Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Um menino nasceu para nós:
Um filho nos foi dado!
O poder repousa nos seus ombros.
Ele será chamado ‘mensageiro do conselho de Deus’!” (Is
9,6).
“Natal é o mistério, sacramento da
humanização de Deus e da divinização humana. Festa da fidelidade e da ternura
de Deus para conosco. O Verbo, a Palavra eterna, a Sabedoria, a mais fiel
comunicação do Pai, o Filho amado se faz pequenina e frágil criança, filho de
um casal de pobres, provindo de um recanto não importante do mundo, para ‘realizar o direito e a justiça’.
Não simples comemoração do
aniversário de Jesus, mas a realização da promessa de Deus de fazer uma aliança
eterna de amor com toda a humanidade e de restabelecer o seu Reino no mundo.
Com a encarnação, afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II, o Filho de Deus
uniu-se, de certa maneira, a toda a humanidade (cf. GS, n.22) e mais
ainda atingiu todo o universo (cf. GS, n.38). Iniciou-se, portanto, o
misterioso processo de renovação e unificação de toda a humanidade e do cosmos
com Cristo.
Recordamos o nascimento de Jesus em
Belém, pobre entre os pobres, junto com Maria e José, com os pastores de ontem
e de hoje, acolhemos, com ternura e alegre júbilo, o anúncio dos anjos e a
proclamação da paz a todos os ‘filhos
amados de Deus’.
Celebramos a páscoa de Jesus Cristo
que acontece em sua Encarnação, em seu nascimento em nossa carne, no seu ato
solidário de assumir em tudo a nossa condição humana, nossa corporeidade com
suas necessidades vitais; nossas alegrias e tristezas, audácias e fraquezas,
conquistas e fracassos.
Do meio das palhas de sua
manjedoura, acolhemos do Menino-Deus um forte apelo para o cultivo de relações
novas e duradouras, valorização de tudo o que é humano, simples e pequeno,
gestos gratuitos de solidariedade e benevolência entre nós e com toda a
natureza.
Jesus nasce entre pobres, migrantes,
pastores; encarna-se na realidade dos que sofrem. Deus entra em nossa história
através de uma mulher marginalizada.
Deus fiel é solidário com a
humanidade e a humanidade pode tomar novo rumo. A glória de Deus é que a
humanidade toda viva, é ação concreta repercutindo na Terra, trazendo a paz
para todos.
A Noite do Natal nos conduz às
fontes de nossa fé. Noite de luzes, cores, cheiros, sons, cantos e diálogos.
Jesus nasceu em Belém, casa do pão, e foi rodeado por pobres, pastores,
animais... Na marginalidade, o Filho de Deus tornou-se um de nós, fez-se
criança, entrou na História da humanidade e no mundo criado... A Palavra de
Deus fez-se gente pequena, em um lugar pequeno, entre pequenos, para ser o Emanuel, Deus conosco para sempre. Nasce
Jesus, insignificante ante os olhos da força cínica de Herodes e força
endeusada do imperador de Roma; reconhecido apenas pelos que não tinham poder
na terra, mas que estavam atentos aos sinais de Deus.
Jesus nasceu de Maria, no seio de um
povo sofrido e dominado, em lugar e em época bem concretos. Se falarmos apenas
de Jesus que nasce em nossos corações, em nossas famílias, a encarnação poderá
tornar-se uma abstração, ou um sentimentalismo individualista e barato.
O Natal manifesta a irrupção de Deus
na história humana com a seriedade de sua fidelidade às promessas de
restauração de suas criaturas desviadas do projeto fundamental do Pai. Natal da
pequenez e do serviço, rompendo e exigindo rompimento com o poder de dominação
e prepotência do homem sobre pessoas e povos marginalizados e sucumbidos pelas
botas do opressor. O verdadeiro Natal exige rompimento com o cheiro dos
palácios, muitas vezes mofados. Ele nos pede aliança, proximidade com o cheiro
do presépio, das ovelhas, das favelas, das periferias, das matas, da terra, das
águas... Compromisso de transformação de tudo isto em nova criação, sonhada por
Deus.
Não é possível separar o Natal e
realidade atual; fé cristã e história humana; encarnação do Filho amado do Pai,
mas filho de Maria, na pequenez. Nossa fé leva-nos à luta cotidiana para que o
cheiro do presépio e das ovelhas chegue ao palácio dos imperadores de hoje, à
casa de Herodes, traidor do povo e da história da salvação.
Que Boa Notícia a Palavra de Deus
nos diz neste momento? Qual é a esperança que se firma em nosso coração?” (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo do Natal da CNBB de 2013, pp. 39-50).
Gosto muito da frase que se
pronuncia, geralmente em voz baixa, durante a preparação das oferendas na
Missa, enquanto se coloca uma gota de água no cálice com o vinho: “Pelo mistério desta água
e deste vinho, possamos participar da divindade de vosso Filho, que se dignou
assumir nossa humanidade”. Penso que esta afirmação
deveria ser dita em voz alta, pois sintetiza o evento do Natal do Senhor!
Gosto, também, de pensar como Deus
dribla a humanidade, nascendo numa manjedoura, entre animais. Como se não
bastasse, se permite anunciado em primeiro lugar aos mais simples dos simples: os pastores, durante uma fria madrugada. Talvez os únicos acordados naquela
noite. Certamente os mais sensíveis e talvez os mais disponíveis para ouvir o
jubiloso anúncio dos Anjos: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa
vontade”, isto é, aos homens e mulheres de coração aberto para acolher numa
manjedoura, um recém-nascido envolto em panos, Emanuel, o Deus Conosco, na meiguice e fragilidade
de um bebê. Simplesmente uma criança. Isto me convence que Deus é muito mais simples do que O complicamos! Basta estar aberto, atento, ser hospitaleiro e
acolhedor. Basta ler a face do Senhor no semblante do Outro!
Feliz e Santo Natal a todos!
Pe. Gilberto Kasper
(Ler para a Missa da Noite:
(Is 9,1-6; Sl 95(96); Tt 2,11-14 e Lc 2,1-14).
(Ler para a Missa do Dia: Is
52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18).