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quinta-feira, 3 de julho de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Provai de vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!” (Sl 33,9).


            “A página do Evangelho do Décimo-Quarto Domingo do Tempo Comum está entre as páginas mais intensas e profundas de todo o Evangelho;  na verdade é composta de três partes. A primeira é uma oração: ‘Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra’, a segunda é uma narração dos feitos salvíficos de Deus em favor do seu povo: a revelação ‘destas coisas aos pequeninos’, a entrega por parte do Pai, de todas as coisas ao Filho – ‘Tudo me foi entregue por meu Pai’ e a profunda intimidade entre o Pai e o Filho que resulta na ‘revelação’ do rosto paterno de Deus àquele ‘a quem o Filho o quiser revelar’. Essas duas primeiras partes, oração e memória, nós podemos afirmar que são ‘eucarísticas’. A terceira para é um convite: ‘vinde a mim’.
            Os destinatários da revelação feita pelo Pai são os pequeninos, os humildes, os simples. Os pequeninos deste Evangelho são em primeiro lugar os discípulos de Jesus; todo e qualquer discípulo de Jesus, como é afirmado em Mt 10,42: ‘quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, receberá a vida eterna’. Geralmente quando chego a uma casa para visitar um enfermo ou idoso, ou para levar a bênção a uma família, pergunto ao ser interpelado, o que gostaria de beber: ‘Você quer ir para o céu quando morrer, o que deverá demorar?’ Me respondem que sim. Então reafirmo: ‘Então me dê um copo d’água’, referindo-me à afirmação desta orientação de Jesus no Evangelho de Mateus. As pessoas reagem positivamente, e oferecendo-me um copo d’água geladinha, dizem que me dariam uma fonte, se eu quisesse!
            Nesta perspectiva, no entanto, encontramos Jesus como o mais pequenino entre os pequenos, o mais humilde entre os humildes, o mais simples entre os mais simples. Tal imagem é evidenciada pela figura real, plena de contradições, apresentada na primeira leitura: o rei, o justo, o salvador. O rei é humilde e vem sentado num jumento; é justo porque vem eliminar ‘os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém e quebrar o arco de guerreiro’, mas o seu estandarte é a paz; é simples, mas tem um ‘domínio’ que se estende de mar a mar e de rios a rios, ‘até aos confins da terra’. Este rei do qual fala o oráculo é Jesus Cristo. Só quem é humilde sabe como é bom ser humilde e simples a exemplo do Senhor! Sábio é aquele que prefere a sabedoria de Deus em lugar de todos os bens e promessas humanas!
            Poderíamos interpretar esta página do Evangelho ‘ideologicamente’, pensando que Deus se revela, ou revela os mistérios do Reino, a uma categoria social e a outra não. Não falta quem pensa e prega assim. Mas isso não corresponde à mensagem de Jesus Cristo que não faz acepção de pessoas, ‘pois ele é Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam’ e têm lugar em seus corações para A Alegria do Evangelho! O Pai não ‘esconde o Reino’ aos sábios e inteligentes, mas ele o ‘protege’ dos que se arrogam inteligentes e se recusam a toda e qualquer forma de obediência e submissão àquele conhecimento que não vem necessariamente através da comprovação científica: o conhecimento da fé. O fechamento a toda revelação que vem do alto e portanto à fé, não é conseqüência da inteligência, mas do orgulho. A falsa idéia do homem de pensar saber tudo de todas as coisas anula e bloqueia o conhecimento de Deus, eis porque a Bíblia afirma que ‘Deus resiste aos soberbos, mas dá a graça aos humildes’  (Tg 4,6).
            É verdade que muitas vezes os ‘humildes’ são identificados com os ‘pobres’, o que não quer dizer, necessariamente, que os desprovidos do bem material sejam humildes. Pobreza e humildade são sinônimas na Bíblia de abertura e disponibilidade à novidade, à disponibilidade à dependência de Deus, e estes se opõem por natureza à riqueza/grandeza como sinônimo de autossuficiência, que é uma espécie de orgulho que consiste na recusa de toda dependência e na reivindicação de uma autonomia absoluta com relação ao próximo e a Deus.
            O convite de Jesus é feito a todos nós, mas especialmente àqueles que entre nós estão cansados e afadigados sob o jugo da superfluidade que nasce da busca desenfreada por essa ‘pobre riqueza’: o poder, o cargo, o prestígio, o querer ser melhor sobre os demais... (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I de Junho/Julho de 2014 da CNBB, pp. 45-50).
            Para muitos sermos ricos, só nos falta o dinheiro, porque até “panca de ricos” já temos em nossos hábitos e comportamentos com relação aos que são ainda mais pobrezinhos do que nós. Gosto sempre de pensar que existe um abismo entre ser sábio e sabido: sábio é aquele que sempre está aberto à graça de Deus, vivendo-a exaustivamente na relação com os irmãos. Já sabido é aquele que pensa saber de tudo, mas fechado à graça de Deus, deixa a prepotência e arrogância fazer com que se sinta superior em relação aos outros. Endeusa-se sobre os mais fracos, fazendo-os sofrer. Cuidemos disso em nós. Rezemos para que nos configuremos sempre mais com Cristo!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel,
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Zc 9,9-10; Sl 144(145); Rm 8,9.11-13 e Mt 11,25-30).