Outubro,
mês das missões. No Ano da Fé.
Se a Fé é algo transcendente, incompreensível aos olhos
humanos, maior do que podemos e do que produzimos, é ela que impulsiona os
seguidores de Cristo a levar adiante a proposta de Deus de vida para todos,
algo sem limites. Fé missionária!
Mas as coisas devem estar em seu lugar e definidas: é verdade que “ninguém vai
ao Cristo se não for atraído pelo Pai”; é verdade,
também, que o Pai nos atrai pela Palavra proclamada e acolhida - por alguém -,
pelo testemunho experimentado, pela história de vida de cada um de nós,
por circunstâncias às vezes inesperadas e não explicadas... A fé não é
ingênua, nem conclusão humana, é dom
gratuito de Deus, mas entra para fazer parte da vida do crente; é vida nova,
nova maneira de ver, apreciar, agir... E ela não é invasiva,
manipuladora, opressora; ela é proposta de vida para o amor, proposta de
rumo novo em vista à esperança, impulso de vitalidade para se levar aos
outros aquilo que se vive.
Não me passou despercebida a indignação do senhor Daniel Sottomaior, presidente
da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, em suas considerações na edição
de 24 de agosto, do Jornal Folha de São Paulo, A3, sob o título “Oração da
vitória”, sobre a atitude dos atletas brasileiros de vôlei, ouro na Olimpíada
recém realizada, de se ajoelhar em “ostensiva prece de agradecimento” ao que
ele chama de “hipotético sujeito poderoso suficiente para fraudar uma
competição olímpica”. Diz ele que “professar uma religião em
público não é crime nenhum, embora costume ser desagradável para quem está em
volta”. Acrescenta que “crescente parcela dos cristãos não se contenta com a
prática privada; para eles é importante a ostentação... ela tem valor de proselitismo.”
“No caso das Olimpíadas, a publicidade é irregular por que... deixa
em situação constrangedora todos os que não partilham
a mesma crença...” “A oração fere a
liberdade constitucional de consciência e crença dos
jogadores”. “O que os atletas
fizeram foi sequestrar aquele privilegiado espaço publicitário para
promover atividades sectárias que só beneficiam seus fins
particulares, em detrimento de todos os demais cidadãos brasileiros”. Amplia o
raciocínio o autor: “no que diz respeito aos poderes públicos, somos todos,
sim, cristãos à força...” Quanto aos atletas, diz que “a seleção
olímpica deixa de representar a mim e aos milhões de brasileiros não cristãos”.
Para ele “aí está um dos aspectos mais corrosivos da religião: priorizando
pretensos seres metafísicos em detrimento dos humanos de verdade, ela só causa
sofrimento”.
São afirmações que fazem pensar, mesmo parecendo ter muito de
suposição, exagero e racionalização da própria atitude. Tanto
quanto me causou agradável surpresa e contentamento ver os atletas ajoelhar-se
e agradecer Àquele que é a fonte da vida, o Pai do Senhor Jesus e de todos nós,
um Deus pessoal, o que não os eximiu de terem se preparado ao máximo para a
competição, percebo que se deve mais e mais estar atento para que fé não seja
só reação emocional, ou apenas sentimentalismo, ou acomodação, ou fuga dos
problemas. Nem seja algo como verniz exterior, só casca, só aparência. E que a
decisão de viver a fé e levar vida a todos não seja proselitismo,
imposição ou desrespeito ao que os outros pensam ou deixam de pensar, mas
oportunidade de favorecer vida a todos.
Que nossas autênticas atitudes de fé missionária favoreçam à vida, ao
crescimento das pessoas, à dignidade de todos, ao reino que vai se estabelecendo
contando com nossa generosa, embora frágil colaboração!
Sejamos missionários de
fé profunda, feliz e provocadora. E com muita alegria
e convicção de estar vivendo e fazendo o melhor!
Pe. Nasser Kehdy Netto,
administrador arquidiocesano