Pesquisar neste blog

quarta-feira, 15 de março de 2017

O PAI VÊ O SEGREDO!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Ao longo da Quaresma, ouvimos Deus, o nosso Pai, falar carinhosamente ao nosso coração chamando-nos a nos voltar para Ele. Quaresma é o tempo propício para um silêncio do coração para ouvir o que realmente nos interessa.
           
Nestes quarenta dias, que iniciamos recebendo cinzas sobre nossas cabeças, teremos muitas oportunidades de fazer revisão de nossa vida, avaliarmos as escolhas e melhorar nossas decisões olhando para frente, para o caminho que está pronto para nele andarmos. Essa peregrinação de Quarenta dias é o nosso êxodo, nossa caminhada de libertação para celebrarmos a vitória de Cristo Ressuscitado em nossa vida e no mundo.
           
Para este tempo santo, o que podemos carregar sem pesar nossas costas e para alívio de nossa consciência são os chamados “exercícios quaresmais” que nos ajudam a aproveitar a paisagem do caminho sem nos perder na estrada: Oração, Jejum e a Esmola.
           
A Quaresma é tempo próprio de Oração, a atitude que nos recorda sempre que somos filhos de Deus, que a Ele recorremos como o Pai bondoso e cheio de compaixão. Na oração nos relacionamos pessoalmente com Deus, abrimos nosso coração e confiamos em seu amor. A oração nos lembra de nossa responsabilidade com a criação; somos “Herdeiros de Deus”, fiadores dos bens naturais para manter viva a “vida no planeta”.
           
Nosso Jejum é oportunidade para lembrar que Deus nos criou para a liberdade; não fomos criados para nenhuma escravidão nem para os vícios. Jejum é a atitude de quem vence o consumismo, rejeita a ganância e respeita a natureza e não lhe esgota seus dons.
           
E a Caridade, ou seja, a “Esmola”, só tem verdadeiro significado como consequência da oração e do jejum. A prática da caridade nos permite “ver o outro como um dom”!  Nossa esmola, como ensina o evangelho, deve ser praticada em segredo, sem propaganda, pois o “Pai sabe o que está no segredo” de nosso coração. O Pai vê o Segredo!
           
Oração, Jejum e Esmola são três atitudes que nos ajudam a responder aos apelos da Campanha da Fraternidade deste ano. Vemos um descaso total de autoridades, das pessoas e das grandes empresas que, movidos por ganância e ávidos por lucro destroem os nossos biomas e assim ameaçam a vida.
            Os desastres e tragédias ambientais são fruto da omissão do Estado na preservação da água, da fauna e da flora. Em Mariana e em Santo Antonio de Posse a imprensa noticiou o tamanho do desastre que compromete as fontes de água, as matas e animais. O surto de febre amarela em Minas é resultado daquele mar de veneno que estourou. E do jeito que vai, não vai sobrar nem a mula sem cabeça, nem o boi tatá. Entrarão para as estatísticas dos “animais em extinção”
            A ganância empresarial está fazendo adoecer o “pulmão do mundo”, a Amazônia, e se não houver cuidados imediatos, fica irreversível. Depois, não adianta chorar... O consumismo de nossos dias cria uma população mais egoísta, autossuficiente e pouco fraterna que exige seus direitos e não reconhece o outro como irmão; o consumismo gera uma fome de coisas desnecessárias para disfarçar o vazio de cada ser humano.

            Assim mesmo, a caridade é a atitude que concretiza o amor gerando partilha generosa que defende a vida dos mais pobres para que recebam o que é devido e não vivam de migalhas; a caridade não é refresco de consciência pesada, mas consequência da oração sincera, do jejum libertador que nos faz acordar para a missão querida por Deus. A caridade, cheia de compaixão, transforma a realidade, nos aproxima dos irmãos e nos faz construtores da sociedade que respeita e valoriza cada pessoa, “dom de Deus para nós”.


(Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)