Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Estamos chegando ao final do Ano Litúrgico. Hoje celebramos o Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum. Jesus continua o ensinamento aos discípulos, agora, já em
Jerusalém, depois de sua entrada triunfal (cf. Mc
11,1-11).
A Liturgia da
Palavra nos apresenta duas viúvas – a de
Sarepta e a que colocou sua esmola no cofre do Templo de Jerusalém. Na segunda
leitura, estamos em outro Templo, não no de Jerusalém, mas no Santuário que é o próprio
corpo de Cristo, simbolizado em sua Igreja reunida.
Fiquemos atentos, na celebração de
hoje, a muitas “viúvas” que trazem para nossas
celebrações suas vidas, seus sofrimentos, suas dores, suas esperanças. Que
nossa assembleia litúrgica esteja aberta a todos que a compõem. Todos os que exercerem algum ministério,
nesta celebração, estejam a serviço daqueles que estão dispostos a ouvir a Boa Nova e a oferecer suas vidas ao
Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Que possamos todos fazer de nossa vida uma oferta agradável a Deus e aos
irmãos.
Deus abençoa o
pobre que, com sua generosidade, sabe partilhar o pouco que possui. Jesus se
doa totalmente para a expiação dos pecados da humanidade. A verdadeira
generosidade se manifesta no dar além da sobra.
Diante do gesto da pobre viúva,
Jesus chamou os discípulos para conversar e ensinar. Diante da sociedade
utilitarista e daqueles que alicerçam suas vidas sobre os critérios da
aparência e da generosidade calculada, Jesus nos chama para conversar e
ensinar. Diante deste mundo no qual o dinheiro, o status, o sucesso são mais valorizados que as pessoas e seus
sentimentos, Jesus nos chama para conversar e ensinar.
Mesmo no interior da Igreja, contra
toda a lógica do evangelho, há aqueles que fazem de sua vida uma corrida em
busca de honrarias, prestígio e aplausos. Iludem-se, pois a fama pela fama, a
aparência pela aparência, só traz um imenso vazio. No passado, Jesus alertou os
discípulos: “Guardai-vos dos escribas”. Hoje ele avisa:
“Não se iludam
com os modelos de sucesso que existem por aí”.
Jesus reprova nos escribas a cegueira espiritual. Eles eram os especialistas no conhecimento e na interpretação
dos preceitos do Senhor. Sua prática, porém, não se conformava com seus
conhecimentos e suas interpretações. Há muitos cristãos que, teoricamente,
conhecem muito bem os critérios evangélicos e os preceitos da vida cristã,
todavia “fazem o bem, pensando em si”. Na prática comunitária, não mergulham no
espírito e, consequentemente, se tornam mesquinhos e intolerantes. O Mestre
alerta seus discípulos para a verdadeira prática religiosa. Esta não consiste
na busca de honrarias, no ocupar lugares de destaque nas comemorações públicas,
no uso ostensivo de vestes e de sinais externos para chamar atenção sobre si. A
verdadeira prática religiosa brota da generosidade e da humilde dedicação aos
pobres e necessitados (cf. Tg 1,27). O seguimento de Jesus se caracteriza pela doação, pela solidariedade.
Jesus contrapõe ao modo hipócrita do
agir dos escribas e ricos senhores do templo a generosidade e a religiosidade
sincera de uma pobre viúva. Despojada dos bens terrenos, doa tudo o que possui,
demonstrando que sua confiança e segurança estão nas mãos de Deus. É a
generosidade radical. Ela não doou o supérfluo, manifestou uma generosidade
gratuita, no sentido da entrega total, sem esperar nada em troca. “Sua humilde
esmola vale mais do que abundantes doações dos ricos, pois estes dão do
supérfluo, enquanto que a viúva oferece a Deus o que ela necessitava para
viver”.
A Liturgia da
Palavra de hoje nos faz lembrar que a
grande maioria de nosso povo é muito generoso. Basta avaliar a pronta resposta
diante de certas calamidades provocadas por seca ou por enchentes.
Multiplicam-se as toneladas de donativos.
Felizmente, existem muitas “viúvas de Sarepta” como a do evangelho, que anonimamente vivem da certeza de que “Deus
abençoa quem generosamente partilha seus próprios bens”. Vivem na gratuidade.
Não porque ter bens materiais seja uma coisa ruim, mas pelo fato de eles assim
cumprirem sua finalidade: serem colocados à disposição de quem deles necessita.
A partilha generosa e solidária multiplica as soluções de problemas que parecem
insolúveis. Enquanto a ganância provoca a fome e a miséria, a partilha solidária
multiplica as possibilidades de vida digna.
Não nos esqueçamos de que, além de
nossos bens materiais, é preciso também partilhar nosso tempo e nossos dons
pela causa do Reino de Deus. Às vezes, pode ser mais fácil dar em forma de
dinheiro, do que mexer em nosso tempo.
Finalmente a Palavra de Deus deste domingo
nos coloca diante de algumas perguntas pertinentes. Neste Ano da Paz somos
conclamados à coerência entre o que pensamos, rezamos, pregamos (falamos) e
fazemos. Se Jesus, em pessoa, viesse conversar conosco, ficaria feliz com nosso
modo de viver nosso Batismo, nosso Ministério e nossa Vida na Comunidade de Fé?
Penso comigo: graças a
Deus, entre nós, Jesus certamente não precisaria repetir o que disse aos
discípulos: “Tomai cuidado com os doutores da lei! Eles gostam de andar com
roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das
primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles
devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão
a pior condenação” (Mc 12,38b-40).
Caso alguém se identifique com os “escribas”, ainda é tempo de mudar. A conversão não deve esperar para
amanhã. Oxalá aconteça ainda neste domingo. Do contrário, de que adiantaria
celebrar, não é mesmo?
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 17,10-16; Sl
145(146); Hb 9,24-28 e Mc 12,38-44).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2015, pp. 42-44 e
Roteiros Homiléticos da CNBB de Novembro de 2015, pp. 80-84.