Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral, n. 22).
            Celebramos o domingo da Divina Misericórdia, instituído por São João Paulo II, canonizado ao lado de São João XXIII, O Papa Bom. Damos graças ao Senhor por tão amados intercessores junto de Deus, bem como por seu eterno amor por nós, disposto a nos perdoar, sempre que nosso coração arrependido volta-se para ele.  Escolhi como lema de minha Ordenação Presbiteral, a quinta Bem-aventurança do Sermão da Montanha de Jesus: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7), justamente porque não obstante meus incontáveis limites, o Senhor me quis Sacerdote, tamanha Sua Misericórdia por mim! Como Tomé, exclamamos maravilhados: “Meu Senhor e meu Deus”.  Desde criança aprendi que a profissão da fé de Tomé seria a ideal, cada vez que fizesse a genuflexão diante do Cristo Sacramentado, seja na Hóstia Consagrada exposta, seja escondida no Sacrário. Por isso, quando coloco o joelho direito no chão, em sinal de adoração ao Senhor presente no mistério de nossa Fé, a Eucaristia, digo com a poesia de meu coração: “Meu Senhor e meu Deus”. Também quando ergo Jesus transubstanciado de um pedacinho de pão em Seu Corpo e de um pouquinho de vinho no Seu precioso Sangue, meu coração remete aos meus lábios a mesma expressão: “Meu Senhor e meu Deus!”.
O primeiro encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos é marcado pela saudação feita por Ele: “A paz esteja convosco’” Por duas vezes o Ressuscitado deseja a paz a seus amigos. Em seguida, os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Buscar e construir a paz é missão dos seguidores do Ressuscitado, pois o Reino de Deus, anunciado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz. Reino de Justiça, Paz e Alegria como frutos do Espírito Santo. O Apóstolo, amigo de Jesus, ressalta que a paz, para ser autêntica, deve ser trazida pelo Cristo. Uma paz diferente da paz construída pelos tratados políticos. Paz (é shalom) significa integridade da pessoa diante de Deus e dos irmãos. Significa também uma vida plena, feliz e abundante. Paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da Paz” (Rm 15,33). Paz significa muito mais do que ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo o necessário para viver, convivendo felizes.
            A comunidade, que abre suas portas, acolhe o Senhor e o segue é enviada pelo Espírito do Ressuscitado a testemunhar o amor do Pai, isto é, a prolongar, no curso dos tempos, a oferta da vida que, em Jesus, Deus fez à humanidade. O reino da vida que Cristo veio trazer é incompatível com as situações desumanas em que vivem mergulhados milhões de seres humanos. “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e a anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade” (Documento de Aparecida, n. 134).
            O cristão isolado (ausente da comunidade) é vítima do egoísmo e exige provas para crer. É na vida da comunidade que encontramos as provas de Jesus que está vivo. Ser cristão, hoje, requer e significa pertencer a uma comunidade concreta, na qual se pode viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão. Por esta razão, a marca registrada deste Segundo Domingo da Páscoa é a , vivida em comunidade. É em comunidade que se realiza o encontro com o Ressuscitado e a experiência de uma vida nova.
            No tempo da Páscoa, a comunidade cristã tem a oportunidade de aprofundar o evento da salvação, cuja memória desponta de modo pungente na liturgia desse tempo.
            Convém chamar a atenção para o fato de que a vida nova não está isenta de dificuldades. O cristão não é tirado do mundo pelos sacramentos que celebra, mas situado nele de uma maneira especial: como comunidade que aponta e evoca uma realidade nova, mostrando aos demais que a salvação alcançada em Cristo se realiza e se prolonga naqueles que aderem a Ele (). Pela comunhão com os irmãos, pela promoção da justiça e da libertação, pelo cultivo de utopias e esperanças de vida e de inclusão, a comunidade dos fiéis torna-se sinal da Páscoa, sinal da vida nova que Deus quer e preparou para todos. É possível enumerar vários acontecimentos que confirmam a convivência entre a realidade e a realização da Páscoa e os fatos e situações que indicam a direção contrária: violência, medo, fome, miséria, desastres, corrupção e maldade de todo tipo. Contudo, o fiel é chamado a ver além e através dessas realidades: a vitória de Cristo sobre a morte é também vitória sobre o pecado do mundo e seus efeitos. Os males que atravessam a nossa existência se tornam para os que veem, pela fé, sinais da realidade maior e melhor.
            Em tempos de ofertas religiosas de mercado, os espetáculos e as manifestações milagreiras tendem a desenraizar a experiência de Deus. Valem as “curas”, os choros, os arrepios, as emoções movidas por supostas adivinhações ou “revelações” misteriosas. Ninguém olha para as próprias feridas e para as feridas alheias para reconhecer a vida secreta que nelas habita. Os obstáculos e desafios não servem mais para fortalecer e serem abraçados como cruz do discipulado. São evitados. Se aceita a indiferença, sem qualquer perspectiva de solidariedade, de profetismo, de luta em vista de uma transformação. A Páscoa nos convida para algo mais: para a luz que brilha na noite, para a palavra que recria, para vida que emerge das águas, para o pão que cria vida ao ser partido. A fé está enraizada na vida; na existência faz seu húmus. A ressurreição eleva aquilo que a encarnação assumiu.
            Acolhamos o dom da paz e do Espírito que nos constitui em artífices de relações novas, reconciliadas e fundadas na justiça e na misericórdia.
            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9 e Jo 20,19-31).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2017, pp. 101-104 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Pascal (Abril de 2017), pp. 37-42.