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terça-feira, 12 de junho de 2012

Homilia do Décimo Domingo do Tempo Comum


            “A comunidade, a casa de Jesus, comprometida com o bem e a fraternidade, vive em tempos de ganância, violência, corrupção, impunidade, enfim, um rosário de coisas que fazem o povo sofrer. E, ainda, tantas vezes, é vítima de calúnias e suas lideranças são ameaçadas, perseguidas e até mortas violentamente.

            A Palavra de Deus do Décimo Domingo do Tempo Comum vem ao encontro das comunidades e as motiva a continuarem na luta e a melhorarem as condições de moradia, de emprego, de salários e de pão para todos. A Palavra ajuda a identificar os responsáveis por essa triste situação de fome, de injustiças, de violência e de agressão à vida. Deus mesmo não quer o mal e muito menos compactua com ele. Jesus veio para amarrar satanás e tirar do seu poder o povo explorado, injustiçado e sem dignidade e liberdade.

            Jesus constitui uma nova família com os que fazem a vontade de Deus e entram no seu projeto de vida, aceita viver a fraternidade, romper os padrões envelhecidos e carcomidos pelo tempo que não mais se colocam a serviço do bem comum da população: a nossa comunidade.

            Quem pratica o mal não se encontra mais no lugar que lhe foi designado e confiado na criação. Deus o procura e chama... e não o encontra. ‘Onde estás?’ Está, portanto, fora do lugar, longe do projeto original e distante da bênção de Deus, que é vida e paz para todos. O local previsto e preparado por Deus não é o pecado, o orgulho e a dominação, que distanciam os homens uns dos outros. Os que pecam se sentem nus, como os escravos, despojados da liberdade e da dignidade humana.

            Ao se deixar conduzir pelo egoísmo, o homem destrói a si mesmo e abala a ordem da natureza, que se revolta, perde a fertilidade, chama catástrofes, produz cardos e espinhos...

            A verdade continua a mesma: quem julga poder proclamar sua independência diante de Deus, quem pretende construir seu próprio mundo, quem se isola em seu egoísmo não considera Deus como seu amigo, mas como um adversário a ser temido, evitado, mantido à distância. ‘Ouvi o barulho dos teus passos no jardim e tive medo’: ou seja, a presença de Deus incomoda, coloca ruídos na consciência e atrapalha o sossego do paraíso. Deus criou os homens para se ajudarem. O pecado, ao contrário, os desune, os afasta uns dos outros e os torna inimigos.

            Colocados, neste domingo, frente a frente ao Evangelho, concluímos como é importante cada um descobrir e assumir a sua missão, contribuindo com a sua parte na construção de uma nova sociedade, que é a família de Jesus, cujo espelho é a comunidade litúrgica, a verdadeira mãe e irmã do Senhor, onde se cultiva o bem, se vive a fraternidade, se partilha os bens e se luta para melhorar a qualidade de vida de todos e para todos. Essa convicção da missão ajudará a sair do comodismo, a vencer críticas e superar todo tipo de dificuldades” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 22, pp. 31-37).

            O grande convite da Palavra de Deus proclamada neste Décimo Domingo do Tempo Comum é a retomada de nossa identidade, como criaturas prediletas e amados de um Criador louco de amor por nós. Afogados no consumismo, no egoísmo, no individualismo e no hedonismo de nosso tempo, somos desafiados a testemunhar uma comunidade humana mais configurada com nosso Criador. Jesus é nossa referência: ele nos deixa a receita aparentemente simples, mas que no hodierno de nossas relações nos desafia: o amor gratuito! Com quanta facilidade dividimos, mentimos, enganamos a nós mesmos e aos outros. Gosto de dizer que não existem pessoas feias, mas têm as se tornam feias pelas atitudes de egoísmo e de indiferença para com os que mais precisam de nosso testemunho, de nossa solicitude, nem sempre à disposição de quem está próximo e muito menos de quem não conhecemos, mas sofrem.

            Celebramos no mês de Junho, inúmeras festas: as Festas Juninas, que ressaltam os três Santos mais comemorados: Santo Antônio, São João e São Pedro; o Aniversário de Criação de nossa Diocese e sua Elevação à Arquidiocese; o Aniversário de nossa Cidade, as Celebrações Litúrgicas da Santíssima Trindade, Corpus Christi, o Congresso Eucarístico Internacional em Dublin, na Irlanda, Sagrado Coração de Jesus e Coração Imaculado de Maria. Incontáveis são as Quermesses e Comemorações com fins lucrativos. São, também, incontáveis as Celebrações que se utilizam da Liturgia, para explorar a dimensão psico-emocional das pessoas. Muito barulho, muito “desopilar de fígado” e pouco compromisso com a promoção da dignidade de nossos irmãos em dificuldade. A missionariedade e o discipulado de nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor esperam de cada um, compromisso concreto de conversão, coerência entre o que rezamos, cantamos, celebramos e vivemos! Enquanto não assumirmos uma Teologia da Ternura, pouco faremos para que nossa cultura de morte se transforme em verdadeira Cultura de Vida!

            Iniciamos, neste domingo, a preparação da Celebração do Padroeiro de nosso Espaço Cultural de Espiritualidade, Santo Antoninho. Nossa festa será a liturgia bem celebrada, a bênção e distribuição de pães aos nossos irmãos menos favorecidos e a visita sacerdotal às pérolas de nossa Reitoria: os enfermos e os idosos, que já não conseguem celebrar conosco em nossa Igrejinha, neste dia 13 de Junho. Assim seremos para eles A Igreja do Ir, levando-lhes o alimento sacramental: o Viático – Jesus em Viagem, o pão bento, nossa ternura, carinho e gratidão pela vida que dedicaram, enquanto puderam, à nossa amada Santo Antoninho!

Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Gn 3,9-15; Sl 129 (130); 2 Cor 4,13-5,1 e Mc 3,20-35)