Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Neste Segundo Domingo da Quaresma, somos convidados a subir a montanha
com Jesus e três dos seus discípulos para
contemplarmos o mistério da glória de sua transfiguração. Por instantes, a eles é revelado que Jesus glorificado é o salvador esperado e
que transformará nossa condição humana em realidade glorificada. [...] Imagino
que os discípulos deram uma espiadinha no céu. [...]
A visão da transfiguração
de Cristo nos convida a ‘prestar ouvidos ao
eleito Filho de Deus’, se quisermos ter forças no discernimento das ações que edificam
o mundo segundo o projeto do Pai. A Palavra
de Deus, neste
dia, nos descreve a parábola ou nos desvela o grandioso plano salvador de Deus.
A contemplação do
Senhor transfigurado ressalta que ‘a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é
comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos,
porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é
capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o
convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos’ (Carta Apostólica Porta Fidei, n.7).
‘Neste domingo da transfiguração, Jesus nos
convida a escutar o que ele tem para nos dizer e a contemplar seu rosto
luminoso. Firmes e cheios de fé no Senhor, celebremos a sua páscoa, que se
realiza nos grupos e pessoas dispostas a transformar para melhor a realidade de
cada um e a vida do povo sofrido.
As
leituras nos motivam a abrir o coração às promessas de Deus, que se preocupa e
sempre quer fazer aliança conosco. Chamados a participar da glória do Senhor,
escutemos o que hoje ele nos diz. [...] E o que Jesus, o Filho amado do Pai nos diz
ao coração, à luz do ANO
DA FÉ? Que nos amemos uns
aos outros, e pronto. Isso parece simples, mas não é fácil. Amar o diferente,
amar quem nos trai, amar quem nos difama e não nos perdoa, amar o inconveniente
e o que nos faz sofrer... Mas é o que Jesus
espera de cada um de nós. E à luz da Campanha da Fraternidade: FRATERNIDADE E JUVENTUDE, o que Jesus nos
pede e diz? Que sejamos fiéis ao lema da mesma: Eis-me aqui, envia-me! (Is
6,8). Deixar-nos enviar
implica num prolongado compromisso com nossa Juventude, que é convidada a ser
bússola que oriente, através do testemunho, da coerência e do bom senso, todos
ao Cristo transfigurado! [...]
Na aliança com Abrão, Deus promete
descendência e terra. A transfiguração de Jesus é prenúncio da glória que a
humanidade toda deseja. Estamos a caminho da transformação, mas para isso é
necessário empenho e renúncia’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de
2013 da Paulus, pp. 75-78).
Na caminhada da
vida, por vezes, uma decisão importante, a realização de um acontecimento, é
precedida por crises, trevas e expectativas. Jesus,
como exímio Mestre, insistia que os discípulos deviam caprichar no seguimento e
tomar a cruz de cada dia. Contudo, para eles, essa conversa da cruz e que ele
tinha que sofrer para entrar na glória não fazia parte de seu imaginário e de
sua compreensão. As palavras do Mestre sobre a cruz implodiram as esperanças
messiânicas e a decepção foi geral.
A transfiguração se traduz na revelação de que o
caminho da glória passa pela cruz. A glória efêmera de um atleta, que no alto
do podium recebe a medalha de ouro, é precedida por renúncias e sofrimentos
alimentados pelo sonho de ser vitorioso.
Envolvidos pela
luz da glória, Jesus e os representantes da antiga aliança,
Moisés e Elias conversam sobre o seu êxodo em Jerusalém. Enquanto isto, Pedro
só tem olhos para a glória deslumbrante. Quer chegar à glória por um atalho que
evite a cruz. [...] Conosco isto acontece frequentemente. Não raras vezes
pulamos etapas. Até pisamos sobre os outros para chegarmos, por atalhos à
glória do prestígio, daquilo que chamamos de cargos, funções, honrarias e
poder, seja no âmbito eclesial, político e social. Geralmente tais
comportamentos, tais atalhos, são desastrosos e fazem muitas pessoas sofrerem
por conta de nosso egoísmo e infidelidade na missão que nos foi conferida.
[...]
Ao discípulo não
compete inventar um caminho particular que evite a hora desagradável da cruz.
Cabe-lhe assumir e andar junto com seu Mestre no mesmo itinerário. A transfiguração passa pela prova de um rosto
desfigurado pela angústia para um rosto glorificado” (cf.
Roteiros Homiléticos da Quaresma de 2013 da CNBB, pp. 28-33).
Esta Segunda
Semana da Quaresma nos propõe profunda conversão em nossa missão, sobretudo
ministerial. Discípulos do Senhor que
querem chegar à transfiguração pessoal, deverão descer da montanha e assumir
a realidade. Muitos gostariam de permanecer, como Pedro, lá na montanha, diante
da glória. Jesus dá outra orientação: descer ao
hodierno, não contar nada a ninguém, e assumir com amor e dedicação
incondicional a missão que nos é confiada. Muitas vezes não compreendo como nós
ministros ordenados deixamos pessoas morrer sem nossa absolvição, unção dos
enfermos; deixamos de atender as pessoas que nos procuram para reencontrarem a
paz interior, porque nos ocupamos com tarefas que nem mesmo condizem com nosso
Sacerdócio ordenado. Com quanta frequência deixamos de presidir a Eucaristia
para nossas Comunidades, porque precisamos passear. Com quanta facilidade
gastamos mal o dinheiro com coisas desnecessárias, ou não enviamos o valor realmente
arrecadado nas coletas, como no caso da que faremos nesta Quaresma: A
Coleta da Solidariedade no Domingo de Ramos?
Enquanto agirmos
sem uma profunda conversão e o resgate da clara noção de justiça
em relação ao dinheiro da Comunidade, teremos a coragem profética de pedir
maior justiça e transparência por parte de nossos Governantes, tantas vezes
corruptos e desonestos, desviando recursos a benefícios pessoais? Oxalá esta Quaresma lapide, moldando-nos ao Mestre que nos
escolheu para seu discipulado e não se decepcione ainda mais com nossa
prostituição por dinheiro, fama, prestígio e bem estar descabido. Quando
utilizo o termo “prostituição” não me refiro à sexualidade, mas à negação da
própria consciência, princípios e valores, como acontece com tanta frequência
em nossa Política que ou se prostitui aos partidos em demasia, ou não sobrevive
ao esquema desonesto.
Sejam todos abençoados e com ternura, o
abraço amigo e fiel,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Gn 15,5-12.17-18; Sl 26(27); Fl 3,17-4,1 e Lc 9,28-36)