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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            O sagrado tempo da Quaresma caracteriza-se pela vivência profunda do mistério da paixão do Senhor. Na Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a caminhada quaresmal em direção da Páscoa de Jesus e nossa.
            Para as comunidades cristãs, a caminhada quaresmal se apresenta como um tempo de graça em que o próprio Deus, por seu Filho e no Espírito Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o verdadeiro sentido da vida, o qual irrompe definitivamente na Páscoa. A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser vivido com o devido empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.
            A Quaresma deste ano insere-se nas celebrações do Ano Santo, O Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Na palavra do Papa Francisco, “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré” (cf. Misericordiae Vultus, n. 1).  Em sintonia com o Ano Santo, a Quaresma é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5,31).
            A profissão de fé no Deus salvador é disposição constante do povo fiel ao longo da história da humanidade. O “credo do israelita” é reconhecer a ação libertadora de Deus na história, comprometendo-se com ele. Jesus nos ensina como nos libertar das tentações do dia-a-dia. O “credo do cristão” é aceitar Jesus como o Senhor ressuscitado dos mortos. Ele é Porta Santa da Misericórdia!
            Frutos da terra e do trabalho humano, os bens que recebemos de Deus (emprestados e não como propriedade nossa, motivo pelo qual devemos superar a avareza, o egoísmo, a insensibilidade com os que têm menos do que nós, sem acumular nada do que não conseguiremos levar à eternidade no dia em que nosso nome ecoar na mesma e, muito menos, esbanjar o que poderia enriquecer a dignidade de mais de um bilhão de pessoas que passam fome, diariamente, no mundo) tornam-se pela ação de graças a ele, sinais sacramentais de sua benevolência e promessa de bens maiores e eternos.
            Depois de ser batizado nas águas do rio Jordão e ser publicamente proclamado como o “Filho amado de Deus”, Jesus é “conduzido pelo Espírito ao deserto”. Mais do que lugar geográfico, o deserto é oportunidade de prova e de afirmação da fidelidade à missão. Jesus rechaça as propostas do tentador, ratificando sua determinação de se entregar até as últimas consequências, obediente à vontade do Pai, e de cumprir sua missão segundo o projeto que fora confiado.
            Gosto de pensar que o problema não é o pecado e nem as tentações que diariamente nos são propostas. São-nos apresentadas muito apetitosamente. O problema é ceder ao pecado e às tentações. Elas nos cercam a todo o momento. Percebê-las, constatá-las, e até discerni-las não é nosso problema. Só trairemos a fidelidade para com Deus, na medida em que cedermos ao pecado e às tentações.
            A Quaresma se apresenta como um tempo de sobriedade que favorece a oração, a prática da caridade e a revisão de vida. Ela é tempo de graça de Deus que nos conduz às alegrias da festa da Páscoa.
            Por isso, a caminhada quaresmal pode se constituir para nós num tempo em que somos conduzidos pelo Espírito ao deserto. Uma oportunidade ímpar para avaliar se nossos projetos de vida, nosso modo de ser e agir corresponde ao projeto de Deus, para purificar nossa prática religiosa, por vezes, infantil e interesseira, alicerçada em milagres ou na prática de uma fé sem responsabilidade comunitária; para superar a prática religiosa construída segundo as nossas opções e exigências; e para rechaçar o império do materialismo consumista que cultua o lucro, o acúmulo, o ter e o consumir.
            Naturalmente, a conversão quaresmal só é possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve encontrar acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos “ídolos” que nos envolvem e atordoam. Conversão que significa nos alienar de nossos insignificantes e confusos projetos para assumir algo mais radical e original que nos conduza à proclamação, com todo o nosso ser, de que Jesus, vencendo as tentações do deserto, triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz.
            Assim como Jesus, hoje, nós somos conduzidos ao deserto para uma experiência viva de fé. Caminhando nas areias do deserto, o Espírito nos liberta do “homem velho” e nos amadurece para o compromisso com o “novo”. Que o grande retiro quaresmal alimente nossa fé.
            Finalmente a primeira semana da Quaresma, neste ano à luz do ANO SANTO, nos indica pequenos exercícios penitenciais, que tentarão lapidar nossa fé esclerosada, envelhecida, mofada nos porões de nossa intimidade. Saibamos deixar arejar a fé, recebida em nosso Batismo. Uma das tarefas interessantes seria saber o dia de nosso batismo. Renovarmos o propósito de não falarmos mal de ninguém, sendo Anjos uns para os outros. Outro bom exercício para esta semana, seria procurarmos não mentir. Não importa chegarmos ao final do dia e não termos conseguido. No dia seguinte, renovemos novamente tais propósitos, repetindo-os como decoramos a tabuada. Em quarenta dias, haveremos de conseguir mudar, pelo menos, alguma coisinha feia em algo maravilhoso diante de nós mesmos, de Deus tão cheio de Misericórdia e dos outros.

            Desejando-lhes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13 e Lc 4,13)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 54-58; Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Fevereiro de 2016), pp. 25-30 e Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia do Papa Francisco, n.1.