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quarta-feira, 31 de julho de 2024

NO BRASIL AGOSTO É O MÊS VOCACIONAL!

 NO BRASIL AGOSTO É O MÊS VOCACIONAL!


No Brasil agosto é o mês vocacional! E neste ano celebramos o Mês Vocacional no Brasil, que tem como tema:” Igreja: uma SINFONIA vocacional” e como lema: “Pedi, pois, ao Senhor da Messe” (Mt 9,38). É o Brasil inteiro rezando, num só coração, por vocações sacerdotais, diaconais, familiares, religiosas e leigas a serviço do Reino de Deus em nosso País com dimensões continentais!


Aos sete anos de idade, quando cursava o primeiro ano do Ensino Fundamental, nem bem falava o português, já que em casa falávamos o dialeto alemão Hünsrick. A Escola Sagrado Coração de Jesus da Congregação alemã das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria me alfabetizou utilizando-se desse dialeto para aprender o português, bem como me preparou naquele mesmo ano de 1964 para minha Primeira Comunhão, há 60 anos, no dia 4 de outubro. Minha primeira professora, coincidentemente minha prima, Irmã Fátima Kasper e a Irmã Neófita foram minhas primeiras catequistas. Sou profundamente agradecido, também, ao Padre Urbano José Hansen que fez de meu coração, pela primeira vez, o sacrário de Jesus Eucarístico. Jamais esqueci aquele dia, um dos primeiros mais lindos de minha vida. Já sentia muita vontade de ser padre. Prestava atenção no Pároco e dizia a mim mesmo, que um dia seria como ele. Maior ainda foi minha alegria, porque depois da Primeira Comunhão, pude também, ser instituído Coroinha. Quanta gratidão!

Reconheço que desde a infância fui um moleque muito peralta, arteiro, curioso e questionador. Sempre queria saber o “por que” das coisas. Quis entender como a Irmã Fátima conseguia desenhar em trinta folhas brancas, frutinhas, florezinhas, animais, casas e árvores, todas iguais. Éramos trinta alunos. Imaginei mil maneiras de como ela fazia aquilo. Devia passar a noite desenhando as trinta folhas, a fim de que no dia seguinte nós pudéssemos pintar aquelas figurinhas todas. Assim começávamos a conhecer e distinguir pedagogicamente formas, cores, nomes etc.

Certo dia fiquei escondido na sala de aula, durante o intervalo sem ser percebido. Fui à mesa da Irmã Fátima e abri um estojo de carimbos e almofada. Experimentei todos eles na capa e nas primeiras páginas da Cartilha do Mestre que se encontrava também sobre a mesa da professora. Foi quando entendi porque os desenhos de todas as folhas eram iguais. Senti grande alegria de curiosidade satisfeita.

Na volta do intervalo, os alunos todos em suas carteiras, a Irmã Fátima entrou na sala e quase desmaiou ao ver sua cartilha. Em voz severa e forte perguntou: Quem sujou minha cartilha de mestre? Um silêncio profundo se impôs e ninguém nem imaginava que teria sido eu, a experimentar os carimbos na cartilha da Professora. Ela pegou uma régua de mais de um metro, daquelas de aço que fazem um ruído e causam um ventinho ao ouvido, quando balançada, e foi de carteira em carteira perguntando se havia sido aquela ou aquele aluno. Alguns levaram uma boa “bordoada”. Ainda não existia o Código da Criança e do Adolescente! Eu sentia a dor de cada colega que apanhava por minha culpa, mas não tive a coragem de dizer que havia sido eu. Ao chegar próxima de mim, me fitou e disse: “Tu não podes ter feito isso, porque será padre!” Eu senti um alívio meio estranho, não tanto por não apanhar, mas pela profecia da minha primeira professora, que eu seria padre! Passadas algumas semanas, arrependido pedi desculpas à professora e aos meus colegas. 

É na pessoa de minha primeira professora, a Irmã Fátima Kasper, que agradeço e presto minha mais sincera homenagem a todos os meus professores. Lembro-me de todos com profunda gratidão! Sintam-se acariciados todos os Professores. Abençoada a vocação de ensinar e educar, mas também por despertarem tantas vocações ao serviço gratuito na Igreja de Jesus Cristo que vive, e de quem somos testemunhas através de nosso ministério!








