Pe.
Gilberto Kasper*
A notícia da renúncia ao “Serviço Petrino” que o
Santo Padre, o Papa Bento XVI anunciou no dia 10 de Fevereiro, surpreendeu o
mundo, não apenas os católicos, como todas as denominações religiosas. Dia 28
de Fevereiro de 2013, às 20 horas (Hora de Roma e 17 horas de Brasília) fica
vacante a Sé de Roma e a Cadeira do Sucessor de Pedro, o primeiro Papa nomeado
pelo próprio Cristo.
A
renúncia mais surpreendeu porque o último que o fez foi Gregório XIV em 1415,
há seiscentos anos. Os motivos que o Papa Bento XVI apresenta são sua idade
avançada; completará 86 anos dia 16 de abril, sua saúde debilitada e rápida
mudança de época que exige uma assoberbada agenda papal de compromissos. Diz-se
frágil para continuar “remando a barca de
Pedro, que é a Igreja Católica Apostólica Romana”.
Ao
ser eleito (no caso de Bento XVI a 19 de abril de 2005), o Papa despe-se de
todo seu ser, para dedicar-se plenamente ao “Serviço Petrino”, que é
conduzir a Igreja com suas conquistas e limites. Entrega-se totalmente à
vontade de Deus, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, em busca da
configuração de Cristo, o Bom Pastor. E a exemplo de Cristo na cruz, atrai para
si todas as culpas, já que a Igreja é santa porque conduzida pelo Espírito
Santo, mas também pecadora porque formada por todos os seus filhos, pessoas cheias de limites e
pecados.
Com
quanta rapidez emitimos juízos e críticas, tantas vezes infundadas contra a
pessoa do Papa, esquecendo-nos, de que quando eleito, se desfaz do próprio
nome, de seu vestuário, nunca mais volta para o aconchego de seu lar, nem mesmo
para apanhar algo de sua predileção. O Papa anula-se totalmente para, com a
liberdade necessária dedicar-se exclusivamente
ao Reino de Deus. Só que tal liberdade o aprisiona ao Vaticano, a Residência
Pontifícia, tendo de usar sempre as mesmas vestes, cercado por dezenas de
seguranças, abrindo mão de seus hábitos e não poucas vezes de suas vontades
próprias. Coloca em seu coração uma Igreja do mundo inteiro: seus filhos, seus
desafios, seus problemas e projetos. Quem sou eu e quem somos nós, para “falar mal do Papa” o que fazemos sem
medidas com tanta frequência? Só uma pessoa profundamente corajosa, coberta
pela graça de Deus, escolhida a dedo por Jesus Cristo, conduzida pelo Espírito
Santo e agraciada pela proteção de Maria Santíssima, é capaz de prestar tamanho
“serviço
pela santificação da humanidade”.
Não
me agradam expressões como cargo e
função. Prefiro a expressão “serviço”, o mesmo instituído pelo
próprio Cristo na Última Ceia com seus Apóstolos, Seguidores e Seguidoras mais
próximos. Naquela ocasião instituiu os Sacramentos da Ordem, da Eucaristia e
gosto de afirmar, também da Humildade!
Ao renunciar seu Serviço
Petrino, O SANTO PADRE TESTEMUNHA PROFUNDA HUMILDADE! Oxalá todos nós,
especialmente os que não abrem mão de suas funções e cargos e pensam ser
insubstituíveis, aprendamos a lição de tão linda Humildade. Saibamos, com
João Batista e o Papa Bento XVI, reconhecer nossos limites e ter a coragem de
dar lugar a outros, com maior vigor, saúde, sabedoria e disposição, para sentar
em nossas cadeiras, nas quais alguns se sentam colados com a intenção: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Se o Beato João Paulo II lotava a
Praça de São Pedro, por ter tido o carisma mediático, para que as multidões o
vissem, o Papa Bento XVI, tímido e discreto, lotava a mesma Praça no Vaticano,
por sua sabedoria revelada em suas catequeses e riquíssimas obras escritas,
para que as multidões o ouvissem! Reconhecer sua fragilidade e renunciar é um
gesto de grandiosidade, que seguramente poucos líderes políticos e eclesiais
tem.
Finalmente,
ao celebrarmos o cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II ambos: o
Beato João Paulo II e o Papa Bento XVI se cobriram de coragem e ousadia para
pedir perdão à humanidade, dos pecados de alguns dos membros da Igreja Católica
Apostólica Romana, bem como para alargar como nunca antes na História da
Igreja, o diálogo ecumênico e inter-religioso com as diversas denominações,
sem, porém, relativizar a fidelidade de tudo aquilo em que cremos. A grande
preocupação dos dois Papas, e muito especialmente de Bento XVI, foi a
recristianização da Europa e de outros Continentes ocos de valores evangélicos e
do próprio Deus de nossa História.
*pe.kasper@gmail.com
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico,
Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão
Preto e Jornalista.