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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A CULTURA DO ENCONTRO!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

Tudo aquilo que quereis que as pessoas vos façam, fazei-o vós a elas, pois esta é a Lei e os Profetas.” (cf. Mt 7,12)

            A visita do Papa Francisco a Cuba e aos Estados Unidos, a meu ver, ficou marcada pela palavra por ele proferida ao desembarcar na Ilha centro-americana: “a cultura do encontro”. O encontro sugere disposição para o diálogo, para o entendimento e para a reconciliação. Encontro que vê as pessoas como irmãos, semelhantes, companheiros e não adversários nem inimigos.

            A cultura do encontro propõe para hoje, a superação daquela visão utilitarista que nega direitos aos idosos, aos portadores de deficiência, aos doentes; rechaça o mito da superioridade de uns contra a inferioridade de outros, pois o valor de cada pessoa não depende do seu saldo bancário nem da classe social. A dinâmica do “encontro” chama todas as pessoas a um processo de conversão, supõe uma mentalidade nova, através da qual o ser humano se deixa encontrar por Deus e começa a construir a sociedade sobre o alicerce da misericórdia, da compaixão e da fraternidade. Neste novo modo de ver e viver não tem lugar a cultura do “descartável”, ou de considerar alguém inativo, inútil, pois os filhos e filhas de Deus carregam durante a sua existência a Imagem do Pai Criador e misericordioso.

            Há uma crise financeira que é preocupante porque nós a sentimos no bolso, mas esta é consequência de outra crise pior, mais perigosa e com efeitos mais destruidores que a bomba atômica: a crise moral! Por causa da esperteza, do “jeitinho” aqui e ali, do apego desenfreado ao dinheiro, da busca de lucro e da ganância por ter mais e ficar sossegados quanto ao amanhã, surgiram pessoas implacáveis que não aceitam partilhar, que não devolvem o troco que recebem a mais e reclamam aquele “um centavo” que lhes falta, que não têm sentimentos de compaixão pelos seus semelhantes, e que abrem mão de valores morais e religiosos para justificar sua avareza.

            De modo muito simples, entusiasmado e envolvente o Papa Francisco falou ao mundo inteiro desde Cuba e dos Estados Unidos chamando-nos todos a “convertermo-nos à cultura do encontro” e a vencer o individualismo egoísta, as intrigas, os rancores e ódios que são as origens de tantas guerras. As diferenças econômicas entre os países não pedem uma “luta de classes” e sim uma globalização de solidariedade e de fraternidade. A distribuição de riquezas será satisfatória quando soubermos lutar contra a sedução idolátrica do dinheiro.

            O mundo, a economia, a política, sistemas de governo podem se aperfeiçoar se promovermos esta “cultura do encontro” e aprendermos a ser “misericordiosos como o Pai”. Precisamos cuidar melhor de nossa casa comum, a irmã e mãe terra, a fim de que a vida, dom divino, aconteça como foi pensada por Deus. Política e economia devem privilegiar o ser humano, eliminar a espiral de violência e agir em favor da vida humana desde a concepção até seu fim natural.

            A cultura do encontro supõe espaço dentro de nós para o amor, a compaixão, o perdão incondicional. Muitas perdoamos, mas reabrimos “cicatrizes” e machucamos as pessoas através da exclusão, principalmente quando representam ameaça ao nosso prestígio pessoal. A conversão, a reconciliação e o amor devem superar qualquer rusga e remeter-nos ao recomeço, sem mágoas ou rancor. Eis aí um novo modo de viver, conviver e reconstruir a sociedade que está à beira de um colapso.

Fonte: (Baseado nas reflexões do Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP).