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quinta-feira, 14 de março de 2013

HOMILIA PARA O QUINTO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “Neste Quinto Domingo da QUARESMA, somos convidados a reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus, através dos gestos e palavras de Jesus.
        
A liturgia de hoje revela-nos um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.

            Na reta final da caminhada em direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A conversão do coração significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a pessoa se encontra desviada do caminho do amor de Deus e aos irmãos, centrada em si mesma e ‘com as mãos repletas de pedras’.

            A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos ‘justos’, resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz firme e suave que diz: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais’. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!

            Será decisivo repassar, durante este Ano da Fé, a história da nossa fé que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade, com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai que vem ao encontro de todos (cf. BENTO XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, n. 13).

            ‘Com o encontro de Jesus com a mulher pecadora, somos convidados a acolher em nossa vida o amor e a misericórdia de Deus. Celebramos a eucaristia dispostos a transformar o orgulho em compaixão para com aqueles que atendem ao apelo à conversão. [...] Se não for assim, nossas celebrações não passam de disfarce, hipocrisia e enganação. Isso deve irritar profundamente o coração misericordioso de Deus [...].

            As leituras nos revelam a ternura e a compaixão de Deus para conosco: realiza coisas novas para o povo e supera o legalismo frio e contraditório. A justiça de Deus, que nos vem por meio da fé em Cristo, é amor, misericórdia e perdão. [...] Quantas vezes enxotamos pessoas que não consideramos dignas de celebrar conosco a Eucaristia? Ministros Ordenados repreendendo aqueles que ainda vêm às nossas celebrações... Agentes de Pastoral, os que se acham ‘certinhos’ não raras vezes excluem pessoas que segundo seu juízo não correspondem às exigências legalistas de nossa Pastoral? Quem, a não ser o próprio Cristo é digno [...]?

            Sempre é tempo de deixar o passado e lançar-se para frente com otimismo, em busca de vida nova. Quem não tiver pecado seja o primeiro a julgar e atirar uma pedra. Quando aceitamos Cristo Ressuscitado, tudo se transforma para melhor em nossa vida’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 54-57).

            Em cada Quaresma ressoa o apelo ‘corações ao alto’, convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as tristezas que imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de fracasso, de frustração. [...] Tenho uma grande amiga que costuma dizer: ‘O passado já não me pertence mais. É preciso olhar para frente!’ Não devemos relativizar as coisas, mas construir oportunidades novas, ajudando as pessoas a reerguerem-se depois da queda. Muitas vezes acontece o contrário: quando as pessoas ficam deprimidas por causa dos pecados, costumamos pisar nelas e afundá-las ainda mais na lama das consequências de seus pecados. Gosto sempre de pensar que: Perdoar não é esquecer, mas lembrar sem rancor! [...] Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta que haja o desejo profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um caminho em construção. [...] Nem sempre encontramos o apoio para a construção de uma nova vida. Principalmente no mundo clerical e de nossas Comunidades, costumamos colar adesivos na testa das pessoas. Temos ainda muitas dificuldades de perdoar de verdade. Como fica difícil à pessoa que busca a sincera conversão, mudar de vida, quando há tantas pessoas que se rogam o direito de marcá-las negativamente, até mesmo espalhando mundo a fora os erros do passado de quem tanto deseja mudar seu presente e futuro. Um dos hábitos que abomino entre nós, os ministros do Perdão, é falar mal daqueles cujos pecados vieram à tona. Quase sempre, aqueles que jogam as pedras, têm pecados semelhantes ou até mais graves. Escondem-nos (seus pecados) atrás de quem foi descoberto e isso é terrível e diabólico [...].

            Olhando para a nossa sociedade, averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes. O que fazer para transformar a realidade em que estamos mergulhados?

            Jesus, face à atitude condenatória dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se julgam ‘perfeitos e autossuficientes’. O que se considera justo não sabe perdoar [...] Quantas pessoas conhecemos, que são assim. Quantas experiências já se fizeram, especialmente entre quem busca cargos, funções, prestígios e poderes, pisando sobre a lama dos que algum dia erraram? [...]. ‘Devemos perdoar como pecadores, não como justos’. Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos outros. Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida do Homem Novo. O mais importante não é acusar, mas que o amor seja mais forte do que o nosso pecado.

            A Eucaristia é sacramento de unidade, de comunhão. Substituamos as pedras por gestos de partilha e de perdão. A Eucaristia é sacramento da misericórdia e do perdão divinos. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e nem somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 47-55).

            Que nossos exercícios espirituais de penitência quaresmal se transformem em frutos saborosos diante de Deus e de nossa Igreja. Não apenas o resultado dos mesmos, que será a Coleta da Solidariedade a ser entregue com senso de justiça no próximo domingo, mas nossa disposição e nosso esforço para perdoar àqueles que ainda esperam por nosso perdão. Nunca esqueçamos que o próprio Cristo nos adverte: “Não são sacrifícios, mas misericórdia que agradam o coração do meu Pai”!

            Na próxima terça-feira, dia 19 de Março, celebraremos a Festa de São José, Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja! Interceda Ele por nossa Igreja!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu  abraço sempre amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14 e Jo 8,1-11)