Pe. Gilberto Kasper

         Teólogo

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O MUNDO ESTÁ ENFERMO!

 

O MUNDO ESTÁ ENFERMO!

                                                                                                     

Nas visitas aos Postos de Saúde Pública tenho conversado muito com nossos servidores e servidoras. Sinto um esforço sobrenatural para um bom atendimento. Encontro homens e mulheres vocacionados ao serviço “sacerdotal” da saúde, embora entre esses, se encontre também pessoas cansadas, exaustas e por conseguinte mal-humoradas. Em minhas observações percebo não raras vezes cidadãos mal educados e sem paciência, quando não grosseiros e agressivos. Costumamos criticar nossos servidores e, com razão em alguns casos. Mas somos o “País das Filas” e nem por último campeões em “furar filas”. A pior das enfermidades de nosso povo é a falta de educação básica. Tratamos mal por conta de inúmeros escândalos na Saúde Pública, muitas pessoas que não têm culpa de mais um dos nossos Sistemas Corruptos, principalmente o desvio de verbas destinadas à Saúde e que acabam em contas bancárias fantasmas sabe Deus de quem!

           Sinto-me profundamente envergonhado quando solicitado a usar de meu prestígio junto às autoridades competentes, para resolver o que deveria ocorrer normalmente. Dezenas de vezes fui procurado para interceder por pessoas mal atendidas, e que talvez sofressem mais, caso não tivessem o adequado atendimento: pessoas em pé durante quatro horas, sem serem atendidas; pessoas com derrame cerebral aguardando leito adequado em algum Hospital, atendidas em macas nos corredores de Postos de Saúde, tendo também eu que esperar mais de duas horas para atender sacramentalmente pacientes esquecidos em salas de Raio X. Essa é nossa realidade. Mesmo assim, penso que todo cidadão é chamado a colaborar com educação e paciência exercendo sua cidadania sem agressividade. Não poucas vezes atribuímos a culpa às pessoas que sofrem tanto como nós, porque submetidos a um Sistema Único de Saúde – SUS mal administrado e menos ainda preparado para atender O Mundo está enfermo!

           Nos Hospitais Particulares e que atendem por conta de elevados Convênios, a situação não é muito diferente. Assisto a cada situação que me leva a pergunta ao coração: “Será que este e aquele Hospital tem noção clara de que está tratando de gente? Animais têm tratamentos mais humanos e humanos estão sendo animalizados!”

           Ao invés de tentar resolver nossas necessidades com o tal “jeitinho brasileiro”, que nos torna egoístas, porque resolvido nosso problema, viramos as costas sem pensar nos outros, saibamos exercer uma cidadania comum, onde todos, sem excluir ninguém, tenham atendimento digno de seres humanos! Haja uma prestação de contas mais transparente, demonstrando onde são realmente aplicados os recursos destinados à Saúde Pública. Dinheiro temos, até para socorrer o Fundo Monetário Internacional. Em anos de eleições, corremos o risco de ver recursos da Saúde se transformar em asfalto de péssima qualidade ou em pinturas com tintas que não duram mais do que quatro anos. E como isso acontece em ano eleitoral, ou nesse ano será diferente? Principalmente Prefeitos e Vereadores que pretendem ser reeleitos, guardam valores secretos para aplicar, agora, em campanhas eleitorais.

           Mas nem tudo está perdido. Tenho sido atendido como um “príncipe” no nosso renomado Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. A primeira impressão assusta. É uma multidão de gente enferma de todos os cantos do País. Porém, desde a recepção, até receber os diagnósticos dos médicos especializados e seus médicos residentes, passando pelos mais complexos exames de diversas naturezas, cria-se uma confiança tão bonita, que grande parte dos sintomas de enfermidades já desaparecem antes mesmo de deixar o maior e o melhor Hospital de nossa cidade e região. Agradeço, de coração, a todos, especialmente aos médicos do Hospital da Clínicas que demonstram serem de verdade, vocacionados ao exercício da medicina, até porque são os médicos mais mal pagos desse sistema, ainda tão injusto em nosso País, cuja disparidade entre ricos e pobres continua gritando vergonhosamente por justiça e dignidade!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo



terça-feira, 9 de julho de 2024

RETIRO ESPIRITUAL DOS PADRES!

