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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA

MÃE, RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL

Com Maria, em Jesus, chegamos à Glória!”


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Sua mãe disse aos que estavam servindo:
‘Fazei o que ele vos disser’!”(Jo 2,5).

            Por ser uma solenidade, a festa deste dia 12 de outubro ocupa lugar especial da nossa páscoa, ressurreição do Senhor. Não perdemos o sentido maior da Páscoa de Cristo por causa disso. Pelo contrário, no caminho espiritual do Tempo Comum estas solenidades de Nossa Senhora e dos santos e santas contribuem para voltarmo-nos para a centralidade da nossa fé em Cristo Jesus, nosso salvador. Ele é o mestre que um dia puderam servir e que nós hoje nos esforçamos no caminho do seu discipulado.

            O texto do Evangelho é rico em detalhes, próprio do evangelista João. Acontece em uma festa de casamento, onde Jesus é apresentado como o esposo da humanidade. A mãe de Jesus, que durante toda a narrativa não é chamada pelo seu nome, é a figura da primeira Aliança, ainda vivida através do cumprimento de prescrições puramente rituais, representada pela presença das seis talhas de pedra, usadas para os rituais de purificação entre os judeus (cf. Jo 2,6).

            Desde o Antigo Testamento o vinho, sobretudo em abundância, além de simbolizar a alegria, neste caso a alegria do amor matrimonial, é visto como sinal da presença ou vinda do Messias esperado. Ele já veio em Jesus e quer agora selar uma nova relação com seu povo pelo dom total, pela entrega amorosa, pelo “dom de si” que revela Deus no escândalo e força da Cruz – a “hora’” de Jesus, que ainda não tinha chegado.

            A mãe de Jesus exerce, assim, uma dupla função nesta história de amor divino que salva. Em primeiro lugar, porque se mantém, como o povo da primeira Aliança, fiel e esperançosa na intervenção de Deus sobre a história. Como veio a faltar o vinho – constatação que ela faz ao filho -, amor necessário na relação entre a humanidade e Deus, é urgente que o mesmo seja “recriado”, seja reencontrado. Isso somente será possível em Jesus, o esposo da nova e eterna Aliança. Para isso, é importante superar uma relação com Deus meramente cumpridora de preceitos, “transformando” aquilo que era objetivo dessa relação (talhas vazias), em verdadeira adesão a Jesus (vinho novo).

            A segunda função da mãe de Jesus na história da salvação revelada pela narrativa bíblica é o seu comando aos servidores: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5b). O antigo Israel é chamado agora a aderir ao seu novo esposo, colocando-se a serviço, pela esperança de sua intervenção na história (a mãe de Jesus, mulher), pela obediência à sua palavra (os serventes enchem as talhas sem qualquer questionamento) e pela fé em Jesus (os discípulos creram nele), aquele que manifestou a sua glória pela entrega amorosa de sua vida por sua esposa.

            Os católicos brasileiros têm uma grande relação religiosa com Maria, a mãe de Jesus. Essa relação de piedade e devoção pode ser mais aprofundada e adquirir um sentido evangélico bem mais intenso pela solenidade que vamos celebrar, pois todos nós que aderimos ao projeto de Jesus somos chamados a realizar sempre a sua vontade, mantendo a nossa esperança em suas intervenções na história, transformando, por nossas ações, as realidades de morte em vida, de trevas em luz, de miséria e pobreza em abundância.

            A imagem de Nossa Senhora que apareceu no rio Paraíba é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Festa que remete à figura de Maria como plenificação e destino da Igreja, imagem da Igreja triunfante. Uma Igreja que, como mãe e esposa peregrina, é chamada a fazer a vontade do seu esposo, Cristo, o Messias.

            O aparecimento da pequena imagem foi o grande sinal do alto, sinal de Deus e de sua intervenção em favor das súplicas dos simples e pobres. A festa aconteceu, e a abundância foi readquirida. Vivemos intensamente a preparação dos 300 anos da Aparição da Imagem da Imaculada Conceição, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil! Aguardamos ansiosamente a vinda do amado Papa Francisco para as celebrações de Nossa Senhora Aparecida em 2017.

            Neste dia, no Brasil, também comemora-se o dia das crianças. Elas aguardam de todos nós um sinal de um país mais justo, humano, solidário e que saiba cuidar do seu povo com carinho e proteção. Aguardam sinais de vida, que devem ser cultivados e promovidos já agora, para que o seu futuro seja de abundância e paz.

            Gosto sempre de imaginar a cena daquele casamento. Deve ter sido um casamento de pessoas simples, pobres, como humilde e pobre era Maria. Para que Maria, Jesus e seus Discípulos fossem convidados, o casal nubente só poderia ser pobre, já que a disparidade entre as pessoas era tamanha, que ricos e pobres jamais se misturavam, especialmente em festas. Hoje não é muito diferente, embora tenhamos os chamados “ricos emergentes” ou ainda, aqueles que mesmo não sendo economicamente privilegiados, tenham “panca de ricos”, se juntem aos verdadeiramente ricos!

            Maria, que é mãe, perspicaz e atenta, percebe que seu filho, Jesus e seus companheiros, os Discípulos (que eram bons de copo), estavam exagerando, e os noivos pobres poderiam passar vergonha, já que o vinho começava a faltar. A mãe chama o filho e o adverte que já não tem mais vinho, pedindo que avise aos amigos “maneirarem no copo”. Jesus parece dar uma resposta ríspida, chamando sua mãe de “Mulher”. Em outras palavras, poderia pensar que não era problema seu. Maria, entretanto vai aos serventes e lhes diz: “Fazei o que ele vos disser!” A confiança no filho é maior que sua preocupação. O milagre acontece justamente pela fé de Maria em Jesus. Da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, também nós, todos nós, podemos aprender do povo simples, de Sul a Norte de nosso Brasil, tamanha confiança na Mãe Aparecida. Ela não nos deixa esperando, não nos faz passar vergonha, mas intercede por nós. Porém é preciso seguir seu pedido feito aos serventes e também a nós hoje: Fazer o que Jesus nos pede! E o que Jesus nos pede? Que nos amemos uns aos outros, sempre! Se nos amarmos, o mundo será muito mais bonito, do jeito como Deus o criou e pensou para nós!

            Sejam todos sempre muito abençoados, sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Es 5,1-2; 7,2-3; Sl 44(45); Ap 12,1.5.13.15-16 e Jo 2,1-11)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2015, pp. 46-49 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Outubro de 2015, pp. 50-55.