Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis;
inclinai o vosso ouvido e escutai-me!” (Sl 16,6).
“Estamos precisamente no início do
mês de junho, mês de muitas festas: dia 7, celebramos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus; depois teremos as festas juninas, pelas quais admiramos e
celebramos alguns irmãos nossos, especialmente santificados pelo Espírito do Senhor: Santo Antônio, dia 13, Padroeiro de nossa Reitoria que neste ano celebra os 110
anos de sua abertura, carinhosamente conhecido por todos como Santo Antoninho, Pão dos Pobres, São João, o Batista, dia 24, São Pedro e São Paulo, dia 29, em que nosso novo Arcebispo Metropolitano, DOM MOACIR
SILVA, recebe das mãos do Santo Padre o Papa Francisco, o Pálio na Basílica de São Pedro, no Vaticano em Roma.
Hoje, especialmente hoje, como todos
os domingos, é festa. Grande festa, pois é domingo, dia semanal em que
celebramos a Páscoa do Senhor e nossa Páscoa. Como, aliás,
diz uma das orações do Missal: ‘Senhor, Pai santo, é nosso dever e salvação, dar-vos graças e
bendizer-vos, porque, neste domingo festivo, nos acolhestes em vossa casa.
Hoje, vossa família, reunida para escutar vossa Palavra e repartir o Pão
consagrado, recorda a ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem
ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós. Então,
contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia’.
O Senhor nos fala, quando são proclamadas as Escrituras. Somos convidados
a alimentarmo-nos dela, comungando-a como comungamos o pão consagrado, que é
Seu próprio Corpo dado a nós, tornando nosso coração seu ‘Porta-Jóias’, seu ‘Sacrário’ ou seu ‘Tabernáculo’. Que tal
comunhão da Palavra e da Eucaristia continue ressoando aos nossos ouvidos e aquecendo nosso coração.
‘Contemplamos neste Nono Domingo do Tempo Comum o exemplo de fé deixado pelo oficial romano. Seu testemunho nos
anima a celebrar e fortalece nossa caminhada neste Ano da Fé. Segundo o Papa Emérito Bento XVI, ‘a fé vivida abre o coração à graça de Deus, que liberta do
pessimismo’, e o Ano da Fé pode ser compreendido como ‘uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se
deve levar apenas o que é essencial: o
evangelho e a fé da Igreja’.
A fé nos une na escuta da palavra de
Deus. Ela reconhece fronteiras e faz de muitos povos e grupos um só povo
comprometido com o evangelho de Jesus.
Somos convidados a rezar por todas
as pessoas, e todas podem ter acesso à casa que é de todos, a Igreja. A fé não
conhece fronteiras nem grupos étnicos ou religiosos. Para ser fiel a Jesus
Cristo, é preciso fidelidade ao evangelho em sua essência’ (cf. Liturgia Diária de
Junho de 2013 da Paulus, pp. 17-19).
A Palavra nos coloca hoje frente a uma fé admirada e elogiada por Jesus. Que fé? ‘A fé que não conhece fronteiras nem raças. Jesus Cristo e o Pai
que ele veio revelar são os mesmos em qualquer parte do mundo. Pode acontecer
que, como aconteceu com Jesus, encontremos mais fé fora que dentro de ambientes
religiosos. Isso nos deve manter em atitude humilde e respeitosa. O respeito é
devido também a quem não crê ou professa a nossa mesma fé. Temos em comum a
mesma fé no Senhor morto e ressuscitado por nós, mas cada povo deve expressar a
própria fé a partir de sua cultura e realidade’.
Os que moram mais perto da Igreja não são necessariamente os que
têm mais fé. Muitos cristãos tratam a religião como tradição de família ou
forma de aparecer; mas no fundo do seu coração não acreditam, não dão crédito a
Deus. Dirigem-se por seu próprio nariz, sem deixar Deus se intrometer nos seus
negócios... Decidem por conta própria o que lhes convêm, Deus e religião à
parte. E mesmo quando estão em apuros por interesse próprios. Diferente é a fé
do oficial romano pagão, que usa a magnífica imagem tirada da vida militar para
reconhecer o poder de Jesus e lhe pedir pela vida de seu empregado. Este pagão
reconheceu em Jesus a presença do Deus da vida.
Então poderíamos perguntar e nos
questionar: Será que também hoje se encontra tamanha fé entre os que não
pertencem oficialmente à Igreja, mas talvez no coração estejam mais próximos de
Jesus do que nós? Não apenas os pagãos que ainda não ouviram o Evangelho...,
mas os pagãos de nossas selvas de pedra, de nossa sociedade, que abafou o
Evangelho a tal ponto que, apesar dos muitos templos, ela já não chega ao
ouvido das pessoas. Tal que se diz ateu, talvez porque nunca encontrou
verdadeiro cristianismo, ou tal que vive dissoluto, por ter sido educado assim;
ou então, tal que busca Deus com o coração irrequieto de Santo Agostinho...
todos esses não receberão maior elogio de Deus do que os cristãos acomodados?
Graças a Deus que sua Palavra hoje nos faz tomar consciência disso. É muito bom para todos nós,
cristãos, discípulos e discípulas de um Mestre muito especial, Jesus Cristo. É
bom e libertador, porque nos ajuda a descobrir a riqueza dos outros, o modo
como Deus se manifesta em todo o universo humano. É bom e libertador, porque
aprendemos a dar mais valor a esse modo único no qual Deus se dá a conhecer em
Jesus Cristo.
Que o Espírito Santo de Deus e seu
santo modo de operar nos ilumine, para sermos humildes e termos a admirável fé
que teve o oficial romano, não judeu, portanto pagão, que generoso e solidário
com os outros, foi capaz de ver, no ser divinamente humano, Jesus de Nazaré, a
presença perfeita do Deus solidário, o Deus da vida” (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 25-30).
Insisto sempre comigo mesmo e com
meus interlocutores, que nossa fé só amadurecerá na medida em que for
comprometida com os valores essenciais ao cristão: amor gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz. A vivência em nossas Comunidades, Pastorais e Movimentos de uma fé madura, logo comprometida, só será
verdadeira, na medida em que tivermos coragem de profunda conversão, coerência entre o que cremos e vivemos e bom senso, que nos incentive ao zelo e sensibilidade
pastorais sempre!
Sejam sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço
amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 8,41-43; Sl
116(117); Gl 1,1-2.6-10 e Lc 7,1-10).