Quando referimos, conforme o
Gênesis, que o ser humano tem um sopro divino, numa estrutura de barro,
queremos significar que ele é dotado de uma mente humana. Os filósofos,
comparando-o com os animais, definiram o ser humano como animal racional. Com
Descartes, porém, restringiram ainda mais o racional ao processo cognitivo
humano. Daí o racionalismo, que empobreceu o valor da intelectualidade, na
busca de sua fonte em Deus.
A mente humana compreende duas
faculdades exímias: o intelecto e a vontade. Convém, desde logo, lembrar que o
intelecto não se restringe à razão, ou seja, não procede apenas por argumentos
ou provas lógicas ou empíricas, mas tem também uma capacidade de intuir a
verdade. A mente humana nos proporciona, pois, a capacidade de conhecer e amar.
Ou, olhando por parte do objeto, coloca-nos em contato com a verdade e com a
bondade por parte do objeto, coloca-se em contato com a verdade e com a bondade
dos seres, respectivamente.
Nossa época pós-moderna nos adverte
contra o perigo de cairmos no objetivismo. Nosso relacionamento com o objeto
envolve também sentimentos. E logo discernimos entre os objetos de nível
físico, vegetativo, sensitivo e racional. Nosso relacionamento, ou seja, nosso
conhecimento com os minerais, as plantas, os animais não pode ser o mesmo que
temos com os homens e com Deus. No caso dos homens e de Deus, nosso
relacionamento, que envolve conhecimento, vontade e sentimentos, é
intersubjetivo. E essa característica envolve todo o nosso relacionamento com o
universo, na medida em que o acolhemos de Deus e ele nos revela as suas
maravilhas, tornando-se habitação e ambiente de vida para nós e nossos
semelhantes. É o que nos ensina Saint Exupéry, no Pequeno Príncipe: a raposa,
por não comer pão, não teria nenhum relacionamento com o trigal. Mas se for
cativada pelo Pequeno Príncipe, lembrará as ondulações de seus cabelos e
adquirirá um profundo e novo significado.
Viver humanamente é realizar-se. É
tornar-se pessoa. Isso se faz pelo relacionamento, que tem, na
intersubjetividade, sua matriz. Sua atitude básica será a acolhida de cada
pessoa, para que ela se sinta amada e realizada. Não é, pois, possível curar
uma pessoa – de qualquer doença – sem levá-la à vivência de sua subjetividade,
que resulta da intersubjetividade das pessoas que cuidam dela. Curar, no fundo,
é demonstrar carinho, ir em socorro, tirar do isolamento, mostrando que ela não
está a sós no combate à doença. Não conseguindo reagir com as próprias forças,
há quem lhe venha em socorro. E isso deve ser feito humanamente, o que equivale
a dizer, intersubjetivamente. A doença humana não se reduz a um fenômeno
biológico. Envolve e afeta profundamente sua mente (cf. Fonte: GRINGS, Dadeus. Cartilha da Saúde – Um Apelo da Bioética.
Presscom, Porto Alegre (RS), 2008 pp. 29-30).
Especialmente a Igreja, através de
seus Ministros Ordenados e da Pastoral da Saúde, deve priorizar nas Comunidades
de Fé, Oração e Amor, os Enfermos, que fazem de seus limites físicos e leitos
de dor, o verdadeiro Altar do Sacrifício do Senhor. Por isso, saibamos sempre amar
os enfermos com amor de mãe!
Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico,
Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão
Preto e Jornalista.