Pe. Gilberto Kasper*
“A PORTA DA FÉ
(cf. At 14,27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada
na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar esse limiar,
quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça
que transforma. Atravessar essa porta implica embrenhar-se num caminho que dura
a vida inteira. Esse caminho tem início no Batismo (cf. Rm 6,4), pelo qual
podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem
através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus,
que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória
quantos creem nele (cf. Jo 17,22)” (cf. Carta Apostólica do Papa Bento XVI
sobre o Ano da Fé, n. 1).
Costumo
perguntar, quando batizo, se pais e padrinhos sabem o dia do próprio batizado.
A maioria não sabe. Não sabendo o dia do Batismo, dificilmente o celebramos.
Não celebrando o próprio Batismo, dificilmente assumimos nossos compromissos
batismais. Mas o Batismo é o primeiro
Sacramento da Iniciação cristã, que afinal nos adota como filhos de Deus. Gosto
de chamar nosso Batismo, o segundo parto. O primeiro é quando nascemos do útero
materno. O parto do Batismo é quando nascemos do útero da Igreja, a Pia ou
Bacia Batismal. Há um terceiro parto, para o qual nosso Batismo nos prepara,
quando partimos do útero da terra em direção à eternidade.
No Batismo recebemos
o dom da fé. É dom gratuito que nos confere a dignidade de Filhos de Deus,
partícipes de uma mesma Família: a Família Cristã, a Família dos Filhos de
Deus.
Podemos comparar tamanho dom, como um
rapaz que ao pedir sua namorada em noivado, lhe oferece um lindo anel. Ao
entregar o anel, que certamente estará num estojo aveludado envolvido em papel
de presente, a noiva admira o invólucro, mas nem abre o estojo para ver e
admirar o anel. Mais ou menos é o que fazemos com a fé recebida, como dom
gratuito, no dia de nosso Batismo. Nem nos damos o trabalho de abrir o estojo.
Guardamos o presente no fundinho da gaveta e lá, mofa, esclerosa, fica escondido.
Mas a fé, como o anel deve ser mostrado, exibidos, e assim brilhar diante de
todos que nos olham e admiram não um anel no dedo, mas uma fé vivida
concretamente, produzindo frutos saborosos de amor, verdade, justiça, liberdade
e dignidade.
Penso que o Ano
da Fé espera justamente isso de cada cristão: manifestemos nossa fé ao mundo, a
fim de que todos saibam em quem cremos. De quem nos sentimos filhos, de
verdade!
*pe.kasper@gmail.com
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico,
Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão
Preto e Jornalista.