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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

HOMILIA PARA O 30º DOMINGO DO TEMPO COMUM DE 2012


DIA NACIONAL DA JUVENTUDE

Juventude e Vida

Que vida vale a pena ser vivida?

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

            “Estamos no último domingo do mês de outubro, Dia Nacional da Juventude, que tanto se prepara para a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em julho de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, com a presença do Papa. A Igreja propõe aos fiéis uma reflexão sobre sua tarefa missionária. Ela nos fala da missão evangelizadora ad intra e  ad extra, isto é, seus destinatários são aqueles que, junto a nós, deixaram de participar ou que se afastaram da Igreja, bem como a missão que acontece em regiões onde existem grandes desafios devido à pobreza, à perseguição ou mesmo indiferença aos valores do evangelho.

            Na próxima sexta-feira, estaremos celebrando o Dia de Finados, dia de visita aos cemitérios e oração pelos fiéis defuntos.

            A liturgia do domingo passado apresentou a passagem dos filhos de Zebedeu. Jesus alertou os discípulos sobre a tentação da ambição, dentro da comunidade, e sobre as dificuldades próprias da missão que ele veio cumprir.

            Continuamos hoje a leitura do Evangelho de Marcos, com a cura do cego Bartimeu, que nos apresenta um modelo de fé. Neste modelo, vemos uma ligação entre o cego e a libertação de todo o povo de Deus, a partir da vida de nossas Comunidades!

            Podemos verificar que o conhecimento da Palavra de Deus e das promessas que alimentam a vida do povo de Israel leva o cego a reconhecer Jesus. Este fato deve também nos mover a buscar não só conhecer a palavra de Deus, mas a fazer dela um alimento para a fé, para podermos reconhecer a presença e a ação de Jesus hoje, entre os homens e na comunidade dos fiéis.

            Podemos verificar que a situação adversa do cego não foi empecilho para seu crescimento na fé. A ‘desgraça’ na qual estava mergulhado é a condição para que alimente a esperança e cresça na fé. A fé, portanto, nos é mostrada como capaz de trazer respostas ou desprezada pelo mundo.

            A liturgia nos apresenta o conteúdo de fé em Jesus como Messias. Facilmente, chamamos Jesus, o Cristo (=messias), porém, cabe perguntar se, na prática, aceitamos o fato de que a fé em Jesus inclui esta restauração da vida do povo, como a cura do cego, a saúde ao doente, a liberdade ao oprimido...

            A cura do cego mostra a estreita relação entre a fé por ele professada e a história e as esperanças da comunidade, povo de Deus. Isto permite perguntar se nossa fé também está fundada na esperança e na vida do povo, se nossa fé compartilha as esperanças da comunidade, da Igreja.

            Deus nos chama e reúne para agradecermos o seu amor, manifestado na pessoa de Jesus, que cura nossas cegueiras. O Senhor vence as trevas que impedem nossa caminhada rumo à sociedade fraterna e solidária.

            O sonho de Deus deve ser o nosso também: uma sociedade sem cegos e coxos mendigando. Somos chamados a extirpar a cegueira do povo para que não se torne vítima de interesses escusos. Jesus, sacerdote por excelência, participa de nossa condição, santificando-a” (cf. Liturgia Diária de Outubro de 2012 da Paulus, pp. 82-85).

            A partir de Jesus, que caminha para Jerusalém com a missão de restaurar o povo de Deus, somos desafiados a promover a ação restauradora e redentora de Deus e a vencer a acomodação da comunidade, preocupada em repetir ritos ou salvaguardar as leis.

            Bartimeu nos mostra que a fé cristã não combina com acomodação e individualismo. A fé cristã é essencialmente comunitária. Ela nasce da ação de Deus em favor da vida de seu povo. O lugar do cristão é o caminho da comunidade dos fiéis conduzida por Jesus, lugar onde a presença de Jesus continua a agir, transformando sinais de morte e descrença em sinais de vida e de fé e de esperança real.

            A Palavra de Deus, neste domingo, pelo relato da cura do cego, nos mostra a fé em Deus como abertura a um projeto, um plano, uma ação de Deus, presente na história. O fiel reconhece, em Jesus, Deus que o acolhe. Pela fé em Jesus, percebe-se alguém participante e testemunha da ação de Deus, agindo na comunidade em favor da vida do povo.

            A liturgia da Palavra indica renovação e vida nova não somente para as pessoas, mas também para as estruturas e a sociedade.

            Neste domingo, em alguns municípios como em nossa querida cidade de Ribeirão Preto, realiza-se o 2º turno das eleições. A política sempre é um desafio para a evangelização, pois esta deve se traduzir em valores que nascem da vivência de nossa fé em comunidade” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 23, pp. 70-75).

            Segundo desabafo de Rubem Alves, “Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham”. Outra é o voto consciente, pensado para o BEM COMUM!

            Costumamos ouvir frequentemente que “O povo tem o Governo que merece!”. E diante das urnas, neste segundo turno das eleições, somos todos questionados: “Que Governo queremos para nossas cidades? Qual Governo necessitamos? Temos consciência política e liberdade claras para elegermos bem nossos Governantes para os próximos quatro anos? Conhecemos as reais necessidades de todos os cidadãos de nossas cidades, ou apenas as nossas? Conseguimos abrir nossos olhos, como Bartimeu do Evangelho deste domingo, diante das propostas dos Candidatos que desfilaram diante de nós na Campanha que se encerra nesta semana, temperada de determinadas ironias, tentando subestimar nossa capacidade de discernimento?”

            O voto é livre e precisa ser consciente de que quem for eleito deverá estar a serviço do Bem Comum, sabendo de que cobraremos, conscientemente, cada promessa, mesmo que algumas delas não passam de sofismas viciados. O desencanto de mais de 80 mil abstenções no primeiro turno, precisa ser revertido em esperança, de que todos serão respeitados em sua dignidade, e juntos saberemos cobrar tudo o que ferir o exercício da cidadania em nossa cidade.

            Depois não adianta reclamar. A liberdade é o bem maior de cada eleitor. Ninguém tem o direito de obrigar, nem de seduzir com promessas particulares a eleitor nenhum. Mas todos terão a obrigação de reivindicar nossos direitos e tudo aquilo que nos foi proposto. Não aceitaremos nada imposto. Não sejamos promíscuos, individualistas, passivos e nem nos deixemos subestimar. Utilizemos as urnas para nos valorizar. Não nos coloquemos à venda. Saibamos confiar em quem realmente deseja servir. Pois “Quem não vive para servir, não serve para governar...”.

            Desejando-lhes muita luz e bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo, cheio de esperança de que o resultado das eleições seja pelo Bem Comum!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jr 31,7-9; Sl 125(126); Hb 5,1-6 e Mc 10,46-52)