 

RETIRO ESPIRITUAL DOS PADRES!

 

 

De 15 a 19 de julho, no Seminário Santo Antônio, Alto da Serra, em São Pedro (SP), os Padres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, juntamente com o Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, se encontrarão em Retiro Espiritual. O pregador será Dom Esmeraldo Barreto Farias, Bispo Emérito da Diocese de Araçuaí (MG).


Neste ano o Retiro terá sabor de Jubileu. No dia 16 de julho Dom Moacir Silva, nosso Arcebispo Metropolitano completa 70 anos de vida. A Celebração de Abertura do Retiro Espiritual, além de invocar o Espírito Santo sobre o retiro, será uma ação de graças muito especial pelo precioso dom da vida de nosso tão querido, dedicado e zeloso Pastor. Que Deus o conserve com muita saúde para continuar sua missão diante dos desafios da Igreja particular de Ribeirão Preto que lhe foi confiada, bem como as tantas outras atividades junto à CNBB.

O Retiro Espiritual Anual dos Padres é um dos eventos mais fortes e marcantes na vida da Igreja particular. São dias de recolhimento, deserto, reflexão e revisão da vida espiritual dos Padres que, em torno de seu Arcebispo, avaliam sua vida ministerial e buscam novo ânimo e novas perspectivas para o ministério pastoral. Ser cada vez mais pastor configurado com Cristo, o Bom Pastor!

Vivemos tempos em que se exige muito dos padres. Os avanços tecnológicos tomam demasiado tempo deles e se espera por respostas imediatas. Daí correr o risco de os padres serem engolidos pelo ativismo, por tarefas intermináveis, exigências pastorais que se avolumam, mas nem sempre se aprofundam. Os dias de retiro sugerem que os padres descansem, desliguem seus aparelhos e se distanciem, fisicamente, de suas Comunidades. Já as Comunidades confiadas aos Padres têm a obrigação de rezarem pelo êxito do retiro espiritual de todos os Padres e do Arcebispo da Arquidiocese.

Ao longo dos meus trinta e quatro anos e meio de ministério preguei 94 retiros espirituais. No mês de agosto pregarei o 95º. Poderia dar-me por satisfeito. Não basta pregar retiros. Chega o momento em que também o pregador sente a sede de abastecer-se, desde os porões de sua intimidade, da companhia mais profunda de Jesus Cristo, que não poucas vezes fazia seus próprios retiros: algumas vezes sozinho, outras vezes com os seus discípulos.

Para que o retiro alcance seus objetivos, de renovar a espiritualidade presbiteral de cada padre, não bastam um magnífico pregador, nem um tema promissor. O retiro é pessoal. Será o coração de cada padre que acolherá, a seu modo, tudo o que lhe é proposto durante o retiro: o ambiente afastado dos afazeres hodiernos, as pregações e celebrações geralmente muito bem preparadas e criativas, só terão ressonância, se os ouvidos dos padres forem dóceis ao essencial no retiro espiritual: a voz de Deus, o apelo de Jesus Cristo e a ação do Espírito Santo na vida de cada um.

Não por último, o retiro proporciona aos padres de um mesmo Presbitério com seu Arcebispo, momentos fortes de encontro, perdão, superação de diferenças, reconciliação e a renovação de grande fraternidade sacerdotal, sinodalidade (caminhar junto) e caridade pastoral. O retiro tem o objetivo de libertar os padres das relações mal resolvidas, como a inveja clerical, a busca de prestígio, a ganância por cargos e poder sobre os outros. Convidados a despirem-se de quaisquer pretensões, o retiro espiritual robustece os padres em sua missão na Igreja para o mundo, dependendo sobremaneira da intensa oração das Comunidades que merecem padres cada dia mais santos: vazios de si próprios e encharcados dos dons do Espírito Santo. Rezemos uns pelos outros!

