Agosto no Brasil é o mês vocacional! E neste ano celebramos o 3º Ano Vocacional do Brasil (2022-2023), que tem como tema geral: “Vocação: Graça e Missão” e como lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33). É o Brasil inteiro rezando, num só coração, por vocações sacerdotais, diaconais e religiosas a serviço do Reino de Deus em nosso País com dimensões continentais!
Aos
sete anos de idade, quando cursava o primeiro ano do Ensino Fundamental, nem
bem falava o português, já que em casa falávamos o dialeto alemão Hünsrick. A
Escola Sagrado Coração de Jesus da Congregação alemã das Irmãs de Santa
Catarina de Alexandria me alfabetizou utilizando-se desse dialeto para aprender
o português, bem como me preparou naquele mesmo ano de 1964 para minha Primeira
Comunhão, há 59 anos, no dia 4 de outubro. Minha primeira professora,
coincidentemente minha prima, Irmã Fátima Kasper e a Irmã Neófita foram minhas
primeiras catequistas. Sou profundamente agradecido, também, ao Padre Urbano
José Hansen que fez de meu coração, pela primeira vez, o sacrário de Jesus
Eucarístico. Jamais esqueci aquele dia, um dos primeiros mais lindos de minha
vida. Já sentia muita vontade de ser padre. Prestava atenção no Pároco e dizia
a mim mesmo, que um dia seria como ele. Maior ainda foi minha alegria, porque
depois da Primeira Comunhão, pude também, ser instituído Coroinha. Quanta
gratidão!
Reconheço
que desde a infância fui um moleque muito peralta, arteiro, curioso e
questionador. Sempre queria saber o “por
que” das coisas. Quis entender como a Irmã Fátima conseguia desenhar em
trinta folhas brancas, frutinhas, florezinhas, animais, casas e árvores, todas
iguais. Éramos trinta alunos. Imaginei mil maneiras de como ela fazia aquilo.
Devia passar a noite desenhando as trinta folhas, a fim de que no dia seguinte
nós pudéssemos pintar aquelas figurinhas todas. Assim começávamos a conhecer e
distinguir pedagogicamente formas, cores, nomes etc.
Certo
dia fiquei escondido na sala de aula, durante o intervalo sem ser percebido.
Fui à mesa da Irmã Fátima e abri um estojo de carimbos e almofada. Experimentei
todos eles na capa e nas primeiras páginas da Cartilha do Mestre que se
encontrava também sobre a mesa da professora. Foi quando entendi porque os
desenhos de todas as folhas eram iguais. Senti grande alegria de curiosidade
satisfeita.
Na
volta do intervalo, os alunos todos em suas carteiras, a Irmã Fátima entrou na
sala e quase desmaiou ao ver sua cartilha. Em voz severa e forte perguntou:
Quem sujou minha cartilha de mestre? Um silêncio profundo se impôs e ninguém
nem imaginava que teria sido eu, a experimentar os carimbos na cartilha da Professora.
Ela pegou uma régua de mais de um metro, daquelas de aço que fazem um ruído e
causam um ventinho ao ouvido, quando balançada, e foi de carteira em carteira
perguntando se havia sido aquela ou aquele aluno. Alguns levaram uma boa
“bordoada”. Ainda não existia o Código da Criança e do Adolescente! Eu sentia a
dor de cada colega que apanhava por minha culpa, mas não tive a coragem de
dizer que havia sido eu. Ao chegar próxima de mim, me fitou e disse: “Tu não
podes ter feito isso, porque será padre!” Eu senti um alívio meio
estranho, não tanto por não apanhar, mas pela profecia da minha primeira
professora, que eu seria padre! Passadas algumas semanas,
arrependido pedi desculpas à professora e aos meus colegas.
É na
pessoa de minha primeira professora, a Irmã Fátima Kasper, que agradeço e
presto minha mais sincera homenagem a todos os meus professores. Lembro-me de todos com profunda
gratidão! Sintam-se acariciados todos os Professores. Abençoada a vocação de
ensinar e educar, mas também por despertarem tantas vocações ao serviço
gratuito na Igreja de Jesus Cristo que vive, e de quem somos testemunhas
através de nosso ministério!
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo