Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Estamos
chegando ao final do Ano Litúrgico.
Hoje celebramos o Trigésimo Segundo Domingo do
Tempo Comum. Jesus continua o
ensinamento aos discípulos, agora, já em Jerusalém, depois de sua entrada
triunfal (cf. Mc 11,1-11).
A Liturgia da Palavra
nos apresenta duas viúvas – a de Sarepta e a que colocou sua esmola no cofre do
Templo de Jerusalém. Na segunda leitura, estamos em outro Templo, não no de
Jerusalém, mas no Santuário
que é o próprio corpo
de Cristo,
simbolizado em sua Igreja
reunida.
Fiquemos atentos, na celebração de
hoje, a muitas ‘viúvas’
que trazem para nossas celebrações suas vidas, seus sofrimentos, suas dores,
suas esperanças. Que nossa assembleia litúrgica esteja aberta
a todos que a compõem. Todos os que exercerem algum
ministério, nesta celebração, estejam a serviço
daqueles que estão dispostos a ouvir a Boa Nova
e a oferecer suas vidas ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Que possamos
todos fazer de nossa vida uma oferta agradável
a Deus e aos irmãos.
‘Deus
abençoa o pobre que, com sua generosidade, sabe partilhar o pouco que possui.
Jesus se doa totalmente para a expiação dos pecados da humanidade. A verdadeira
generosidade se manifesta no dar além da sobra’ (cf.
Liturgia Diária de Novembro de 2012 da Paulus, pp.41-44).
Diante do gesto da pobre viúva,
Jesus chamou os discípulos para conversar e ensinar. Diante da sociedade
utilitarista e daqueles que alicerçam suas vidas sobre os critérios da
aparência e da generosidade calculada, Jesus nos chama para conversar e
ensinar. Diante deste mundo no qual o dinheiro, o status, o sucesso são mais valorizados que as pessoas e seus
sentimentos, Jesus nos chama para conversar e ensinar.
Mesmo no interior da Igreja, contra
toda a lógica do evangelho, há aqueles que fazem de sua vida uma corrida em
busca de honrarias, prestígio e aplausos. Iludem-se, pois a fama pela fama, a
aparência pela aparência, só traz um imenso vazio. No passado, Jesus alertou os
discípulos: ‘Guardai-vos
dos escribas’.
Hoje ele avisa: ‘Não
se iludam com os modelos de sucesso que existem por aí’.
Jesus reprova nos escribas a cegueira espiritual.
Eles eram os especialistas no conhecimento e na interpretação dos preceitos do
Senhor. Sua prática, porém, não se conformava com seus conhecimentos e suas
interpretações. Há muitos cristãos que, teoricamente, conhecem muito bem os
critérios evangélicos e os preceitos da vida cristã, todavia ‘fazem o bem,
pensando em si’. Na prática comunitária, não mergulham no espírito e,
consequentemente, se tornam mesquinhos e intolerantes. O Mestre alerta seus
discípulos para a verdadeira prática religiosa. Esta não consiste na busca de
honrarias, no ocupar lugares de destaque nas comemorações públicas, no uso
ostensivo de vestes e de sinais externos para chamar atenção sobre si. A
verdadeira prática religiosa brota da generosidade e da humilde dedicação aos
pobres e necessitados (cf. Tg 1,27).
O seguimento de Jesus se caracteriza pela doação, pela solidariedade.
Jesus contrapõe ao modo hipócrita do
agir dos escribas e ricos senhores do templo a generosidade e a religiosidade
sincera de uma pobre viúva. Despojada dos bens terrenos, doa tudo o que possui,
demonstrando que sua confiança e segurança estão nas mãos de Deus. É a
generosidade radical. Ela não doou o supérfluo, manifestou uma generosidade
gratuita, no sentido da entrega total, sem esperar nada em troca. ‘Sua humilde
esmola vale mais do que abundantes doações dos ricos, pois estes dão do
supérfluo, enquanto que a viúva oferece a Deus o que ela necessitava para
viver’.
A Liturgia da Palavra
de hoje nos faz lembrar que a grande maioria de nosso povo é muito generoso.
Basta avaliar a pronta resposta diante de certas calamidades provocadas por
seca ou por enchentes. Multiplicam-se as toneladas de donativos. [...] Lamentavelmente as doações nem
sempre chegam ao destino. Ainda nesta semana assistimos noticiários que
mostraram milhares de pares de sapatos, centenas de eletrodomésticos destinados
à Região Serrana do Rio de Janeiro, desde o início do ano armazenados e
apodrecendo em Nova Friburgo. Enquanto os pobres partilham de sua pobreza, os
responsáveis pela justa distribuição se revestem de descaso e egoísmo
insensíveis com as pessoas sofredoras. [...]
Felizmente, existem muitas ‘viúvas de Sarepta’,
como a do evangelho, que anonimamente vivem da certeza de que ‘Deus abençoa
quem generosamente partilha seus próprios bens’. Vivem na gratuidade. Não
porque ter bens materiais seja uma coisa ruim, mas pelo fato de eles assim
cumprirem sua finalidade: serem colocados à disposição de quem deles necessita.
A partilha generosa e solidária multiplica as soluções de problemas que parecem
insolúveis. Enquanto a ganância provoca a fome e a miséria, a partilha
solidária multiplica as possibilidades de vida digna.
Não nos esqueçamos de que, além de
nossos bens materiais, é preciso também partilhar nosso tempo e nossos dons
pela causa do Reino de Deus. Às vezes, pode ser mais fácil dar em forma de
dinheiro, do que mexer em nosso tempo” (cf. Roteiros
Homiléticos n. 23 da CNBB, pp. 91-97).
Finalmente a Palavra
de Deus deste domingo nos coloca diante de
algumas perguntas pertinentes. Neste Ano da Fé
somos conclamados à coerência entre o que pensamos, rezamos, pregamos (falamos)
e fazemos. Se Jesus, em pessoa, viesse conversar conosco, ficaria feliz com
nosso modo de viver
nosso Batismo, nosso Ministério e nossa Vida na Comunidade de Fé?
Penso comigo: graças a Deus, entre nós, Jesus
certamente não precisaria repetir o que disse aos discípulos: “Tomai cuidado com os doutores da
lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças
públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares
nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações.
Por isso eles receberão a pior condenação”(Mc 12,38b-40).
Caso
alguém se identifique com os “escribas”,
ainda é tempo de mudar. A conversão não deve esperar para amanhã. Oxalá
aconteça ainda neste domingo. Do contrário, de que adiantaria celebrar, não é
mesmo?
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 17,10-16; Sl 145(146); Hb
9,24-28 e Mc 12,38-44)