Foto: K2 Imagens.
A FIGUEIRA QUE QUERIA
SER CRUZ
“É
como decifrar sinais sem ser sábio competente...”
Violeta Parra
Em Marcos 11: 12 – 14, existiu
uma figueira coberta de folhagens, em direção a qual Jesus se dirigiu para ver
se acharia algum fruto. Mas nada encontrou senão folhas, pois não era tempo de
figo. Dirigindo-se à árvore, Jesus disse: “Ninguém jamais coma do teu fruto”.
E ninguém mais comeu, e nem comeria, dos frutos físicos dessa figueira.
Mas naquela época, ninguém
percebeu uma pequena Pomba Branca, a mesma que apareceu no batismo do Cristo —
segundo o famoso quadro de Verrocchio, Leonardo da Vinci e Botticelli — fugindo
com uma única semente no bico.
E o tempo passou.
E como não poderia deixar de ser,
Jesus, depois de tanta insistência do Espírito Santo, resolveu perdoar a
figueira, mas não de todo: deu autorização divina à pombinha branca que
procurasse por um local adequado para nele deixar a semente com mais de dois
mil anos, mas ela não deveria dar frutos pois palavra de Deus não volta atrás.
Ora, o local adequado para
acolher semente tão preciosa só poderia ser a torre de uma igreja.
A Pomba Branca chegou a sobrevoar
a Catedral de uma grande capital do Brasil — para agradar a Deus, que dizem , é
brasileiro — mas acabou vindo parar em Ribeirão Preto ,
mais precisamente na avenida da Saudade. E numa torre simples, antiga, mas que
abriga a seus pés muitas histórias de amor e fraternidade, a Ave construiu seu ninho e nele depositou, sem alardes, a
semente.
E a semente se fez arbusto antes
do final dos tempos previsto pelos Maias para dezembro de 2012.
Mas sabemos que é da natureza da
figueira dar frutos.
E a semente, agora jovem
figueira, silenciosamente, autorizada
pelo Pai, encontrou uma forma de “burlar” a ordem do Filho: dia a dia,
entrelaçou suas raízes em forma de cruz, ao invés de entrelaçar galhos e
parecer acintosa diante do Criador.
Para não destruir parte do
Templo, ofereceu-se novamente em holocausto nas mãos dos bombeiros, homens que
salvam vidas.
Mas dessa vez, não secou, e de
forma poética, no momento em que o inverno se fazia primavera, voltou a dar
frutos, um pão espiritual oferecido aos pobres da Santo Antoninho, em forma de
cruz entronizada.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
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