“Nossa
Igreja Particular: uma história sonhada por Deus e
concretizada
por Ele através de nossos Pastores”
Nossa
Igreja Particular: Uma Igreja que gera colaboradores para a construção da vinha
do Senhor, pelo exemplo de Dom Manuel da Silveira D’Elboux
Meus queridos
Irmãos e Irmãs na Fé!
Profundamente agradecido aos meus irmãos sacerdotes responsáveis
pela Igreja-Mãe de nossa Igreja Particular, por me terem convidado, confiando-me
a pregação do segundo dia da Novena que prepara a Festa de São Sebastião,
Mártir, Padroeiro da Catedral Metropolitana e de nossa Arquidiocese de Ribeirão
Preto, venho com o coração transbordando de alegria, para juntos, celebrarmos
também, na Festa do Batismo do Senhor, o término do Ciclo de Natal. Celebramos
quatro grandes novidades neste Natal; como que presentes antecipados que
prepararam os corações dos cristãos e não cristãos, para acolhermos o projeto
de Deus que se fez pobre, para enriquecer-nos: a ousada coragem do Papa Emérito
Bento XVI, que a exemplo de João Batista se retirou, com a expressão do
profeta: “É preciso que eu desapareça, a
fim de que Jesus seja anunciado por alguém menos idoso, mais saudável e cheio
de novo vigor e novas forças!”. A eleição do Papa Francisco, o Papa da
Ternura, que encanta o mundo com seu jeito humilde e descomplicado de ser.
Desejoso, como expressa em sua primeira Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium – A Alegria do Evangelho,
de arejar, restaurar e reanimar a Igreja de Jesus Cristo, como o fez com tanta
propriedade São Francisco de Assis. A chegada de nosso Arcebispo Metropolitano,
Dom Moacir Silva, que com delicadeza, serenidade e sutileza desce ao rebanho,
para cheirar, como o pede o Papa Francisco, as ovelhas que lhe são confiadas em
nossa Igreja particular. Por fim, a 28ª Jornada Mundial da Juventude, iniciada
no Rio de Janeiro sob a presidência do Santo Padre o Papa Francisco, e que se
estende mundo afora com um ânimo primoroso, parecendo nossa Juventude com
aquela estrela que conduziu os Magos a Belém.
Achei muito criativa a preparação
desta Novena. Muitas são as coincidências aproveitadas, para enriquecer nossa
espiritualidade, animar nossa missão, tornando-nos à luz da Festa de nosso
Padroeiro, discípulos ainda mais fiéis de Jesus Cristo. Penso que toda Novena
em preparação a festa dos padroeiros de nossas Comunidades, deve sempre
enriquecer nossa maneira de sermos Igreja! Foram nove, os Pastores que serviram
nossa Arquidiocese, desde sua criação em 1908. Durante a Novena serão
“celebrados os Mistérios da vida, recordando e fazendo memória dos nove Bispos
falecidos”. A mim cabe celebrar o Mistério da Vida e fazer memória, recordando
a breve, embora riquíssima história, do segundo Bispo Diocesano, com vocês
nesta noite: Nossa Igreja Particular: Uma Igreja que gera colaboradores para a
construção da vinha do Senhor, pelo exemplo de Dom Manuel da Silveira D’Elboux.
Dom Manuel, nascido na cidade paulista de Itu, antes de sentir o chamado ao
sacerdócio, foi jogador de futebol e músico, pois tocava violino. Ingressou ao
seminário já com 21 anos de idade e depois de sete anos era ordenado sacerdote
na Igreja Santa Efigênia de São Paulo, onde anos depois nosso saudoso Dom
Joviano seria pároco. Coincidência ou Providência de Deus! Com apenas 36 anos
de idade foi nomeado Bispo Titular de Barca e Auxiliar de Ribeirão Preto.