Pe. Gilberto Kasper

         Teólogo

quarta-feira, 3 de julho de 2024

E A FAMÍLIA COMO VAI?

 E A FAMÍLIA COMO VAI?

Um de meus primos jesuítas, Pe. Attílio Ignácio Hartmann, sempre que chegava a alguma Comunidade, Igreja Matriz da Paróquia e, principalmente, a casa de alguma família para benzê-la, onde almoçaria ou simplesmente tomaria um chimarrão, sempre expressava seu cumprimento com a pergunta: “E a Família, como vai?” Enquanto criança, sentindo desde então o desejo de ser padre, imitava o Pe. Attílio com a mesma saudação. Achava a preocupação do Padre para com as famílias, de uma sensibilidade ímpar!


A minha infância não foi nada fácil, mas não a trocaria por nada deste mundo. Não obstante as inúmeras dificuldades impostas pela então já “cultura da sobrevivência” à minha família, nossa resposta sempre foi de esperança e otimismo: “Nossa Família vai muito bem, obrigado”! 

Meu pai faleceu aos 27 anos de idade, quando minha mãe tinha 25, meu irmão mais velho 6, eu 4, o mais novo 2 e minha irmãzinha que com 5 meses faleceu no dia do enterro de meu pai. Fomos morar com os avós paternos. Minha mãe optou por educar-nos, e dedicar seus 73 anos de vida por nossa manutenção sozinha. Com 5 anos de idade, junto com meus irmãos, dividíamos as tarefas do lar; estudávamos gratuitamente num bom Colégio da Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria em Novo Hamburgo (RS). Mais ou menos gratuitamente. Enquanto nossos coleguinhas de escola iam para suas casas almoçar, meus irmãos e eu limpávamos a Escola. Só depois de tudo em ordem éramos dispensados para andar a pé 4 km até chegarmos em casa e então almoçávamos. Limpávamos a casa, cumpríamos as tarefas de escola e só então íamos brincar. Enquanto meus irmãos juntavam seus amigos para uma “pelada de futebol” num campinho em frente de nossa casa, eu convidada outro bom grupo de vizinhos, para brincarmos de “rezar missa” no curral de vacas. Era a estrebaria mais limpa da vizinhança. Quando uma de nossas “artes” era descoberta, apanhávamos com relhos de animais, já que nosso avô era veterinário e fazia os arreios para carroças e animais como cavalos e bois.

À noite, antes do jantar, nos reuníamos em torno da mesa e rezávamos o terço, em família. Em cada quarto havia uma estampa emoldurada com a Sagrada Família e em volta um Terço, com a frase: “A FAMÍLIA QUE REZA UNIDA, PERMANECE UNIDA”! Aos sábados, juntamente com nossa avó e nossa mãe, passávamos o dia lavando a Escola das Irmãs, deixando-a um “brinco”. Assim, segundo a pedagogia das Irmãs, aprenderíamos a dar valor ao estudo que parecia ser gratuito, mas que pagávamos com nossos serviços braçais, o que hoje daria um bom processo, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, e a proibição de crianças e pré-adolescentes trabalharem.

Imagino que muitos discordarão, mas confesso que o trabalho só nos edificou. Quando passamos a trabalhar com carteira registrada, entregávamos o salário todinho para a mãe, que administrava o caixa comum da família. Depois dos 18 anos de idade, pagávamos uma chamada “pensão” determinada pela mãe, para ajudar nas despesas da casa. Isso acontece até os dias de hoje em muitas famílias, até que os filhos deixam a casa dos pais. Nos dias atuais os filhos nem sabem quanto se gasta para manter uma casa. Quando trabalham, utilizam o salário para gastos pessoais. Quando não trabalham, contam com os pais para manterem seus gastos, nem sempre modestos.

Não me contenho em testemunhar que sou uma pessoa muito feliz, e profundamente agradecida pela educação que recebi, tanto de minha mãe, uma heroica e corajosa mulher, como de meus avós paternos. Penso que se tal cultura fosse cultivada, não precisaríamos responder à pergunta do Pe. Attílio, que a Família continua de bruços.

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo