Pesquisar neste blog

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

Neste Oitavo Domingo do Tempo Comum, que neste ano antecede o início da Quaresma, ainda no contexto das bem aventuranças, o Senhor nos propõe romper com o culto ao dinheiro, que é uma idolatria, e ter confiança em Deus Pai, sempre solícito amorosamente às nossas necessidades e preocupações, para que, disponíveis, concentremos todas as energias na busca de seu Reino.
            Em quase todas as regiões do Brasil, acontecem, nestes dias, as festas de carnaval que revela a carência de festa que existe nas pessoas. Para nós, um convite a dar às nossas celebrações um sabor pascal, um clima de festa, de convívio alegre de irmãos que, na liberdade de filhos e filhas entram na intimidade amorosa do Pai.
            Neste domingo, Jesus nos pede para escolhermos entre os bens econômicos, o dinheiro e Deus. A nossa resposta fundamental ao chamado de Deus é a confiança total no Pai. Viver a justiça do reinado de Deus é deixar-se guiar pela palavra de Jesus. Ele não ensina uma vida de “sombra e água fresca”, mas a luta pela justiça, que é o bem para toda a humanidade e toda a criação.
            A palavra de Jesus é muito atual para esse tempo de desrespeito às matas, às águas, à natureza. Viver em concordância com as regras naturais está mais de acordo com o projeto de Deus. O que a ganância humana criou não se compara com a sabedoria da natureza, criada e mantida por Deus.
            Como mãe que jamais abandona seus filhos, Deus acompanha, abençoa e ama seu povo que sofre debaixo da ganância dos opressores. Sempre haverá uma saída, esperança de que a justiça reinará. A construção de um mundo novo, de uma sociedade na qual existam menos desigualdades é possível e o dia de amanhã não custará preocupações, mas haverá possibilidades e alternativas de a humanidade se aproximar da vida sábia das aves e dos lírios, mantendo confiança ilimitada em nosso Deus e Pai. A justiça torna-se sinônimo de amor misericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão reconciliador, de igualdade respeitosa.
            Quem vive calculando como ganhar e enriquecer mais não pode viver confiante na generosidade e cuidado de Deus. A confiança na providência divina não é alienante, mas libertadora e formadora de uma solidariedade comprometida especialmente com os mais necessitados. Quanto maior a confiança, maior a responsabilidade e o engajamento na luta contra o consumismo, a submissão ao mercado e o endeusamento das coisas materiais.
            O que sustenta nossa confiança é a certeza da fidelidade de Deus à sua aliança.
            Na próxima quarta-feira, iniciamos, com a celebração de bênção e a imposição das cinzas, o santo tempo da Quaresma, preparando-nos, mais intensamente, pela escuta da Palavra e prática da oração para a celebração festiva da Páscoa (cf. SC, n. 109). A Campanha da Fraternidade, que realizamos neste período, ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a misericórdia. Neste ano, o tema da Campanha é: Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida” e o lema: “Cultivar e guardar a criação” (cf. Gn 2,15).
            Experimentamos a presença viva do Senhor na reunião de irmãos e na Palavra proclamada, saciando nossa fome e sede de justiça.
            Nossa participação na Eucaristia manifesta nossa confiança em estabelecer com o Pai uma aliança de amor e compromisso, fazendo uma escolha irrestrita por seu Reino. A Eucaristia nos impõe a opção radical por ele.
            O Evangelho deste domingo é belíssimo pelas duas comparações que o Senhor faz com a pessoa: os pássaros que não semeiam, nem colhem nem ajuntam em armazéns. Mesmo assim o Pai os alimenta, gratuitamente; os lírios que crescem no campo: não trabalham nem fiam, no entanto Deus os veste, mais suntuosamente do que o rei Salomão, também gratuitamente. Assim nos convida a renovarmos nossa maior confiança em Deus para nossas necessidades. Mas essa confiança implica num exercício: buscar em primeiro lugar o Reino de Deus! Todo resto Deus proverá!
            O Reino de Deus é um Reino de Justiça, perdão, partilha e misericórdia! Muitas pessoas, mesmo confiando em Deus, são privadas do necessário para uma vida digna! Alguém os vitima a isso: o desemprego, a falta de moradia, a saúde em crise, a economia avassaladora de impostos absurdos, a insensibilidade com os mais pobres, que não poucas vezes são tratados como “coisinhas difíceis e feias de serem ajudadas”.
            O Papa Francisco, conforme José Marins vem insistindo: “Temos que sair às periferias. Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e manchada por sair à rua, que uma Igreja doente por se fechar e pela comodidade de se agarrar às suas próprias seguranças”. Uma Igreja assim não confia em Deus, mas em si mesma apenas! “Não quero uma Igreja preocupada por ser o centro e que acaba enclausurada num emaranhado de obsessões e procedimentos... Não podemos ficar tranqüilos na espera dos nossos templos. Os Evangelhos convidam-nos sempre a correr o risco do encontro com o rosto do outro”.
            O Papa quer introduzir na Igreja o que ele chama “a cultura do encontro” e “da proximidade”. Está convencido de que “o que necessita hoje a Igreja é a capacidade de curar as feridas e dar calor aos corações para ajudar-se reciprocamente”. A meta da evangelização é o Reino, a vida plena de todos e para todos!
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 49,14-15; Sl 61(62); 1 Cor 4,1-5 e Mt 6,24-34).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2017, pp. 79-81 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2017), pp. 98-101.