A FRAGILIDADE
HUMANA!
A maior fragilidade humana não está na complexidade de seu
organismo, mas se revela quando entra em crise. Os antônimos nos esclarecem
melhor a natureza das coisas ou, pelo menos, nos dão maior apreço pelos valores
positivos. Assim se aprecia melhor a luz quando se vê seu contraste com a
escuridão; o dia fica mais significativo quando comparado com a noite. A saúde
fica melhor ressaltada em comparação com a doença. Ou como se costuma dizer: só
conhece o valor da saúde quem ficou doente.
Há hoje um consenso em não restringir
a saúde a uma questão biológica. Ela envolve valores psicológicos, sociais,
espirituais, econômicos e religiosos. Pode ser definida como bem-estar físico,
psicológico, social, econômico, espiritual e religioso. A ausência de algumas
dessas dimensões constitui crise e deve ser considerada doença.
Pela constituição unitária da pessoa
humana, todos estes fatores se influenciam mutuamente. Uma disfunção orgânica
no ser humano não tem o mesmo significado que num animal ou numa planta. Por
isso não pode ser tratado do mesmo modo. É exatamente o que deveria distinguir
o médico do veterinário e do ambientalista. Nós somatizamos nossos problemas
psíquicos, sociais, econômicos e religiosos.
São João Paulo II, Papa, após longa
convalescença, resultante do atentado que sofreu na Praça São Pedro, escreveu
uma encíclica sobre o sofrimento, apontando para a dimensão redentora da
doença. São Paulo nos garante que tudo colabora para o bem daqueles que amam a
Deus. Portanto, a enfermidade não pode ser considerada apenas sob o prisma
clínico, nem superada apenas por ingredientes farmacológicos. Altíssima
percentagem das doenças tem fundo psicológico. Não serão certamente os
psicotrópicos que terão a última palavra no seu tratamento!
A questão do bem-estar é fundamental
para a vida humana. Faz parte das exigências da promoção do bem-comum. Não é,
pois, questão meramente individual. Seu tratamento segue o princípio da
subsidiariedade, que garante condições para que cada pessoa possa realizar-se e
viver condignamente na sociedade que integra.
Saúde não é, em primeiro lugar,
questão de hospital, do mesmo modo que cuidar da vida não é lamentar a morte.
Hospital é para doente que não tem condições de vida na sociedade. Assemelha-se
ao presídio, ao qual são recolhidas as pessoas que não conseguiram conviver
adequadamente com seus semelhantes. Não se compara à escola para onde vão os
que querem aprimorar-se para uma vida mais plena, nem à empresa que congrega as
pessoas capazes de dar algo de si.
Enfermidade é problema e indica
fragilidade. Mostra que somos mortais. Mas, em muitos casos, denota falhas
graves na prevenção e, mais ainda, excessos e desvios de comportamento,
principalmente na alimentação. Não somos só vítimas de pestes provocadas pelos
homens, mas também somos muitas vezes nossos próprios algozes, pelos excessos
de bebidas, de comidas, de drogas, de esportes, da velocidade, de
relacionamento humano, de falta de religiosidade... Toda carência e todo
excesso, seja de ordem material ou social, espiritual ou religioso, afeta nossa
vida (cf. Fonte: GRINGS, Dadeus. Cartilha
da Saúde – Um Apelo da Bioética. Presscom. Porto Alegre (RS), 2008, pp. 30-31).
A fragilidade humana espera de cada
cidadão, mudanças de hábitos com profunda conversão, coerência e bom senso!
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo