Padre
Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e
Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão
Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da
Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da
Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e
Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
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              Inspirado por inúmeras homilias do
  Papa Francisco nas Celebrações Matutinas na Casa Santa Marta em Roma, rabisco
  hoje uma breve reflexão que o Santo Padre retoma incansavelmente! Não sei
  quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do
  "melhor". Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor
  emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o
  melhor vinho. Bom não basta. O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa
  os outros para trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque,
  afinal, estamos com "o melhor".            Isso até que outro
  "melhor" apareça e é uma questão de dias ou de horas até isso
  acontecer. Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também.
  E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que
  podemos ter. O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a
  viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno
  desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de
  olho no que falta conquistar ou ter.            Cada comercial na TV nos convence
  de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz
  imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando
  melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.            Aí a gente não relaxa, porque tem
  que correr atrás, de preferência com o melhor tênis. Não que a gente deva se
  acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do
  que suficiente. Se não dirijo a 140 Km/h, preciso realmente de um carro com
  tanta potência?            Se gosto do que faço no meu
  trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me
  matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa?            E aquela TV de não sei quantas
  polegadas que acabou com o espaço de minha sala? O restaurante onde sinto
  saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"? Aquele
  xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um
  melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser
  trocado pelo "melhor cabeleireiro" da cidade?            Tenho pensado no quanto essa busca
  permanente do melhor tem nos deixados ansiosos e nos impedido de desfrutar o
  "bom" que já temos. A casa que é pequena, mas nos acolhe. O
  emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que está velha,
  mas nunca deu defeito.            O homem que tem defeitos (como
  nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos". As
  férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, ou a pandemia
  não deixou, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo. O rosto que
  já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O
  corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.             Será que a gente precisa mesmo de
  mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do "sempre melhor"
  a gente nem percebeu? O que essa terrível pandemia que nos surpreendeu a
  todos tem a nos ensinar, a não ser de que podemos ser felizes com bem menos,
  do que continuar correndo atrás do que consideramos “sempre o melhor”? Segundo Shakespeare, “Sofremos demais pelo pouco
  que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos”. E continuamos
  obcecados cada vez mais pelo que achamos ser “sempre o melhor”.  |