Outra Coincidência ou Providência foi
dia 17 de abril (dia de meu natalício, embora 17 anos antes do meu nascimento)
que Dom Manuel chegou a Ribeirão Preto, para auxiliar o já convalescente
primeiro Bispo, Dom Alberto José Gonçalves. “Dinamizou a Obra das Vocações
Sacerdotais, apoiou a fundação do Círculo Operário Ribeirãopretano, incentivou
as Congregações Marianas (masculina e feminina), promoveu a construção do salão
‘Dom Alberto’ – destinado às Associações Religiosas da Catedral -, procedeu à
reforma da Igreja São Benedito, destinando-a a Adoração Perpétua ao Santíssimo
Sacramento”, onde posteriormente foi instalada a mesa da sagrada comunhão, que
hoje embeleza o altar da celebração desta linda Catedral, em que vemos
esculpida a Santa Ceia, pelas mãos de Antônio Palocci.
“As características do trabalho de
Dom Manuel como bispo auxiliar foram excepcionais nos seguintes pontos, que
resumimos:
- Discrição, prudência e paciência
aliados a um dinamismo de todos os dias, procurando sustentar e dinamizar os
planos de Dom Alberto, já combalido pela doença. Neste esforço, foi-lhe de
grande valia a ajuda constante e criteriosa do Mons. João Laureano, esforçado
Vigário Geral, que muito contribuiu para encaminhar problemas e aplainar as
naturais dificuldades de visão entre um bispo idoso e cansado e outro moço e
cheio de entusiasmo”. Coincidência ou Providência: na época Mons. João Laureano
era também o Capelão da Igreja Santo Antoninho, onde hoje sirvo com alegria
aquela Reitoria cuja Igreja é a mais antiga em pé, já que o início de sua
construção data de 1892. No ano em que Dom Manuel nasceu, 1904, Padre Euclides
Carneiro abriu a mesma Santo Antoninho ao povo dos Campos Elíseos e da cidade!
Foi o responsável pela abertura do
Seminário Diocesano no dia 19 de março de 1945. O prédio da Rua Rui Barbosa era
ocupado pelos seminaristas dos Padres Estigmatinos, que o devolveram à Diocese,
quando concluído seu Seminário Próprio, que lá funciona até os dias atuais, na
Rua Conde Afonso Celso. Coincidência ou Providência. Em 1995, quando o
Seminário Diocesano comemorou seu Jubileu de Ouro, servindo na formação do
atual prédio, o Seminário Maria Imaculada de Brodowski, alunos e formadores, estudando
a história de fundação, deparamo-nos com a figura dinâmica e zelosa pelas
Vocações Sacerdotais, Dom Manuel da Silveira D’Elboux. Ele adquiriu o terreno
na Vila Virgínia, o atual Conjunto Habitacional D’Elboux, pensando num
Seminário moderno, distante do centro da cidade, sonhando com um eficaz
crescimento de Vocações.
Após o falecimento de Dom Alberto,
foi eleito o segundo Bispo Diocesano de Ribeirão Preto no dia 31 de janeiro de
1946. Coincidência ou Providência: tomou posse com parecida jovialidade e vigor
de Dom Moacir, nosso Arcebispo atual! Segundo a imprensa da época, a Posse de
Dom Manuel foi uma das mais solenes festividades vistas até então pelo povo de
Ribeirão Preto. A recepção carinhosa seguramente devia-se ao trabalho de Dom Manuel
como Bispo Auxiliar. Foi profundamente amado por nossa Igreja particular.
Coincidência ou Providência, Dom
Manuel criou cinco paróquias e ordenou oito padres, dos quais convivemos com
sete. Entre eles o Côn. Arnaldo Álvaro Padovani, que sucedemos na Igreja Santo
Antoninho e no Centro do Professorado Católico, onde foi Assistente
Eclesiástico; ambos serviços assumidos por nossa pobreza nos dias atuais.
