Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“A Palavra de Deus do Décimo Quarto Domingo
Comum do Tempo Litúrgico de 2012 toca na vocação, no chamado recebido pelos
profetas, pelos apóstolos, pelos discípulos e por todos os que se reúnem, para
serem enviados na força do Espírito Santo.
Jesus
foi rejeitado porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré ao
lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram nele
nada de extraordinário que o identificasse com o Messias de Deus. Mas o
extraordinário está justamente aí: no fato de não ter nada que possa diferir da
condição humana comum.
O
Filho de Deus se fez como qualquer um de nós. Muitos afirmam que não creem
porque não veem. Os conterrâneos de Jesus não creem justamente porque veem
Jesus trabalhador, o filho de Maria, um homem do povo, que não frequentou
nenhuma escola superior, um homem que vem de Nazaré, lugarejo insignificante. O
escândalo da encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de
muitos cristãos de boa vontade. Isto faz pensar no desafio que é a encarnação
do Evangelho na realidade do povo.
A
Palavra
de Deus nos faz um apelo: não depositar nossa confiança nos grandes.
Também não precisamos ter medo de nossa pequenez e fraqueza. Na trajetória de
Jesus, o maior fracasso se transforma em vitória e ressurreição. Junto a Ele,
há lugar para os fracos. Em Cristo, somos fortes.
Jesus
fica admirado com a falta de fé das pessoas de sua terra, as quais não
acreditam que Deus possa falar através de pessoas simples. A Palavra de Deus se reveste de roupagem
humana e vem a nós com o auxílio da história e de pessoas frágeis, enviadas por
Ele.
A
fraqueza humana dos enviados por Deus cria um espaço de liberdade; quem ouve
pode decidir a favor ou contra. Às vezes, gostaríamos que Deus se revelasse
mediante atos maravilhosos e, assim, evitaríamos o trabalho de discernir quando
e por meio de quem Deus se revela.
Jesus
se fez servo e, por isso, entra em choque com os que preferem o privilégio e o
poder. A encarnação continua nos questionando e nos empurrando para a missão
junto aos marginalizados e enfraquecidos.
Neste
ano de eleições municipais, é preciso saber distinguir os poderosos que se
revestem de aparente humildade para manipular enganar o povo, em proveito
próprio. É muito comum, também entre nós, considerar o poderoso como único
capaz de realizar algo pelo povo.
O
Documento de Puebla nos fala do ‘potencial
evangelizador dos pobres’. O que podem nos dizer os pobres, os deficientes
de nosso país? Aceitamos a revelação de Deus vinda na fraqueza de nossos irmãos
e irmãs, na simplicidade do dia a dia?
A
Palavra
de Deus nos convida a renovar nossa adesão a Jesus, consagrando-nos mais
generosamente à causa do Reino. Essa nossa profissão de fé nos leva a confirmar
que seguimos aquele que foi rejeitado por ser trabalhador, filho de Maria, uma
pessoa comum de seu tempo, vindo de uma aldeia e, por isso, motivo de desprezo
e rejeição.
Acima
de qualquer expectativa humana, o Senhor manifesta sua grandeza na singeleza do
pão e do vinho, frutos da terra e do nosso trabalho. Na simplicidade da
partilha. Ele nos confirma no seu caminho. É em nossa fraqueza que Deus
continua manifestando sua força” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB, n. 22, pp.
58-63).
Todo
ser humano é chamado à Vocação ao Amor! Ela é a primeira
vocação e o fundamento de todas as demais, as chamadas Vocações Específicas! O cristão, tendo consciência de sua vocação ao
amor, só consegue viver sua Vocação Específica, na medida em se
configura com Jesus Cristo: na sua humildade, no seu espírito de serviço, na sua
simplicidade e no seu total desapego de prestígio, poder,
ganância, acúmulo de bens e diplomas. Não poucas vezes nossa vontade de
queremos ser melhor do que os outros, bem como a acepção e discriminação de
pessoas de nossas relações, desfiguram nossa missão de discípulos verdadeiros.
Somos convidados a superar a inveja, a busca de prestígio, o “querer
aparecer-se diante dos outros”, o “tentar esconder nossos defeitos atrás dos
defeitos dos outros”, assumindo com simplicidade nossa história e nossa vida do
jeito como ela é. As falsas aparências, aquelas que enganam os outros, são
abomináveis ao Reino de Deus que deve ser sempre anunciado com nossa própria
vida, mesmo que nem sempre compreendidos, aceitos, reconhecidos por uma
sociedade que pensa sustentar sua sobrevivência sobre a hipocrisia. Quantas
pessoas conhecemos que tentam comprar o prestígio, pagam preços altos, muitas
vezes pisando sobre os mais fracos, para subirem na vida, aparentemente, porque
se consideram superiores. Como é feio achar que os outros são feios e nós os
bonitinhos! A fome de querer ser melhor nos consome e nos apodrece, enquanto a
fome de ser humilde, simples e desapegado de qualquer prepotência, é saciada
pelo próprio Cristo, que se dá em alimento vital, a fim de tornar-se o refúgio dos justos!
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre
Gilberto Kasper
(Ler Ez 2,2-5; Sl 122(123); 2Cor 12,7-10 e Mc
6,1-6)