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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

MÊS DA BÍBLIA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
 “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir;
foste mais forte, tiveste mais poder...” (Jr 20,7ª).

O Vigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum, primeiro do Mês da Bíblia, reflete, contempla e agradece a vida do Povo Brasileiro, suas conquistas e seu clamor por justiça, igualdade, respeito e cidadania nesta Semana da Pátria! Vivemos uma realidade que clama por reconciliação e paz. Supliquemos à Virgem Conceição Aparecida que olhe para o Povo Brasileiro, do qual é protetora.
            Não é fácil renunciar a bens e privilégios, mas é fundamental abandonar maneiras velhas de pensar e agir, para poder seguir o evangelho. Convocados a esse seguimento, celebramos a páscoa de Jesus, a qual se manifesta em todos os que perdem a vida por amor ao reino.
            A palavra de Deus cativa e compromete as pessoas. Quem busca assumir o projeto de Jesus experimenta pessoalmente a verdade de que os sistemas do mundo não combinam com o evangelho de Jesus Cristo.
            A palavra de Deus nos seduz e nos compromete com seu projeto. O seguimento de Jesus exige renúncia e comprometimento. O verdadeiro culto que agrada a Deus é fazer sua vontade.
            Nós podemos desconfiar de uma Igreja que não conhece o martírio. Por quê? Porque o caminho dos cristãos não é diferente do caminho de Jesus. É feito de incertezas, mas também de coragem e esperanças; de lutas, mas também de vitórias; de cruz, mas também de ressurreição e vida; de não conformismo, mas também de compromisso com o projeto de Deus. Disso nos falam Jeremias, Jesus e Paulo. Pedro, no evangelho deste domingo, representa o medo que temos das consequências do cristianismo que enfrenta as forças contrárias à vida; Jeremias é a voz dos que sofrem fortemente os apelos da Palavra irresistível; Jesus nos mostra o caminho da vitória; Paulo nos fala do verdadeiro culto agradável a Deus. A Palavra deste domingo, em síntese, nos encoraja no testemunho cristão, evitando que a mediocridade nos conduza a um beco sem saída.
            Todos nós, como Jeremias e como Pedro, passamos pela tentação de querer apossar-nos apenas do aspecto glorioso do mistério pascal, negando sua dimensão de renúncia à própria vida. A tentação do ser humano moderno é a realização humana através das próprias forças. Esquece-se de que a pessoa humana transcende-se a si mesma a partir de Deus. É só perdendo-se a si mesmo pela doação da própria vida ao próximo por causa de Cristo que ele se realiza de verdade.
            O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser diferente do destino do mestre. O evangelho deste domingo é claro: Para estar com ele são exigidas duas condições: Renunciar a si mesmo é deixar de lado toda ambição pessoal. Em outros termos, temos aqui a repetição da primeira bem-aventurança: ser pobre (cf. Mt 5,3). Carregar a própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça que provoca o surgimento do Reino... É a última bem-aventurança, a dos perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5,11). Ser discípulo de Jesus, portanto, é reviver a síntese das bem-aventuranças.
            A lição que Pedro recebe ensina-nos a olhar para Cristo, para ver nele a lógica de Deus; a olhar para os pobres, para ver neles o resultado da estratégia do Adversário... Pois o sucesso e a ganância produzem os porões de miséria. Devemos analisar o sistema de Deus e o sistema do Adversário hoje. O sistema de Deus proíbe ao homem dominar seu irmão, porque Deus é o único dono; os sistemas contrários são baseados na dominação do homem pelo homem. Quem quiser ser mensageiro do Reino de Deus experimentará na pele a incompatibilidade com os sistemas deste mundo. O mensageiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela sociedade como corpo alheio. Tomando consciência disso, vamos rever nossa escala de valores e critérios de decisão. A mania do sucesso, o prazer de dominar, de aparecer, de mandar... já não valem. Vale agora o amor fiel, que assume a cruz, até o fim.
            Embora muitas pessoas não gostem de pensar e muito menos de falar no assunto, procuro sempre imaginar-me, quando vou a algum velório, no lugar daquela pessoa confinada num pedaço de madeira: E se fosse eu que estivesse no lugar da pessoa falecida? Estaria preparado para encontrar-me diante de Deus? E como estaria? De mãos cheias ou vazias de boas obras e gestos de caridade? Renunciar a própria vida e consumir-se pelo anúncio do Reino de Deus é parecer como uma vela de cera, que quanto mais se derrete, maior e mais bela é a chama que ilumina e encanta o olhar de quem a contempla. Temos deixado o fogo abrasador de o Espírito Santo acender-nos como velas, luzes que iluminem e encantem a vida de nossos irmãos?
            A Palavra nos convida à docilidade daquilo que o Mestre espera de cada um: tanto dos ministros ordenados, como daqueles que não são ordenados, mas também Sacerdotes, por conta do Batismo que os adotou como herdeiros da Vocação ao Amor!
            Consigamos transformar em nossa vida pessoal e também pastoral: O Poder em Serviço; Os Bens (materiais e intelectuais) em Partilha; O Prestígio em Humildade, buscando viver nosso ministério, configurados com o Mestre, a partir da Conversão, Coerência e Bom Senso sempre mais conscientes! Superemos os “Pecados Paroquiais: Saudosismo, Milindrismo e Estrelismo”, abrindo-nos ao diferente, ao novo, como tanto nos sugere e pede nosso Papa Francisco!
            Ainda tem-se a sensação clara, de que tais apelos do Papa ainda não chegaram às bases de nossas Comunidades. Sua insistência numa Igreja mais simples, mais pobre, menos hipócrita e descomplicada, ao invés ainda demonstra muitas ostentações, arrogâncias, abusos de poder sejam eles eclesiais, políticos e comunitários. Não sei se o Papa ficaria feliz ao saber de nossas relações inter-eclesiais, entre pastores e rebanho. Ainda há muitos que surram suas ovelhas sem a tão insistente Igreja da Misericórdia sonhada pelo Papa. Outro fator muito evidente e feio é a desobediência reinante entre nós. Descuidar das orientações do Papa, reiteradas pelos Bispos e Superiores é mera hipocrisia. Quem sabe assumir nossa cruz, renunciar a nós mesmos, não seria uma conversão para valer, como lemos tão claramente no Documento nº 100 da CNBB: Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia – A Conversão Pastoral da Paróquia?

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Jr 20,7-9; Sl 62(63); Rm 12,1-2 e Mt 16,21-27).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2017, pp. 20-22 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro/2017), pp. 6-10.