“Céus, deixai cair o orvalho;
Nuvens, chovei o justo;
Abrase a terra e brote o Salvador!” (Is 45,8).
“No Quarto Domingo
do Advento, o último, chegando ao ponto
alto de nossa espera, despontam para nós os lampejos de um novo amanhecer,
anunciando a chegada do Sol da justiça, o Emanuel, o Deus conosco. Ele é a
manifestação do segredo escondido em Deus, há séculos: a salvação, a vida plena
e feliz para toda a humanidade.
A Palavra de Deus deste domingo nos
remete ao vivo e evidente sinal do maravilhoso encontro do divino e do humano
em Jesus de Nazaré.
O acendimento das quatro velas que
confirma a chegada plena da luz no seio de Maria, grávida pelo Espírito Santo e
na fiel obediência de José, o homem justo. Ambos, modelos do Advento, vivem
ardente espera do Salvador em meio à obscuridade da fé e às ambigüidades e
provas da frágil condição humana.
Mesmo na alucinação das compras
natalinas, aturdidos pelos anúncios de um Natal esvaziado pelo consumismo e
devotados ao ídolo mercantilista e tirano do dinheiro (como vem afirmando nosso
amado Papa Francisco), a humanidade e todo o universo clamam esperançosos pelo
Reino e se enternecem diante da simplicidade, da gratuidade, de relações
verdadeiras, do serviço desinteressado do
pequeno resto, da geração dos que buscam a Deus. Sinalizam a chegada do ‘Emanuel’ e da força de seu Espírito,
gerando, com autenticidade e sem muito barulho, um mundo novo.
‘Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá
o nome de Emanuel’. Este domingo é de fato, uma festa
de Maria. A oração do dia de hoje
tornou-se a conclusão da oração do ‘Angelus’.
Deus tem um plano de bondade para a
humanidade, toma a iniciativa e o cumpre de forma desconcertante. Envia seu
próprio filho; repara na humildade e na fidelidade de uma jovem que aceita em
si mesma a obra de Deus, que quer vir ser Deus conosco. José fica perplexo, mas
se abre para compreender a ação de Deus. Deus vem habitar conosco; armou sua
tenda entre nós.
Deus age, mas com a colaboração de
pessoas que assumem com simplicidade e, às vezes, com dificuldade sua
responsabilidade, como aconteceu com José e Maria. Deus quer salvar a
humanidade, através de nós, pessoas humanas. Uma gravidez é sempre uma ocasião
para pais e familiares se colocarem dentro de um mistério. A pessoa que está
sendo tecida no ventre materno não é apenas obra humana, mas revela a presença
do Criador.
A saudação – “Não temas!” – dita pelo mensageiro a José, no texto de Mateus, e a Maria, em
Lucas, é dita hoje a nós, para nos animar na missão de colaborar com o projeto
de Deus e para que ‘venham a nós’ a paz e a
justiça tão sonhadas.
Neste tempo de Advento, somos convidados a viver
em profunda contemplação e admiração, fé e confiança. É tempo de gestação de
novas relações no silêncio do cotidiano da vida. Como José, somos encarregados
de proteger as sementes de vida semeadas no ventre fecundo de nossas
comunidades, nas organizações populares, entre os jovens, idosos e pequenos.
Como comunidade eclesial, recebemos
a Palavra, o Verbo encarnado da Vida que nos engravida pela ação amorosa do
Espírito para continuarmos a ser sinais e instrumentos da salvação e da
esperança no mundo em que vivemos. Jesus é o Deus-conosco e conosco permanecerá
(cf. Mt 28,20), até que a salvação se realize plenamente” (cf. Roteiros Homiléticos
do Advento de 2013 da CNBB, pp. 33-38).
Gosto de atualizar o evento narrado
pelo Evangelho deste domingo. Em nossos dias, quando a filha da vizinha aparece
grávida, fica “mal falada”. Mesmo com o hedonismo “em alta”, os que se sentem
“certinhos” julgam e condenam a gravidez fora do casamento, principalmente
quando ocorre com meninas jovens (menores de idade) ou por conta de alguma traição.
Se é assim entre nós hoje, imaginemos a angústia e o dilema de José, de Maria,
suas famílias e parentes... O que terá dito a sociedade de Nazaré? Foi preciso
muita confiança, fé madura e gratuidade para acolher o que Deus pedia àquele
jovem casal. Não poucas vezes colocamos em dúvida a presença amorosa de Deus em
nossas circunstâncias. Nem poucas vezes questionamos ou culpamos Deus por
dissabores e eventos incompreensíveis à nossa razão, e que só podem ser
acolhidos pela ternura de nosso coração! Talvez este domingo nos sugira um
pouco mais de silêncio, a fim de podermos ouvir o que Deus tem a nos pedir, a
fim de participarmos do profundo mistério da salvação.
Sejam todos abençoados. Com ternura
e gratidão, o abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 7,10-14; Sl 23(24);
Rm 1,1-7 e Mt 1,18-24).