O falecimento de Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo Emérito de
Mariana (MG), na madrugada do dia 26 de julho passado entristeceu o coração de
muitas pessoas e me assustou, como não poderia jamais imaginar! Pense numa pessoa
doce! Foi assim que conheci Dom Geraldo, quando eu ainda era seminarista e ele
ainda não havia sido nomeado bispo. Amigo de amigos comuns em Ribeirão Preto e
Vitória no Espírito Santo, tive o privilégio de conviver com ele inúmeras
vezes, quando lhe servia de cicerone durante as visitas que fazia por aqui. Em
datas especiais, especialmente de aniversários, nos falávamos sempre. Não
poucas vezes conversávamos assuntos, os mais diversos, pelas redes sociais.
Nossa última conversa mais longa foi por ocasião de seu 39° aniversário de
ordenação episcopal, dia 31 de maio passado.
No dia de seu aniversário natalício, dia 14 de março de 1984, cursando
o doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana e residindo no
Colégio Pio Brasileiro em Roma, ouvia-se a publicação de sua nomeação como
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória (ES). O arcebispo de então em visita
a Roma, foi quem, a pedido do também então Núncio Apostólico no Brasil, o
consultou se aceitaria ser bispo. A resposta do Padre Geraldo Lyrio ao Papa foi:
“sempre digo sim ao que a Igreja me pede”. Esta era a sua postura, desde que
entrou para o Seminário Coração Eucarístico em Belo Horizonte (MG) com apenas
18 anos de idade. Seu reitor viria a ser nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Arnaldo
Ribeirão, em 1989. Sua ordenação episcopal em 31 de maio de 1984 arregalou os
olhares dos bispos concelebrantes por causa de um pente. O cerimoniário que
conduziu a celebração, após a unção do Óleo do Crisma sobre a cabeça de Dom
Geraldo Lyrio, tirou um pente do bolso e penteou o cabelo do novo bispo que ficara
todo desarrumado. Muitas foram as gargalhadas, até mesmo dos senhores bispos.
Foi, depois, o primeiro Bispo Diocesano de Colatina (ES), onde eu
pude visita-lo por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional em Vitória (ES) em
1996, enquanto eu participava de um Curso para Formadores da América Latina
naquela Arquidiocese. Sabia acolher desde os mais simples (como eu) às mais
importantes autoridades eclesiásticas ou civis, como ninguém. A doçura de sua
simpatia sempre esteve estampada em seu rosto. Me ensinou que “nosso olhar
atento àqueles que nos falam, revelam os sentimentos de nossa alma”.
Preparou com zelo e sensibilidade ímpares as celebrações dos 500
anos da descoberta do Brasil, como presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para a Liturgia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Tornou-se Arcebispo de Vitória da Conquista (BA) e por último de Mariana
(MG), tendo sua renúncia aceita em 2018 pelo Papa Francisco. Mas nunca parou de
trabalhar. Tanto que faleceu em Altamira (PA), onde pregaria o retiro dos
padres daquela Diocese. Iria a Roma, ao Sínodo dos Bispos em outubro próximo.
De 2007 a 2011 foi o presidente da CNBB, desempenhando esse
serviço com muita coragem, sempre persistindo no valor da vida, profetizando
contra a corrupção, conduzindo ao Congresso Nacional a proposta da Lei da Ficha
Limpa, que de tanto mal interpretada, já sujou todinha de novo.
Incumbido de apanhá-lo no aeroporto em São Paulo, para pregar um
dos retiros espirituais de nossos padres em Brodowski, bebi de sua sabedoria em
cada palavra proferida e pensamento exalado. Me ensinou que “uma das melhores
maneiras de conhecer uma pessoa, é viajando com ela”! Foi um retiro (presencial)
muito rico e cheio de bênçãos e graças. O segundo retiro para o qual nosso
representante dos presbíteros, Pe. Ivonei Adriani Burtia, o convidou, precisou
ser virtual por causa da pandemia. Textos muito ricos, colocações precisas e
renovadoras, para quem os absorveu!
Por ocasião do jubileu de prata episcopal de Dom Arnaldo Ribeiro
em 2000, Dom Geraldo Lyrio veio celebrar e, para meu susto, escolheu
hospedar-se na então modesta casa paroquial de Bonfim Paulista, na qual
Paróquia eu tentava servir. Ao invés do jantar de gala oferecido na ocasião,
pediu-me para comermos uma pizza em algum lugar mais simples. Permitiu-me por
inúmeras vezes partilhar consigo de minha pobreza. Desde a eternidade, do colo
de Deus e acariciado por Nossa Senhora, Dom Geraldo Lyrio Rocha, certamente
será inspiração para os Padres Sinodais no Sínodo dos Bispos, para o qual foi indicado
na última Assembleia da CNBB. “Foi-se a Rocha, e agora fica o perfume do Lyrio”!
Pense numa pessoa doce! Geraldo Lyrio Rocha!
Pe. Gilberto Kasper - Teólogo