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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2012 E SEUS OBJETIVOS


Pe. Gilberto Kasper

 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. 

            A Campanha da Fraternidade de 2012 com o tema: Fraternidade e a Saúde Pública e o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo 38,8) aborda o tema da saúde, conforme os seguintes objetivos.

            Objetivo Geral: Refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde.

            Objetivos Específicos: Disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de hábitos de vida saudável; sensibilizar as pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a integração na comunidade; alertar para a importância da organização da Pastoral da Saúde nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde ela já existe; difundir dados sobre a realidade da saúde no Brasil e seus desafios, como a estreita relação com os aspectos sócio-culturais de nossa sociedade; despertar nas comunidades a discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação do seu justo financiamento e qualificar a comunidade para acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos públicos com transparência, especialmente na saúde.

            A Campanha da Fraternidade é um dos marcantes sinais de unidade e comunhão da Igreja no Brasil. De Sul a Norte, canta-se o mesmo Hino especialmente composto para o evento e vê-se espalhado o  mesmo Cartaz. Mas o maior sinal da comunhão e unidade é a proposta discutida nas diferentes realidades com o mesmo propósito a ser alcançado. Isto é simplesmente maravilhoso, já que de cada Campanha da Fraternidade surgem inúmeras iniciativas de promoção da dignidade da pessoa na sociedade tão surrada pela Cultura da Sobrevivência de nosso País, marcado pelos mais altos impostos cobrados no mundo, e pela falta de ética nas “coisas públicas” enaltecendo políticas de corrupção de governo a governo, cada um a seu modo, o mais diabólico escancarado em estatísticas falsas e promessas não cumpridas. Basta ver hospitais e unidades básicas de saúde bem como ambulâncias abandonas nos recônditos do interior de nosso rico Brasil.

            Mas a Campanha da Fraternidade não nos deixa perder a esperança de um mundo mais humano e digno para todos: “A alegria do encontro retratado no cartaz recorda aos profissionais da saúde que foram escolhidos para atualizarem a atitude do Bom Samaritano em relação aos enfermos. E, mobiliza os gestores do sistema de Saúde Pública no empenho de possibilitar um atendimento digno e saúde para todos. E, que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Texto Base da CF/2012 pp. 12 e 154).
            Na Quarta-Feira de Cinzas, que inicia o rico Tempo da Quaresma que prepara a principal festa dos cristãos, a Páscoa do Senhor, é lançada a Campanha da Fraternidade em todas as Comunidades do Brasil. Em nossa Igreja Santo Antoninho, o lançamento será às 19 horas com a Imposição das Cinzas sobre nossas cabeças, durante a Celebração Eucarística.

O MUNDO ESTÁ ENFERMO
            Para este ano de 2012 a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, preparou uma belíssima Campanha da Fraternidade com o tema: FRATERNIDADE E SAÚDE PÚBLICA e o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). Espero uma riqueza ímpar de aprofundadas reflexões sobre tal tema, já que não tenho dúvidas de que O Mundo está enfermo!
            Nas visitas aos Postos de Saúde Pública tenho conversado muito com nossos servidores e servidoras. Sinto um esforço sobrenatural para um bom atendimento. Encontro homens e mulheres vocacionados ao serviço “sacerdotal” da saúde, embora entre esses, se encontre também pessoas cansadas, exaustas e por conseguinte mal-humoradas. Em minhas observações percebo  não raras vezes cidadãos mal educados e sem paciência, quando não grosseiros e agressivos. Costumamos criticar nossos servidores e, com razão em alguns casos. Mas somos o “País das Filas” e nem por último campeões em “furar filas”. A pior das enfermidades de nosso povo é a falta de educação básica. Tratamos mal por conta de inúmeros escândalos na Saúde Pública, muitas pessoas que não têm culpa de mais um dos nossos Sistemas Corruptos, principalmente o desvio de verbas destinadas à Saúde e que acabam em contas bancárias fantasmas sabe Deus de quem!
            Sinto-me profundamente envergonhado quando solicitado a usar de meu prestígio junto às autoridades competentes, para resolver o que deveria ocorrer normalmente. Dezenas de vezes fui procurado para interceder junto a pessoas mal atendidas, e que talvez sofressem mais, caso não tivessem o adequado atendimento: pessoas em pé durante quatro horas, sem serem atendidas; pessoas com derrame cerebral aguardando leito adequado em algum Hospital, atendidas em macas nos corredores de Postos de Saúde, tendo também eu que esperar mais de duas horas para atender sacramentalmente pacientes esquecidos em salas de Raio X. Essa é nossa realidade. Mesmo assim, penso que todo cidadão é chamado a colaborar com educação e paciência exercendo sua cidadania sem agressividade. Não poucas vezes atribuímos a culpa às pessoas que sofrem tanto como nós, porque submetidos a um Sistema Único de Saúde – SUS mal administrado e menos ainda preparado para atender O Mundo que está enfermo!
            Nos Hospitais Particulares e que atendem por conta de elevados Convênios, a situação não é muito diferente. Assisto a cada situação que me leva a pergunta ao coração: “Será que este e aquele Hospital tem noção clara de que está tratando de gente? Animais têm tratamentos mais humanos e humanos estão sendo animalizados!”
            Ao invés de tentar resolver nossas necessidades com o tal “jeitinho brasileiro”, que nos torna egoístas, porque resolvido nosso problema, viramos as costas sem pensar nos outros, saibamos exercer uma cidadania comum, onde todos, sem excluir ninguém, tenham atendimento digno de seres humanos! Haja uma prestação de contas mais transparente, demonstrando onde são realmente aplicados os recursos destinados à Saúde Pública. Dinheiro temos, até para socorrer o Fundo Monetário Internacional. Em ano de eleições, corremos o risco de ver recursos da Saúde se transformar em asfalto de péssima qualidade ou em pinturas com tintas que não duram mais do que quatro anos.

Padre Gilberto Kasper