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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

SEGURANÇA PÚBLICA QUE DÁ MEDO!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

Nos Evangelhos, Jesus insiste em afirmar, que o Reino de Deus é um Reino de Justiça e de Paz. Portanto, onde não há justiça, não há reino. O Papa Francisco insiste em superarmos a Cultura do Descartável na Cultura do Encontro e da Paz, da Fraternidade e da Ternura!

 

            A Segurança Pública não garante mais “segurança” ao cidadão. Produz medo. E o medo nos rouba a paz, porque cresce, em nossas relações interpessoais, a incredulidade. As fobias, os traumas, as crises de medo em geral e sobre o futuro, e as indecisões do presente, nos fecham para todas as experiências que deveríamos ter com Jesus Cristo. O medo é uma das fortalezas que mais está presente em nossa mente. As pessoas têm medo umas das outras. Inverteu-se o espaço da liberdade. Há medo na família, na escola, no trânsito e em todos os lugares.

 

            Falar em Segurança Pública neste contexto nos questiona seriamente. Houve uma inclusão do crime organizado que aprisiona os cidadãos de boa vontade. As tantas casas de detenção construídas nos últimos anos, inclusive as de segurança máxima, oferecem mais liberdade – incutindo medo – do que os inúmeros – centenas de condomínios fechados, que viraram, por sua vez, prisões de seus habitantes.

 

            O tráfico de drogas, de armas e as tantas corrupções de agentes de segurança, questionam e colocam em risco a vida de pessoas inocentes, que sentem medo de ir e vir, de dormir e não acordar. Até mesmo o Poder Judiciário em sua Suprema Corte está em descrédito, por um fio da banalização.

 

            Entre tantas tragédias que a mídia nos elenca diariamente, vivi uma experiência ímpar, que passou bem perto de mim. Uma senhora trabalhadora, honesta e sofredora, mãe de quatro filhos, perdeu numa mesma tarde de domingo o marido e o filho mais velho, que nadando embriagados num rio, morreram afogados. Ela não suportou a perda e sofreu um derrame cerebral. Seis meses depois, inerte à mesa, o filho alimentava-a, dando-lhe o almoço na boca. Ela não se mexia. A filha mais nova, de apenas 16 anos, envolvida com um traficante de drogas, apareceu com o namorado. Este matou o jovem de 27 anos, que alimentava a mãe, com três tiros, e, o rapaz caiu morto sobre o colo da mãe. O outro irmão, de 19 anos, reagiu e também foi morto, caindo sobre o irmão. Dona Zulmira, com dois filhos mortos sobre o colo, só conseguia olhar para eles, pois já não se mexia, nem para um último abraço, devido ao derrame. Uma verdadeira “Pietà” – Nossa Senhora da Piedade – de nossos tempos.

 

            Enquanto não investirmos na educação, a injustiça e a insegurança públicas, geradoras de medo, ao invés de encontros que gerem paz, o medo de viver dentro da própria casa, ou de ser alvo de balas perdidas, continuarão.

                       

            Todos os dias são noticiados furtos, latrocínios e invasões até de condomínios guardados por segurança sofisticada. Sei do esforço das Polícias em proteger os cidadãos de bem, mas sempre me pergunto, como os receptadores dos furtos continuam dando a última palavra nesse mundo do crime, que gera uma segurança pública que dá medo?