Ordenou também o Côn. Antônio de Oliveira, que doou a maior parte de seu
ministério a Sertãozinho; Dom Jaime Luiz Coelho, primeiro Bispo e Arcebispo de
Maringá (PR); Côn. Sebastião Ortiz Gomes, falecido em Pontal; Pe. Alceu Garcia
Prado, que conhecemos em Franca; Côn. Aguimar Luiz de Paula Marques, falecido
em Bento Querino e o Côn. Gilberto Maria Delfino, de São Simão, que por longos
anos foi o Diretor Financeiro da FAI – Faculdades Associadas do Ipiranga. Os
sete passaram de alguma forma por esta Catedral, no exercício de seu
ministério. O tempo de Dom Manuel foi marcado por uma maior espiritualização e
insistência na formação daquilo que já existia. Não deixou muitas obras
materiais, mas espiritualizou as que aqui encontrou. Insistiu, sobretudo, na
espiritualidade eucarística. Dinamizou a Ação Católica; dedicou-se ao Círculo
Operário, atestando suas preocupações com a classe operária.
Um marco, na vida da Igreja, em
Ribeirão Preto, que revelava a abertura de visão de Dom Manuel, foi a aquisição
do Diário de Notícias, o maior Jornal da região, entre 1º de setembro de 1945
até 1978. Outras tantas fundações poderiam ser elencadas, mas nos alongaríamos
demasiado, não obstante Dom Manuel estivesse à frente da Diocese de Ribeirão
Preto apenas por quatro anos, porque foi nomeado Arcebispo de Curitiba no
Paraná em 1950. Deixou para trás, entre outros, o sonho de fundar uma Faculdade
de Filosofia da Diocese. Depois de 20 anos servindo a Arquidiocese de Curitiba,
acolheu serenamente seu nome ecoando na eternidade no dia 5 de fevereiro de
1970, 24 dias antes de completar 74 anos. Seus restos mortais se encontram na
Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral daquela Metrópole paranaense!
Dom Manuel, homem bom, sorridente,
amável, discípulo e imitador do suave São Francisco de Sales. Viera da reitoria
do Seminário do Ipiranga e lá deixara, ao sair em 1940, um vazio que não sei se
chegou a ser coberto: o vazio da bondade... Há os que preferem ser temidos e os
que sabem ser amados. Dom Manuel escolheu esta melhor parte: ‘Itu, sua terra,
onde tudo tem fama de grande, deu-lhe um enorme coração’, segundo Dom Benedito
de Ulhôa Vieira, Arcebispo Emérito de Uberaba (cf. CORREIA, Francisco de Assis. História da
Arquidiocese de Ribeirão Preto (1908-2008). Brodowski: Grafcolor, 2008, pp.
150-169).
A liturgia deste domingo, que encerra o Tempo de Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista,
nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai.
Solidário com os que buscam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar,
enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu
a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.
Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos
pais e padrinhos: “Sabem o dia em que
foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de
alguma Comunidade de Fé?” Geralmente a resposta é “não’. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo
menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da
família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé
recebida no dia do nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. Já o Ano da Fé foi um insistente convite, de
que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas
que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder
tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de
assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “útero
da Igreja”, a Pia Batismal!
A festa do Batismo de Jesus
revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública
da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão
para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na
nossa humanidade, tornando-nos assim, seres divinizados, ou seja, candidatos à
santidade.
O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de
nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz
da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a
esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como é, e
isso nos basta. Renovemos sempre nossos compromissos batismais, recordando-nos
que através do Batismo Deus nos adota como seus. E, por conseguinte,
tornamo-nos irmãos uns dos outros. Sejamos mais do que irmãos. Sejamos anjos
uns dos outros, a fim de celebrarmos com o vigor de nossa fé, a Festa do
Padroeiro de nossa Catedral e Arquidiocese de Ribeirão Preto. Nos encontramos,
em espírito batismal, na oração. Tenham uma abençoada Festa de São Sebastião.
Com ternura, minha gratidão!
Padre Gilberto Kasper