Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Contemplarei,
justificado, a vossa face;
e serei
saciado quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15).
Neste
Décimo-Quinto Domingo do Tempo Comum, celebramos mais uma vez a
páscoa de Cristo, a qual se manifesta nas comunidades que vivem a Palavra de Deus
e nos corações que se deixam transformar por ela. Nosso coração quer ser
terreno fértil para acolher a mensagem de vida e liberdade semeada por Jesus.
Assim como a terra fértil recebe a semente e a faz
germinar e crescer, vamos acolher a Palavra de Deus, que Jesus deseja semear em
nosso coração.
A Palavra de Deus tem muita força. A semente da palavra
tem tudo para crescer e frutificar, mas precisa ser acolhida num coração aberto
e generoso. Nós e a criação inteira ansiamos pela libertação de toda escravidão.
Jesus, como semente lançada à terra, frutificou e faz-se
pão para nosso alimento. Participar da Eucaristia significa acolher a semente
da palavra
viva.
“Jesus
saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia”. Uma multidão se
reuniu em torno dele. Como estavam à beira do mar, Jesus entra numa barca para,
de lá, falar àquele povo todo. Fala em parábolas. Entre elas, conta a parábola do
agricultor fazendo a semeadura. Gosto de pensar que a madeira
está sempre presente na vida de Jesus: nasceu numa manjedoura de madeira
entre animais e foi adorado primeiro pelos pastores, depois pelos magos; trabalhou
com seu pai adotivo, marceneiro e, que lidava com madeira
na infância; tomou um barco de madeira do qual fez sua Mesa
da Palavra, proclamando, anunciando, explicando a Palavra de Deus, comparando-a a semente
semeada na terra boa dos corações dóceis ao Seu convite de produzir frutos
saborosos de amor, verdade, justiça, liberdade e de paz. Finalmente, Deus
reservou um Madeiro – a Cruz, como trono que O glorificou.
O que será que Deus está a nos dizer, ao insistir sobre a
importância de sua Palavra?
Em primeiro lugar, é bom lembrar que, para a linguagem
bíblica, essa Palavra é muito mais que um
som vocálico, pois manifesta a própria essência de Deus: ele fala libertando.
De fato, a Palavra (em hebraico: dabbar)...
é bem mais que a pronúncia de sons; esse termo significa o que está por trás, ou seja, o coração, a força, a essência de
quem fala. A Palavra de Deus, portanto, é
a própria essência de Deus que age nos acontecimentos, transformando tudo em
libertação e vida. Ele é capaz de, mediante sua Palavra,
criar o mundo, pondo ordem no caos (cf.
Gn 1).
Muito mais quando o povo vive numa situação de morte, bem pior que a terra
árida, sua Palavra fecundará novamente
a vida desse povo, resgatando-o da situação de não vida em que se encontra.
Quando Jesus conta a parábola do semeador, ele está falando
de si mesmo. Ele é a própria Palavra vida do
Pai, agora encarnada (cf.
Jo 1,14), ou seja, ele é o verdadeiro acontecimento divino de
salvação no meio de nós, a presença viva do mistério salvador do Pai. Por isso,
Jesus diz a seus discípulos: “Felizes vós, porque vossos olhos vêem e vossos ouvidos
ouvem. Muitos profetas e justos desejaram ver e ouvir o que vedes e ouvis, e
não viram nem ouviram” (Mt
13,16-17).
Acontece que a própria Palavra,
que é Jesus, nos leva pela parábola a constatar uma triste situação: diante
deste acontecimento de salvação que ele é, existem pessoas que ouvem e veem
exteriormente, mas não percebem interiormente o que este acontecimento
significa. São os de “coração insensível”, gente tão fechada, travada, cheia de
máscaras e couraças criadas pelos apegos e pelas preocupações deste mundo, que
ouve de má vontade e fecha seus olhos, para não ver nem ouvir, nem compreender
com o coração, perdendo a chance de se converter e ser curada pela Palavra (cf. v. 15). A Palavra
não cria raízes em tais pessoas. E as causas de tudo isso, onde estão? Jesus
mesmo as expõe no evangelho deste domingo: é “o maligno” (isto é, as forças
contrárias a Jesus e ao Reino de Deus), a superficialidade, a desistência na
hora da dificuldade, as “preocupações do mundo e a ilusão da riqueza”. Tais causas,
ainda hoje são as mesmas: a estratégia das forças antievangélicas, consumismo,
idolatria da riqueza.
Graças a Deus, há, entretanto, gente que ouve a Palavra e a compreende. São pessoas, cujo
corpo é um chão aberto, generoso, preparado... num coração acessível e profundo
ao mesmo tempo.
Pessoas simples que, por serem assim, acolhem e assimilam
facilmente e em profundidade a Palavra
(isto é, o acontecimento salvador chamado Jesus)
e produzem abundantes frutos de solidariedade, justiça e paz. Até que ponto
somos tais pessoas?
Importa, pois, prepararmos o chão dos corações para que
possam receber a Palavra: combater os fatores
de “endurecimento” (dominação ideológica, alienação, consumismo, culto da
riqueza e do prazer etc.). Em vez do fascínio dos sempre novos (e tão
rapidamente envelhecidos) objetos do desejo, a formação para a autenticidade e
simplicidade, a educação libertadora com vistas ao evangelho. Então a Palavra, que desce como a chuva do céu,
poderá penetrar no chão e fazer a semente frutificar.
Vale a pena todo esse trabalho de conversão e assimilação
da Palavra que é Jesus, o Cristo,
ressuscitado, em nossos corpos. Vale a pena sermos assíduos nesse trabalho,
pois, como ouvimos na segunda leitura, “os
sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve
ser revelada em nós”. De fato, junto conosco toda a criação espera ser
libertada da escravidão e, assim, participar da liberdade e da glória dos
filhos de Deus. Com a graça de Deus, um dia vamos chegar lá.
Lançamos a semente da Palavra
de Amor de Deus! Somos convidados a examinar que tipo de terreno
é o nosso coração para acolher e deixar frutificar nas entranhas de
nossa intimidade tamanho AMOR!
Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão,
nosso abraço amigo,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Is 55,10-11; Sl 64; Rm 8,18-23 e Mt
13,1-23).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2020, pp. 49-56 e
Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2020) pp. 40-44.