“Cristo deixou pastores instituídos para
continuarem a guiar o seu povo, quer por prados e campinas
verdejante,
quer por vales tenebrosos. Eles são chaves
indispensáveis à vida e à missão da Igreja. A preparação e o cuidado desses pastores se faz cada dia mais
exigente e de responsabilidade de todos.
Existem
tantos pobres e famintos, abandonados e sem carinho. A comunidade eclesial, que
celebra o pastoreio de Jesus Cristo, não
pode cruzar os braços nem fechar os olhos diante da situação de tantos e tantos
sofredores, ovelhas sem pastor.
Pastor ou Pastora é quem tem
responsabilidade pelo bem de outras pessoas. A atitude de Jesus nos lembra de
que esta é a forma de ser de Deus, e também deve caracterizar a comunidade
cristã.
No
seguimento de Jesus, somos ovelhas e pastores, convocados a viver a ‘compaixão/sentir com’ os pobres, a ser
‘pastores amorosos’ responsáveis pela sorte, pela vida, pela paz,
pela felicidade dos irmãos e irmãs.
Jesus
traz a paz a todos sem exceção, porque vem da parte de Deus, e, nele, nós somos
filhos de Deus. A divisão entre judeus e pagãos, crentes e não crentes, brancos
e negros, homem e mulher ou qualquer outra oposição não pode ser aceita por
nós. Não tem lugar na comunidade eclesial. A comunidade é chamada a exercer o pastoreio de Jesus, ajudada e animada pelos pastores convocados e
instituídos.
O
convite de Jesus para ir a um lugar tranquilo e descansar um pouco não é detalhe
que destoa no Evangelho. Criemos em nossas comunidades espaços para o descanso,
o lazer, a convivência prazerosa. A vida cristã não se reduz a preceitos,
pecados, orações, devoções, abstinências, jejuns, esmolas... mas proporciona
também experiências fraternas na gratuidade, no aconchego, no convívio alegre e
fraterno.
Jesus
Cristo é a misericórdia de Deus que nos acompanha ao longo da vida e nos conduz
à casa do Pai, para aí habitarmos eternamente.
Como rebanho, encontramo-nos no regaço de nosso Pastor para refazer as forças e
ouvir sua Palavra. A celebração nos afasta da correria da missão e dos afazeres
da vida, para permanecermos na intimidade do Senhor, experimentarmos o seu
carinho e a sua gratuidade, e prosseguirmos mais animados em nossa caminhada
pascal. Somos tocados pelo seu olhar compassivo. Sua presença amorosa se faz
sentir na comunidade de irmãos que juntos celebram o sacramento de sua Palavra,
que ecoa do meio dos acontecimentos, da homilia, dos cantos e do silêncio. E,
num diálogo de aliança e compromisso, respondemos, professando nossa fé e
suplicando, desejosos que seu Reino venha logo.
Mas
é no rito eucarístico que vivemos a plena comunhão da aliança com o Senhor.
Agradecidos, oferecemos com Ele nossa vida ao Pai que nos brinda com a ceia,
sacramento da entrega de seu Filho na cruz.
Na
comunhão de sua aliança, deixamo-nos tomar de compaixão pela multidão faminta,
sofrida e desesperançada ao nosso redor. Pela força do Espírito, como bons
pastores, assumimos doar nossa vida para que o mundo tenha vida e alegria.
‘O coração compassivo de Jesus acolhe a
todos os que se aproximam dele e nunca decepciona ninguém [...] Só Deus não decepciona. Nós nos decepcionamos
constantemente, por conta de nossos limites. Mas se deixarmos Jesus assumir nossas
fraquezas, Ele nos ajudará a melhorarmos em nossa missão. É preciso
configurar-nos com Jesus, o Bom Pastor, vivendo
como Ele vive em nossas relações pessoais, comunitárias, eclesiais, políticas e
sociais. [...]
O Senhor é o verdadeiro Pastor que conduz por caminhos retos e cheios de compaixão. As
lideranças e toda a comunidade são convidadas a orientar sua prática por Jesus,
que faz cessar as divisões e leva todos ao Pai.
O profeta Jeremias faz severa
crítica aos responsáveis pelo povo que não cumprem seu dever [...] Aqui são contemplados
os ministros ordenados e instituídos, os agentes de pastoral e coordenadores de
nossos movimentos eclesiais, nossos políticos (conheçamos bem os
candidatos para as próximas eleições, principalmente os que pretendem depois de
inúmeras vezes reelegerem-se ao Legislativo). [...] A
compaixão e a ternura de Jesus, pastor messiânico,
diferenciam-se nos dos outros pastores. Deus não exclui nenhum povo, ele quer
que todos sejam ‘povo de Deus’. A mesa da eucaristia nos alimenta e restaura nossas forças
para sermos bons anunciadores do reino’ (cf. Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2012,
pp. 69-71).
Como
bom pastor, Jesus se compadece dos pobres,
dos famintos, dos desempregados e abandonados à própria sorte. Solidariza-se com
os nossos sofrimentos. Guia-nos, fortalece-nos e defende nossa vida em meio aos
reveses e sobressaltos do dia a dia” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 22,
pp. 71-77).
O
convite da Palavra deste Domingo para cada um, mergulhado em sua vocação,
missão e responsabilidade, é de uma vez por todas configurar-nos com Jesus Cristo, o Bom Pastor! Isso só será possível se
nos despirmos de nossa arrogância, prepotência, ganância, de nosso carreirismo,
busca de prestígio e poder: o querer ser sempre melhor que os outros. Também
precisaremos esforçar-nos para superar entre nós, pastores e ovelhas, a inveja,
a competitividade, o individualismo e a indiferença com nossos semelhantes.
Quantas situações conhecemos, em que nos alegramos com os aparentes fracassos
de nossos irmãos, até mesmo no ministério? Falamos em fraternidade sacerdotal,
porém mal nos cumprimentamos, e quando possível falamos mal de nossos próprios
irmãos, escondendo nossos defeitos atrás dos deles. Coisa feia!... É
interessante que não confiamos uns nos outros. Antes, corremos uns dos outros,
julgamos mal com mais rapidez do que oferecemos nossa ajuda. A falta de
fraternidade presbiteral e comunitária; a concorrência entre uma Comunidade e
outra, são contratestemunhos que espantam muitos fiéis de nossas Igrejas. Tais
situações escandalizam os menos evangelizados e nos garante como prêmio eterno
uma pedra de moinho ao pescoço e fundo do mar. Mas nem tudo está perdido. Ainda
há tempo de conversão. Eis nossa sorte: Jesus Cristo, o Bom Pastor perdoa sempre. Permite
que recomecemos a cada dia novamente. Mas é preciso querer viver a ternura que Jesus vive por cada
um que procura esforçar-se para ser
configurado com Ele. Oxalá, nossa Igreja passe por uma profunda conversão e
seja reconhecida, porque acolhedora viva a verdadeira Teologia
Pastoral da Ternura!
Sejam
todos abundantemente abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço sempre
amigo e fiel.
Padre Gilberto Kasper
(Ler Jr 23,1-6; Sl 22(23); Ef 2,13-18 e Mc
6,30-34)