“Porque sois filhos, Deus enviou aos
vossos corações
o Espírito do seu Filho, que clama:
Abba, Pai” (Gl 4,6).
“Domingo passado, celebramos o dom
do Espírito Santo sobre cada um de nós. Assim concluímos os cinquenta dias das
solenidades pascais. Na Páscoa de Jesus e em nossa páscoa na dele, pudemos
experimentar como Deus foi – e continua sendo – extremamente bom para conosco.
Hoje, como que buscando vivenciar
ainda mais intensamente a beleza de Deus, celebramos sua própria intimidade de
amor e vida a se expandir para dentro da história da humanidade.
Que bom estarmos reunidos, na Solenidade da Santíssima Trindade. Deus acabou de nos falar, pelas leituras bíblicas proclamadas.
Deixemos, agora, que o Senhor nos explique o que ele nos disse: primeiro
recordando, brevemente, o que Ele nos falou para, depois, mergulharmos mais
fundo no mistério da festa deste domingo e, enfim, celebrá-lo bem na liturgia e
no nosso próprio viver cristão do dia a dia.
‘Bendito
seja o Pai, bendito seja o Filho unigênito e bendito o Espírito santificador.
Somos todos acolhidos, amados e convidados a fazer parte da Família de Deus.
O Espírito da
verdade nos fala através da Palavra proclamada. Prometido por Jesus, ele nos
leva a experimentar o amor de Deus, que nos conhece e nos ama desde toda a
eternidade.
A verdadeira
sabedoria procede de Deus e precede a humanidade, é posterior a Deus e anterior
ao universo, é inferior a Deus e superior ao mundo. O Espírito nos faz conhecer
os planos do Pai celeste revelados em Jesus. Deus derramou seu amor sobre cada
um de nós.
Na Eucaristia
damos graças ao Pai, por Cristo, no Espírito, pelas maravilhas da criação e
principalmente por seu plano de salvação que continuamente nos reúne e atua em
nossa vida” (cf. Liturgia Diária de Maio de 2013 da Paulus, pp. 90-93).
Santíssima
Trindade! Eis a riqueza inesgotável que a
Igreja nos aponta para que saibamos onde Deus abre seu íntimo para nós: em seu
Filho Jesus e no Espírito de Jesus que nos anima. Lá encontramos Deus, o
encontramos não como bloco de granito, monolítico, fechado, mas como pessoas
que se relacionam, tendo cada uma sua própria atuação: o Pai que nos ama e nos
chama à vida; o Filho Jesus que, sendo bom e fiel até o dom da própria vida na
morte de cruz, nos mostra de que jeito é o Pai; e o Espírito Santo, que ainda
de outro jeito, fica sempre conosco. O Espírito atualiza em nós a memória da
vida e das palavras de Jesus e anima a Igreja. Todos os três estão unidos e
formam uma unidade naquilo que Deus essencialmente é: amor.
Que bom seria se toda a humanidade
tomasse consciência desta riqueza de vida e se conectasse com ela!... A saber,
que somos, juntamente com todas as criaturas, totalmente permeados pela
presença do amor criativo, ativo e unitivo da Trindade santa. Para além (ou aquém) das couraças e armaduras de nosso corpo
pessoal e social, este amor trinitário está presente, fez de nós sua morada,
seu espaço predileto. O problema é que nos identificamos facilmente com o
efêmero de nossas couraças e armaduras, nosso ego, de tal modo que nos
desconectamos da nossa essência, com tristes consequências: perdemos a unidade,
nos fragilizamos, nos fragmentamos, nos tornamos inseguros, medrosos,
desesperados, estressados, agressivos, amargurados, sem qualidade de vida
pessoal e social.
Sobretudo em nossos tempos, quando a
humanidade tende a isso mesmo, à falta de qualidade de vida, decorrente do
endeusamento do efêmero e transitório, temos que aprender a nos conectarmos
sempre mais à essência de nós mesmos, isto é, à Trindade santa que nos habita. Então o mundo será melhor, com certeza.
A Santíssima
Trindade é a melhor comunidade, feita
união, comunhão e partilha. A partir dela, em conexão permanente com ela, é que
seremos bons colaboradores dela para uma sociedade humana mais sadia” (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 11-17).
Como é interessante que haja tanta
disparidade, desunião, inveja e competição entre cristãos, que se sentem filhos
de Deus, irmãos de Jesus Cristo, animados pelo Espírito Santo. Não causaria
tamanha contrariedade uma tristeza profunda no coração do Senhor? Gosto de
pensar a Santíssima Trindade como Comunidade
Perfeita a ser acolhida, imitada, vivida e anunciada com a vida relacional dos
cristãos, especialmente das Comunidades que celebram um mesmo mistério, cada um
a seu modo, mas que nem sempre conseguem viver o mesmo mistério com a
disponibilidade da conversão, da coerência entre fé e ação e, finalmente o bom senso.
O amor com sabor divino que somente a pessoa é capaz de experimentar é o
“ingrediente” principal da Santíssima Trindade: o Pai é o amante; o Filho é o amado e o Espírito Santo é o amor com o qual o Pai ama o Filho e no Filho, cada um de nós, criaturas
prediletas feitas à Sua imagem e semelhança.
Saibamos amar as pessoas com amor de sabor divino, e só assim transformaremos o mundo do desamor!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão o abraço
amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5 e Jo 16,12-15).