Meus queridos
Amigos e Irmãos na Fé!
“O Mês da Bíblia
que estamos trilhando, instituído em 1971, tem como meta instruir os fiéis
sobre a Palavra de Deus e difundir o
conhecimento das Sagradas Escrituras.
Já dizia São Jerônimo que ignorar as Escrituras é
ignorar o próprio Cristo.
A implantação desse mês temático colaborou na aproximação do Povo de Deus
com a Bíblia.
Cresce a consciência e o esforço para a necessária animação bíblica de toda a
pastoral. Propondo o estudo e a reflexão do Evangelho de Marcos
para este mês, a Igreja deseja reforçar a formação e a espiritualidade de seus
agentes e fiéis, no seguimento de Jesus
Cristo.
Na caminhada litúrgica que fazemos,
nos reunimos para celebrar o Vigésimo Quarto Domingo do Tempo
Comum, em que os discípulos de Jesus são interrogados pelo Mestre
sobre quem dizem que ele é. Pedro responde categoricamente: ‘Tu
és o Messias!’. A partir do contato que estamos tendo
com o Evangelho de Marcos, o que podemos
afirmar da identidade de Jesus?
Certamente já temos respostas muito oportunas. [...]
Em clima de Campanha Eleitoral,
preparando-nos para exercer nossa cidadania nas Urnas Eletrônicas no próximo
dia 7 de Outubro, seria oportuno trazer à nossa realidade o evento dialogal de
Jesus com seus discípulos. Não queremos subestimar a pessoa do Senhor e muito
menos idolatrar nossos Candidatos às Prefeituras e Câmaras de Vereadores. Mas
pensem comigo, se a situação não se parece? Seguramente os Candidatos, a cada
momento, diariamente, buscam saber de seus assessores, como estão as pesquisas
oficiais e oficiosas. Imagino que a pergunta dos Candidatos aos assessores deva
ser muito parecida com a de Jesus aos discípulos: ‘O que dizem os
Eleitores a meu respeito? Vocês acham que temos chance de ganhar estas
eleições? Quem pensam os Eleitores que eu sou?’
A resposta dos discípulos é muito precisa quanto ao que pensa o povo sobre a identidade de Jesus:
totalmente equivocada! Ainda o povo não conhece bem a Jesus.
A impressão que o evangelista passa, que isso para Jesus não é o que mais interessa. O
interessante mesmo para Jesus,
é a opinião, a noção, o conhecimento dos mais próximos; daqueles escolhidos a
dedo, em que Ele colocou toda sua confiança e a quem prepara para se tornarem
um seguimento Seu: discípulos e
missionários, outros
cristos num mundo ingrato, violento, vazio de valores e oco de Deus!
É onde entra a profissão de Pedro, que deverá ser sempre a de qualquer cristão
autêntico, sem medo de perder sua vida, sua posição social, seu emprego, sua
honra, seu prestígio por nada: ‘Tu és o Messias!’.
Resposta que implica uma compreensão clara da cruz, do calvário, da zombaria,
dos açoites daqueles que pretendem comprar nossa consciência (nosso voto a
qualquer preço). Só reconhece Jesus
como o próprio Deus conosco
quem faz a experiência de ser livre para amar, falar sempre a verdade, ser
coerente, transparente, não decepciona, vive a justiça, promove o bom senso e a verdadeira paz. [...]
No dia 14 de Setembro, celebramos a Festa
da Exaltação da Santa Cruz e a Festa
de Nossa Senhora das Dores. Dor, sofrimento são
coisas que os homens e mulheres de nosso tempo procuram, de muitos modos,
diminuir, abreviar e até eliminar. O que dizer então do luto? Abreviam-se, em
geral, cada vez mais o tempo dos velórios, misturam-se elementos diversos para
tornar esses momentos o menos traumático possível. [...] Por que temos tanto
medo da morte, quando é uma das raras certezas que temos? Não seria melhor
olhar a morte com mais humanidade, melhorando, cada vez, que ela passa por
perto e leva de nosso convívio alguém que amamos nossa qualidade de vida? Cada
vez que me encontro num velório, imagino-me confinado naquele pedacinho de
madeira... E se fosse eu? O que seria de mim? Por que corremos tanto atrás de
bens materiais, prestígio, poder, cargos, funções, quando todos, sem escapar
ninguém, um dia teremos de responder à eternidade, quando de lá ecoar nosso
nome? Não consigo compreender, como nossas pretensões, ganâncias, egoísmos,
mesquinharias e desamores possam conduzir nossas relações, se um dia tudo
acabará na eternidade, diante de Deus, d’Aquele que Pedro chama de Messias?
Nem por último: não levamos nada conosco. Estaremos despidos de qualquer posse,
mas vestidos de valores que procuramos cultivar como: humildade, mansidão, ternura e tantas outras belezas
humanas! Por isso, ter medo da morte é desconhecer Jesus,
estar equivocado quanto à sua identidade. É fé imatura, esclerosada,
ressequida, murcha, inútil, já que nossa verdadeira fé se debruça sobre a
esperança de que morrendo, veremos Deus como Deus é. E isso basta! [...]
O salmo 114(115) expressa a
confiança em Deus que é amor-compaixão.
O senhor liberta a vida da morte, enxuga dos olhos os prantos e os pés do
tropeço. Qual o limite de nossa confiança em Deus? Além das palavras do
salmista, a liturgia deste domingo nos apresenta as palavras do ‘servo de Javé’ e o primeiro anúncio da Paixão feito
por Jesus.
O evangelho deste domingo constitui
a parte central do Evangelho de Marcos.
Jesus,
no caminho, interroga os discípulos para saber o que o povo e eles mesmos
conseguiram entender a seu respeito. Depois de ouvir aquilo que é opinião do
povo, dirige-se diretamente a eles. Pouco antes, Jesus os repreendera porque estavam
como que cegos, ‘têm olhos, mas não veem’
(Mc 8,18), e seus corações endurecidos não lhes permitem entender sua
verdadeira identidade. Pedro é muito exato em sua resposta: ‘Tu
és o Messias’. A imposição do silêncio por parte de Jesus
se deve, certamente, à ideia distorcida que Pedro e os demais discípulos têm a
seu respeito, o que se comprova mais adiante na outra reação de Pedro.
Jesus, anunciando sua Paixão,
o modo como o Pai realizará nele sua obra salvífica, deseja eliminar todo
mal-entendido. Vejamos se também nós, ao basearmos o crescimento do Reino de
Deus em fama, triunfo, aplausos alcançados, templos cheios, não estamos
seguindo os critérios dos homens...
Quais seriam as palavras de Jesus
para nós, seus discípulos hoje?
Hoje, torna-se cada vez mais pesada
a cruz do testemunho autêntico de fé e do seguimento. Em muitos ambientes
sociais, é pesada a cruz da identidade da fé católica; a cruz dos conflitos
familiares; a cruz das intrigas entre lideranças (também entre candidatos
políticos que ao invés de apresentarem suas propostas e capacidades, gastam seu
tempo atirando pedras no telhado dos outros, mesmo tendo cada um seu telhado de
vidro, de alguma maneira); a cruz da incerteza e da carência de dignas
condições de vida; a cruz da fome, do desemprego, da falta de saúde, da
exclusão, das promessas não cumpridas...
Finalmente, somos convidados a
colocar-nos no lugar de Jesus
sempre: calçar suas sandálias, pensar
seus pensamentos, falar suas palavras, agir seu imensurável amor
por todos, indistintamente!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com
ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Is 50,5-9; Sl
114(115); Tg 2,14-18 e Mc 8,27-35)