Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico,
Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão
Preto e Jornalista.
“Enquanto estavam em Belém,
completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito,
envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para
eles na sala” (Lc 2,6-7).
Maria envolveu o menino com faixas.
Sentimentalismos à parte, podemos imaginar o amor com que Maria aguardava a sua
hora e terá preparado o nascimento do seu Filho. A tradição dos ícones, com
base na teologia dos Padres, interpretou teologicamente também a manjedoura
e as faixas.
O menino rigorosamente envolvido com faixas aparece como uma alusão
antecipada à hora da sua morte: Jesus é desde o início o Imolado. Por isso, a
manjedoura era representada como uma espécie de altar.
Segundo Agostinho, a manjedoura é o
lugar onde os animais encontram o seu alimento. Agora, porém, jaz na manjedoura
Aquele que havia de apresentar-Se a Si mesmo como o verdadeiro pão descido do
céu, como verdadeiro alimento de que o homem necessita para ser pessoa
humana.
O evangelista Lucas narra que Maria,
depois da alusão do anjo à gravidez da sua parenta Isabel, se dirigiu “apressadamente”
para a cidade de Judá, onde viviam Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,39). Os pastores
foram apressadamente, com certeza movidos pela curiosidade humana, ou
seja, para ver o prodígio que lhes fora anunciado; mas seguramente sentiam-se
também cheios de ardor devido à alegria neles gerada pelo fato de agora ter
nascido verdadeiramente o Salvador, o Messias, o Senhor, de quem tudo estava à
espera, e eles seriam os primeiros a poderem vê-LO.
E quantos cristãos se apressam hoje
quando se trata das coisas de Deus? E, no entanto, se há algo que mereça pressa
– talvez o evangelista nos queira dizer tacitamente isso mesmo -, são
precisamente as coisas de Deus.
Aos pastores, o anjo tinha indicado
como sinal que iriam encontrar um menino envolto em faixas e deitado numa
manjedoura. A pobreza de Deus é o seu verdadeiro sinal (cf. Bento XVI.
A Infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012, pp. 59ss – livre interpretação).
Celebrar o Natal em que terminamos o
Ano da Fé, em que sediamos a Jornada Mundial da Juventude e recebemos a
primeira viagem do Santo Padre o Papa Francisco, também somos convidados a
identificar o sinal da presença amorosa de Deus entre nós. Não se trata de
correr apressadamente a um estábulo em busca de um menino envolvo em faixas
reclinado numa manjedoura. Mas poderemos encontrar na manjedoura, isto é, na
pobreza do nascimento de Jesus, o grande sentido de celebrarmos tal evento de
nossa fé, em que misteriosamente se realiza a redenção dos homens.
É compreensível que as pessoas
simples que crêem no evento do Natal ouçam o cantar também dos pastores e, na
Noite Santa, se juntem às melodias, desde então, em Belém, até o fim dos
tempos, exprimindo a todos com o canto a grande alegria, de que Deus, continua
sendo reconhecido em Sua pobreza, no semblante de todos que o celebram à luz da
fé, desde a intimidade de seus corações!
“Ensinai-nos
a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz ao nosso caminho. E que esta
luz da fé cresça sempre em nós, até chegar aquele dia sem ocaso, que é o
próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor” (Papa Francisco in Lumen Fidei, p. 61). Que este Natal seja
o mais abençoado e cheio da ternura de Deus para todos!