Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“O sagrado tempo da Quaresma caracteriza-se pela
vivência profunda do mistério da paixão do Senhor. Na Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a caminhada quaresmal em direção da Páscoa de Jesus e nossa.
Para as comunidades cristãs, a
caminhada quaresmal se apresenta como um tempo de graça em que o próprio Deus,
por seu Filho e no Espírito Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o
verdadeiro sentido da vida, o qual irrompe definitivamente na Páscoa. A Quaresma, que nos conduz à
celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser
vivido com o devido empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.
A Quaresma deste ano insere-se nas comemorações do cinquentenário da abertura
do Concílio
Vaticano II. Na palavra de João Paulo II, o Concílio se constituiu numa grande graça que beneficiou a Igreja no século
XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do próximo
século. E o Papa Bento XVI, por sua vez, afirma: ‘o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a
renovação sempre necessária da Igreja’ (Carta
Apostólica Porta Fidei, n.5). Em sintonia com o Ano da Fé, a Quaresma é convite para uma
autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do
mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor
que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da
remissão dos pecados (cf. At 5,31).
‘A
profissão de fé no Deus salvador é disposição constante do povo fiel ao longo
da história da humanidade. O ‘credo do israelita’ é reconhecer a ação
libertadora de Deus na história, comprometendo-se com ele. Jesus nos ensina
como nos libertar das tentações do dia-a-dia. O ‘credo do cristão’ é aceitar
Jesus como o Senhor ressuscitado dos mortos.
Frutos da terra e
do trabalho humano, os bens que recebemos de Deus (emprestados e não como propriedade nossa, motivo pelo qual
devemos superar a avareza, o egoísmo, a insensibilidade com os que têm menos do
que nós, sem acumular nada do que não conseguiremos levar à eternidade no dia
em que nosso nome ecoar na mesma e, muito menos, esbanjar o que poderia
enriquecer a dignidade de mais de um bilhão de pessoas que passam fome,
diariamente, no mundo) tornam-se pela
ação de graças a ele, sinais sacramentais de sua benevolência e promessa de
bens maiores e eternos’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de 2013 da
Paulus, pp. 59-62).
Depois de ser batizado nas águas do
rio Jordão e ser publicamente proclamado como o ‘Filho amado de Deus’, Jesus é ‘conduzido pelo Espírito ao deserto’. Mais do que lugar geográfico,
o deserto é oportunidade de prova e de afirmação da fidelidade à missão. Jesus rechaça as propostas do
tentador, ratificando sua determinação de se entregar até às últimas
consequências, obediente à vontade do Pai, e de cumprir sua missão segundo o
projeto que fora confiado. [...]
Gosto de pensar que o problema não é
o pecado e nem as tentações que diariamente nos são propostas. São-nos
apresentadas muito apetitosamente. O problema é ceder ao pecado e às
tentações. Elas nos cercam a todo o momento. Percebê-las, constatá-las, e até
discerni-las não é nosso problema. Só trairemos a fidelidade para com Deus, na
medida em que cedermos ao pecado e às tentações. [...]
A Quaresma se apresenta como um tempo de sobriedade que favorece a oração, a prática da caridade e a revisão de vida. Ela é tempo de graça de Deus que nos conduz às alegrias da festa da Páscoa.
Por isso, a caminhada quaresmal pode
se constituir para nós num tempo em que somos conduzidos pelo Espírito ao
deserto. Uma oportunidade ímpar para avaliar se nossos projetos de vida, nosso
modo de ser e agir corresponde ao projeto de Deus, para purificar nossa prática
religiosa, por vezes, infantil e interesseira, alicerçada em milagres ou na
prática de uma fé sem responsabilidade comunitária; para superar a prática
religiosa construída segundo as nossas opções e exigências; e para rechaçar o
império do materialismo consumista que cultua o lucro, o acúmulo, o ter e o
consumir.
Naturalmente, a conversão quaresmal
só é possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve
encontrar acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos ‘ídolos’ que nos envolvem e atordoam. Conversão que significa
nos alienar de nossos insignificantes e confusos projetos para assumir algo
mais radical e original que nos conduza à proclamação, com todo o nosso ser, de
que Jesus, vencendo as tentações do deserto,
triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz.
Assim como Jesus, hoje, nós somos conduzidos
ao deserto para uma experiência viva de fé. Caminhando nas areias do deserto, o
Espírito nos liberta do ‘homem velho’
e nos amadurece para o compromisso com o ‘novo’.
Que o grande retiro quaresmal alimente nossa fé” (cf. Roteiros Homiléticos
da Quaresma
2013 da CNBB, pp. 21-27).
Finalmente a primeira semana da Quaresma, neste ano à luz do ANO DA FÉ, nos indica
pequenos exercícios penitenciais, que tentarão lapidar nossa fé esclerosada,
envelhecida, mofada nos porões de nossa intimidade. Saibamos deixar arejar a
fé, recebida em nosso Batismo. Uma das tarefas interessantes seria saber o dia
de nosso batismo. Renovarmos o propósito de não falarmos mal de ninguém, sendo
Anjos uns para os outros. Outro bom exercício para esta semana, seria
procurarmos não mentir. Não importa chegarmos ao
final do dia e não termos conseguido. No dia seguinte, renovemos novamente tais
propósitos, repetindo-os como decoramos a tabuada. Em quarenta dias, haveremos
de conseguir mudar, pelo menos, alguma coisinha feia em algo maravilhoso diante
de nós mesmos, de Deus e dos outros.
Desejando-lhes bênçãos, com ternura
e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13 e Lc 4,13)