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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

QUARTA-FEIRA DE CINZAS: INÍCIO DA QUARESMA

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista

               A Quarta-Feira de Cinzas inicia na Igreja um período de quarenta dias de preparação à principal Festa dos Cristãos: A Páscoa do Senhor!  Daí o nome: QUARESMA! É um tempo muito rico e que nos propõe alguns exercícios penitenciais, que visam melhorar nossa qualidade de vida, como cristãos, filhos de Deus e irmãos uns dos outros. A Quaresma vai da Quarta-Feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, exclusive. A Igreja prescreve tanto para a Quarta-Feira de Cinzas, como para a Sexta-Feira Santa um Dia de Jejum e Abstinência o que não significa que ao longo deste tempo não se façam tais ou outros exercícios que nos levem a uma maior solidariedade e fraternidade para com os mais pobres.
              
Os exercícios quaresmais de penitência são: a oração, o jejum e a esmola! Os cristãos são chamados a aprimorar a qualidade de sua relação com Deus através de maior tempo de recolhimento e oração, na meditação da Palavra e na escuta da vontade de Deus para com a humanidade; a aprimorar a qualidade de sua relação consigo mesmos através do jejum e a aprimorar a qualidade de sua relação com os irmãos menos favorecidos, através da esmola, que melhor soaria como partilha!
               
Nossa oração, como diálogo, só é capaz de chegar ao coração de Deus, quando brota do nosso próprio coração. Do contrário seria a mesma coisa, como falar num telefone desconectado. Nosso jejum não pode reduzir-se a uma simples dieta que nos ajude a emagrecer, porque deixamos de consumir certas guloseimas que geralmente engordam. Não podemos esquecer que nossa região possui um dos lixos mais luxuosos do Brasil, ou seja, comida manufaturada jogada no lixo. Mais esbanjamos do que consumimos do necessário. É a comida que sobra nos pratos por conta de etiquetas já ultrapassadas ou que azeda nas panelas de nosso povo. Nossa esmola não pode reduzir-se a um simples desencargo de consciência ou ato de dó. Deve transcender ao esforço de que todos, principalmente os que têm menos do que nós, possam viver com igual dignidade humana.
               
A Campanha da Fraternidade sugere a Coleta da Solidariedade que acontece em todas as Comunidades do Brasil no Domingo de Ramos. O resultado dessa Coleta é investido em projetos de promoção humana, favorecendo os que tantas vezes nossa sociedade de consumo exclui, mas que sempre foram os preferidos de Deus. Gosto de sugerir que esta Coleta seja o resultado dos exercícios quaresmais de penitência: a oração, o jejum e a abstinência que remetemos aos mais pobres do que nós. De nada valerá contribuir com a Coleta da Solidariedade, colocando determinado valor que não nos faça falta. Mas se nossa contribuição for o resultado do nosso jejum e de nossa abstinência, durante os quarenta dias da Quaresma, o valor será agradável a Deus e produzirá frutos saborosos em benefício dos mais necessitados. Sugiro que façamos as contas de quantos refrigerantes, sorvetes, carnes ou outros prazeres deixaremos de consumir por conta de nosso jejum e de nossa abstinência. O resultado destes é que deveria ser oferecido no dia da Coleta e jamais uma quantia qualquer. Nosso jejum e nossa abstinência só agradarão ao coração de Deus, enquanto forem revertidos em benefício de quem tem menos do que nós.
               

Sejamos, nesta Quaresma, melhores do que em todas as anteriores. Assim seremos mais autênticos diante de Deus, de nós mesmos e dos outros.


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!      

Iniciamos, nesta Quarta-Feira de Cinzas, dia de Jejum e Abstinência, o sagrado tempo da Quaresma para celebrarmos, de coração renovado, o mistério pascal de Jesus. Desde os tempos mais antigos, a Quaresma foi considerada como período de renovação espiritual, de revigoramento interior, para o testemunho do Evangelho.

A celebração da bênção e a imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: "Convertei-vos e crede no Evangelho".

Na abertura da Quaresma, tempo favorável de conversão, as leituras fazem forte apelo de mudança de vida e nos convidam a intensificar as práticas de caridade, oração e jejum. Quaresma, quarenta dias que nos separam da grande festa da Páscoa da Ressurreição do Senhor! Neste tempo, procuremos trilhar o caminho da conversão proposto pelo Evangelho e pela Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, que nos leva a refletir sobre o tema: CASA COMUM, NOSSA RESPONSABILIDADE e o lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24.

Quaresma é tempo de voltar para o Senhor, ele é benigno e compassivo. Há três grandes práticas quaresmais: caridade, oração e jejum. Neste tempo favorável, reconciliemo-nos com Deus e com os irmãos com sabor de Ano Santo – Jubileu da Misericórdia, tentando encontrar O rosto da misericórdia, acolhendo o perdão de Deus e distribuindo o perdão a todos aqueles que nos machucaram...

Pela escuta da Palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia divina revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade, constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração da Quarta-Feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a assumirem, com fidelidade, as obras da justiça - no relacionamento com o próximo: a esmola; para com Deus: a oração; para consigo mesmo: o jejum.

Na caminhada quaresmal, somos convidados a fazermos a experiência de Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça de sermos nós também misericordiosos.

“Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (Papa Francisco. Misericordiae Vultus = O rosto da Misericórdia n. 2).

Gosto sempre de propor um exercício aparentemente simples, mas que na verdade é bem difícil: Durante a Quaresma não falaremos mal de ninguém. Se não houver motivos para elogios, calaremos! Será um exercício proposto diariamente. Se conseguirmos passar um dos dias da Quaresma sem falar mal de ninguém não importa. O que importa é o esforço que renovaremos todos os dias.
           
Os frutos de nossos exercícios quaresmais, como jejum, abstinência e outros, deverão ser revertidos à Coleta da Solidariedade, realizada nas Comunidades de todo o Brasil no Domingo de Ramos! Seria bom que desde a Quarta-Feira de Cinzas já guardássemos aquilo de que abrimos mão em favor de quem tem menos do que nós. Assim não chegaremos ao dia da coleta com uma migalha apenas. Mas os saborosos frutos de nossa Penitência! É isso que converte e nos faz sermos melhores hoje do que ontem!

Desejando-lhes um Tempo muito rico de Bênçãos Quaresmais, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2 Cor 5,20-6,2 e Mt 6,1-6.16-18)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 43-47; Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Fevereiro de 2016), pp. 17-24 e Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia do Papa Francisco, n. 2.