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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Deus não enviou o seu Filho ao mundo
para condenar o mundo, mas para que o
mundo seja salvo por ele” (cf. Jo, 3-17).

            “A festa da Exaltação da Santa Cruz, da qual deriva o rito da ‘Adoração da Santa Cruz’ na Sexta-feira Santa, tem origem no Oriente, com a celebração da dedicação das basílicas constantinianas no Gólgota e no Santo Sepulcro, no dia 13 de setembro de 335. Por volta do século VII, no dia 14 de setembro, surgiu o costume de expor a relíquia da Cruz aos fiéis que, segundo uma tradição, fora encontrada neste dia. Esta prática se sobrepõe à da festa da dedicação das basílicas, sobrepondo-se também o dia 14 ao dia 13.
            Em Roma, encontramos testemunhos desta festa por volta do século VII. Mais tarde, à festa foi acrescentada a comemoração da vitória de Heráclito sobre os persas em 630, dos quais foram recobradas as relíquias da Cruz, solenemente levadas de volta a Jerusalém. No início do século XIII, porém, a festa reforçou aquele segundo motivo com a prática da veneração das relíquias da Cruz feita pelo Papa e os Cardeais na Igreja Estacional de São Silvestre, sendo seguida de uma procissão até a Basílica de São João de Latrão ao canto do Te Deum. Na Lateranense celebrava-se a hora média do Ofício Divino e depois a Celebração Eucarística presidida pelo Papa.
            A Cruz para os judeus significa vergonha e escândalo; – castigo reservado ao pior dos bandidos na época de Jesus – para os Romanos, loucura, mas para nós Cristãos, a Cruz é sinal de Salvação!
            A Cruz é um grande sinal de contradição: expressão da morte ignomínia de Jesus como malfeitor, que provocou questionamentos e gerou inseguranças na ordem estabelecida pelos poderes religiosos e políticos e, ao mesmo tempo, sinal de entrega e esvaziamento – kenosis – de Jesus, obediente ao projeto do Pai de salvar a humanidade (conforme a Carta de São Paulo aos Filipenses), e isso lhe custou a morte de Cruz. Humilhação e doação de vida.
            Apesar do rechaço – lugares e instituições que não aceitam mais manter uma Cruz em seus espaços públicos – e da banalização – pessoas que ostentam a Cruz no peito como forma de demarcação das chamadas tribos urbanas -, a Cruz é para nós cristãos o sinal maior da nossa adesão a Jesus Cristo e da proclamação de sua ação salvadora.
            Exaltá-la por uma festa própria nos põe no centro da nossa espiritualidade cristã da vida que nasce do ‘dom de si’ de Jesus, para que o mundo tenha vida. De fato, afirma São Paulo: diferente dos judeus, que se escandalizaram da Cruz e dos pagãos que afirmam ser uma loucura perder a vida pelos outros, ‘nós, porém, proclamamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. (...) Pois, o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens’ (1Cor 1,23.25).
            Há uma semana participamos do Grito dos Excluídos em nossas Dioceses e Regionais. Como o Mistério de Cristo ilumina a nossa realidade, não podemos nos esquecer da Cruz dos crucificados de hoje: pobres, idosos, crianças em risco e sem escola, moradores de rua, minorias, irmãos e irmãs traficadas e exploradas sexualmente, ‘rebaixados’ da sua condição humana e exaltados por sua condição de Filhos e Filhas, adquirida pela entrega salvadora de Cristo na Cruz. A humilhação de Cristo é solidariedade de Deus aos que ainda hoje são rebaixados e diminuídos.
            ‘Pusestes no lenho da Cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde a morte viera. E o que vencera na árvore do paraíso, na árvore da Cruz fosse vencido’ (cf. Prefácio Próprio da Festa). A morte veio da árvore do paraíso terrestre por meio de Adão. Mas, em Cristo, a vida ressurge. E o mal que vencera Adão, foi vencido por Cristo através da Cruz. A Cruz de Cristo é, portanto, o sinal de sua vitória e não de sua derrota; sinal da sua glorificação, vencendo a morte” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II da CNBB de 2014, pp. 14-19).
            Assim como não deve ter sido fácil ao entendimento humano na época da entrega total de Jesus na Cruz, ver o fim tão trágico daquele que todos esperavam ser o Senhor todo poderoso, ainda hoje, muitos não compreendem essa “loucura de Deus”, de deixar seu Filho entregue ao pior dos castigos, a Cruz. Com o Papa Francisco, afirmamos que é impossível chegar à Vitória, sem antes passar pela experiência da Cruz! O mistério da cruz não deve ser compreendido, mas acolhido no tesouro de nossa fé, que emerge da intimidade com Deus na pessoa de Jesus Cristo. Só quem é, de verdade, amigo de Jesus, crerá incondicionalmente no mistério da Cruz. Mistério não se explica, se aceita ou não! É na Cruz que encontramos meios eficazes de nossa santificação. Pois ela é nosso passaporte para a Ressurreição! Só então seremos verdadeiros cristãos! Muitas vezes nossa Cruz é alguém muito próximo, que precisa de nosso carinho, de nosso abraço, de nossa misericórdia e de nossa doação cheia de amor com sabor divino: totalmente desinteressado e gratuito!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo, 
        
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Nm 21,4-9; Sl 77(78); Fl 2,6-11 e Jo 3,13-17).