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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM


SÍNODO SOBRE A AMAZÔNIA
“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Quem se eleva será humilhado e
Quem se humilha será elevado” (Lc 18,14b).

            Neste Trigésimo Domingo do Tempo Comum, continuamos acompanhando Lucas, que nos fala sobre a oração. Hoje a insistência é sobre como orar.
            A parábola do fariseu e do publicano, a última das parábolas próprias de Lucas, marca a centralidade da celebração e da pregação deste domingo. Certamente o merece, mas convém procurar que a assembleia penetre no sentido da parábola e não fique na superficialidade de dizer que o fariseu é mau e o publicano é bom.
            Pode ser perigosa uma interpretação mal feita: se justificaria o pecado e se desestimularia a observância dos preceitos sagrados, que são importantes, mas não bastam. A justificação por meio do reconhecimento do próprio pecado e pela fé no amor de Deus é o tema de fundo desta parábola.
            Tanto o fariseu quanto o cobrador de impostos eram pessoas de fé. Também para nós, hoje, o problema não é tanto o contraste entre fé e falta de fé, mas entre modos diversos de colocá-la em prática. Ninguém tolera que uma pessoa religiosa viva de forma errada. Todos sentimos simpatia por uma pessoa de bem, independentemente de sua religião.
            A oração do publicano torna-se um modelo não só de oração, mas também da atitude de quem reza. Nossa oração deve partir de uma atitude fundamental de humildade, reconhecendo que não podemos nos salvar a nós mesmos. E igualmente isso que ouvimos na primeira leitura do Livro do Eclesiástico: a humildade é indispensável para que a oração possa atravessar as nuvens e obter resultado. A oração do Salmo 33 se contrapõe aos soberbos que têm o coração atribulado: o Senhor está perto de quem tem o coração ferido.
            A salvação da pessoa humana somente poderá vir de Cristo, o qual, embora sendo de natureza divina, humilhou-se a si mesmo até a morte e morte de cruz, e, por isso, foi elevado na glória. O cristão só se pode gloriar da cruz. Foi assim que São Paulo entendeu bem expresso no final de sua vida: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro (1Tm 1,15). Quando era jovem fariseu, não teria dito palavras semelhantes, porém depois ele se converteu e experimentou, em si mesmo, a obra poderosa do Senhor que o libertou do mal, ou seja, de sua orgulhosa autossuficiência.
            O centro de tudo é este: saber-se e sentir-se pecador e fraco. O farisaísmo está hoje presente no mundo cristão tanto no contexto individual quanto no comunitário. No contexto individual, devemos confessar que, muitas vezes, educamos nossos cristãos no farisaísmo: damos a eles as leis como norma fundamental de suas vidas. No contexto comunitário, o farisaísmo se manifesta em grupos da Igreja que se crêem os bons, os cumpridores, os fiéis. Estes rezam para que os que não pensam como eles se convertam, porque estão errados! Onde está radicado o mal do farisaísmo? Na nossa visão de Deus, a quem vemos como um comerciante que vende o céu em troca de obras humanas. Esta parábola prepara muito bem a teologia paulina da justificação que Deus concede a quem não pode se justificar a si mesmo. Esta justificação se obtém por meio da cruz de Cristo, e o Batismo é o seu instrumento.
            Aproximar-se de Deus consiste em abandonar o próprio egoísmo para encontrar a felicidade em Deus. Os santos sempre se consideravam pecadores: quanto mais perto da luz se está, mais se percebem as manchas do pecado em nós. Quando se toma consciência do pecado, então, e somente então, aparece Deus com a promessa da salvação.
            Deus salva os que não têm como se salvar: todos nós. Cristo, no evangelho, não louva a situação humana de pecado do publicano, nem sua indigência moral, sua escassa prática religiosa. Louva, isto sim, seu arrependimento, sua humildade, seu não julgamento dos demais. Jesus também não condena o fariseu por ser religioso, por levar uma vida moral digna, por fazer jejum e dar o dízimo. Critica sua soberba e o julgamento que faz dos outros.
            Em 2007, o Santuário Nacional de Aparecida, sediou a Vª Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, debatendo, como tema central a Missão, sob o lema: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham vida.” Marcado pelas palavras “missão” e “missionários”, o texto base resultante dessa conferência (presidido pelo Papa Francisco, o então Dom Jorge Mario Cardeal Bergoglio) constitui um grande entusiasmo para impulsionar a forma como nossa Igreja, na América Latina e no Caribe, propõe e incentiva a missão.
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 35,15-17.20-22; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.16-18 e Lc 18,9-14)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2019, pp. 92-95 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro de 2019), pp. 57-63.