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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Homilia para o Décimo Sexto Domingo Comum do Ano Litúrgico de 2012

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “Cristo deixou pastores instituídos para continuarem a guiar o seu povo, quer por prados e campinas verdejante, quer por vales tenebrosos. Eles são chaves indispensáveis à vida e à missão da Igreja. A preparação e o cuidado desses pastores se faz cada dia mais exigente e de responsabilidade de todos.

            Existem tantos pobres e famintos, abandonados e sem carinho. A comunidade eclesial, que celebra o pastoreio de Jesus Cristo, não pode cruzar os braços nem fechar os olhos diante da situação de tantos e tantos sofredores, ovelhas sem pastor.

            Pastor ou Pastora é quem tem responsabilidade pelo bem de outras pessoas. A atitude de Jesus nos lembra de que esta é a forma de ser de Deus, e também deve caracterizar a comunidade cristã.

            No seguimento de Jesus, somos ovelhas e pastores, convocados a viver a ‘compaixão/sentir com’ os pobres, a ser ‘pastores amorosos’ responsáveis pela sorte, pela vida, pela paz, pela felicidade dos irmãos e irmãs.

            Jesus traz a paz a todos sem exceção, porque vem da parte de Deus, e, nele, nós somos filhos de Deus. A divisão entre judeus e pagãos, crentes e não crentes, brancos e negros, homem e mulher ou qualquer outra oposição não pode ser aceita por nós. Não tem lugar na comunidade eclesial. A comunidade é chamada a exercer o pastoreio de Jesus, ajudada e animada pelos pastores convocados e instituídos.

            O convite de Jesus para ir a um lugar tranquilo e descansar um pouco não é detalhe que destoa no Evangelho. Criemos em nossas comunidades espaços para o descanso, o lazer, a convivência prazerosa. A vida cristã não se reduz a preceitos, pecados, orações, devoções, abstinências, jejuns, esmolas... mas proporciona também experiências fraternas na gratuidade, no aconchego, no convívio alegre e fraterno.

            Jesus Cristo é a misericórdia de Deus que nos acompanha ao longo da vida e nos conduz à casa do Pai, para aí habitarmos eternamente.

            Como  rebanho, encontramo-nos  no regaço de nosso Pastor para refazer as forças e ouvir sua Palavra. A celebração nos afasta da correria da missão e dos afazeres da vida, para permanecermos na intimidade do Senhor, experimentarmos o seu carinho e a sua gratuidade, e prosseguirmos mais animados em nossa caminhada pascal. Somos tocados pelo seu olhar compassivo. Sua presença amorosa se faz sentir na comunidade de irmãos que juntos celebram o sacramento de sua Palavra, que ecoa do meio dos acontecimentos, da homilia, dos cantos e do silêncio. E, num diálogo de aliança e compromisso, respondemos, professando nossa fé e suplicando, desejosos que seu Reino venha logo.

            Mas é no rito eucarístico que vivemos a plena comunhão da aliança com o Senhor. Agradecidos, oferecemos com Ele nossa vida ao Pai que nos brinda com a ceia, sacramento da entrega de seu Filho na cruz.

            Na comunhão de sua aliança, deixamo-nos tomar de compaixão pela multidão faminta, sofrida e desesperançada ao nosso redor. Pela força do Espírito, como bons pastores, assumimos doar nossa vida para que o mundo tenha vida e alegria.

            ‘O coração compassivo de Jesus acolhe a todos os que se aproximam dele e nunca decepciona ninguém [...] Só Deus não decepciona. Nós nos decepcionamos constantemente, por conta de nossos limites. Mas se deixarmos Jesus assumir nossas fraquezas, Ele nos ajudará a melhorarmos em nossa missão. É preciso configurar-nos com Jesus, o Bom Pastor, vivendo como Ele vive em nossas relações pessoais, comunitárias, eclesiais, políticas e sociais. [...]

            O Senhor é o verdadeiro Pastor que conduz por caminhos retos e cheios de compaixão. As lideranças e toda a comunidade são convidadas a orientar sua prática por Jesus, que faz cessar as divisões e leva todos ao Pai.

            O profeta Jeremias faz severa crítica aos responsáveis pelo povo que não cumprem seu dever [...] Aqui são contemplados os ministros ordenados e instituídos, os agentes de pastoral e coordenadores de nossos movimentos eclesiais, nossos políticos (conheçamos bem os candidatos para as próximas eleições, principalmente os que pretendem depois de inúmeras vezes reelegerem-se ao Legislativo). [...] A compaixão e a ternura de Jesus, pastor messiânico, diferenciam-se nos dos outros pastores. Deus não exclui nenhum povo, ele quer que todos sejam ‘povo de Deus’. A mesa da eucaristia nos alimenta e restaura nossas forças para sermos bons anunciadores do reino’ (cf. Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2012, pp. 69-71).

            Como bom pastor, Jesus se compadece dos pobres, dos famintos, dos desempregados e abandonados à própria sorte. Solidariza-se com os nossos sofrimentos. Guia-nos, fortalece-nos e defende nossa vida em meio aos reveses e sobressaltos do dia a dia” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 22, pp. 71-77).

            O convite da Palavra deste Domingo para cada um, mergulhado em sua vocação, missão e responsabilidade, é de uma vez por todas configurar-nos com Jesus Cristo, o Bom Pastor! Isso só será possível se nos despirmos de nossa arrogância, prepotência, ganância, de nosso carreirismo, busca de prestígio e poder: o querer ser sempre melhor que os outros. Também precisaremos esforçar-nos para superar entre nós, pastores e ovelhas, a inveja, a competitividade, o individualismo e a indiferença com nossos semelhantes. Quantas situações conhecemos, em que nos alegramos com os aparentes fracassos de nossos irmãos, até mesmo no ministério? Falamos em fraternidade sacerdotal, porém mal nos cumprimentamos, e quando possível falamos mal de nossos próprios irmãos, escondendo nossos defeitos atrás dos deles. Coisa feia!... É interessante que não confiamos uns nos outros. Antes, corremos uns dos outros, julgamos mal com mais rapidez do que oferecemos nossa ajuda. A falta de fraternidade presbiteral e comunitária; a concorrência entre uma Comunidade e outra, são contratestemunhos que espantam muitos fiéis de nossas Igrejas. Tais situações escandalizam os menos evangelizados e nos garante como prêmio eterno uma pedra de moinho ao pescoço e fundo do mar. Mas nem tudo está perdido. Ainda há tempo de conversão. Eis nossa sorte: Jesus Cristo, o Bom Pastor perdoa sempre. Permite que recomecemos a cada dia novamente. Mas é preciso querer viver a ternura que Jesus vive por cada um que procura esforçar-se para  ser configurado com Ele. Oxalá, nossa Igreja passe por uma profunda conversão e seja reconhecida, porque acolhedora viva a verdadeira Teologia Pastoral da Ternura!

            Sejam todos abundantemente abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo e fiel.
            Padre Gilberto Kasper

(Ler Jr 23,1-6; Sl 22(23); Ef 2,13-18 e Mc 6,30-34)