HOMILIA PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM DE 2012
DIA DA BÍBLIA
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Estamos celebrando o
último domingo do mês de setembro. Neste dia, recordamos, de uma maneira toda
especial, a Bíblia. Nenhum outro livro
conseguiu ser traduzido para tantas línguas e chegar a tantos povos como a Bíblia,
na qual encontramos a Palavra de Deus.
Mesmo escrita há séculos, consegue ser sempre atual e importante para qualquer
momento de nossa vida.
A liturgia deste 26º
Domingo do Tempo Comum se apresenta com uma série de
ensinamentos, que manifestam a essência da Bíblia.
Claramente, podemos ver, pelas palavras de Jesus,
que ninguém pode autodenominar-se dono da verdade e muito menos se sentir como
exclusivamente único na promoção do bem, em nome de Deus.
Temos que ser capazes de reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito
de Deus, através de tantas pessoas boas não
pertencentes à nossa instituição, que talvez não pratiquem os mesmos ritos e
devoções por nós praticados, nem professem nossa fé, mas que também são sinais
do amor de Deus neste mundo.
‘O
Espírito de Deus não está preso a nenhuma instituição, mas age livremente e
pode se servir dos instrumentos mais inesperados. A páscoa de Jesus se
manifesta nos grupos e pessoas que, independentemente de credos, se doam a
favor dos pequenos e procuram realizar o bem em meio à sociedade. Neste dia da
Bíblia, acolhamos com alegria a carta que o Pai celeste deixou para cada um de
nós.
Pode haver
profetismo ligado a uma instituição, mas existem outros não menos verdadeiros,
fato reconhecido por Moisés e por Jesus. A palavra de Deus nos mostra que a
defesa dos pequenos e a vivência da justiça transcendem instituições e crenças.
O dom da
palavra para profetizar e anunciar as maravilhas de Deus não é exclusividade de
algumas pessoas ou de alguns grupos. Riqueza acumulada é sinal de morte;
partilhada, sinal de vida. Venha de onde vier, o bem sempre será bem-vindo” (Cf.
Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2012, pp. 88-91).
A liturgia deste domingo nos coloca,
mais uma vez, no contexto do ensinamento de Jesus
a seus discípulos, enquanto caminham para Jerusalém. Apresenta alguns elementos
importantes que precisam ser continuamente recordados. Tanto a primeira leitura
quanto o evangelho, nos recordam que Deus
não é propriedade de ninguém. Nenhuma igreja, instituição ou hierarquia possui
o monopólio do Espírito,
nem pode contratá-lo e, muito menos, acorrentá-lo. O Espírito,
porém, está em todos aqueles que, pela prática dos valores ensinados por Jesus,
estão abertos e dispostos a assumir o caminho que leva à verdadeira construção
do Reino de Deus, que não é comida nem
bebida, mas amor, paz, justiça, solidariedade, partilha.
Nossa comunidade deve ser capaz de
promover o diálogo e saber valorizar as ações boas de outros grupos.
O verdadeiro cristão não tem inveja
do bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus
atua através de outras pessoas, mas esforça-se, cada dia, por testemunhar os
valores do Reino e alegra-se com os
sinais da presença de Deus
em tantos irmãos que lutam por construir um mundo mais justo e fraterno.
A postura de Jesus
evitou que a comunidade se fechasse em si mesma. Hoje poderíamos até dizer que
sua orientação tendeu a um discurso ecumênico. Para reafirmarmos essa postura,
é interessante lembrar que, há 50 anos, o Concílio Ecumênico Vaticano II
reconheceu a ação do Espírito Santo,
no movimento pela unidade dos cristãos.
O evangelho também nos coloca diante
do problema do escândalo dos pequenos na comunidade. É importante entender que
‘os pequenos’ não são necessariamente as crianças, mas os excluídos, os pobres,
os doentes, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Originariamente, o sentido
da palavra ‘escândalo’ significa ‘pedra de tropeço’. Então, ai de quem for essa
pedra e for causa de tropeço. Ela pode ser até mesmo certas atitudes que não
permitem o crescimento da comunidade. Esta é uma advertência especial aos
líderes que são os primeiros responsáveis pela comunidade.
A radicalidade exigida por Jesus não
deve ser considerada no âmbito físico. Usando imagens e linguagem tipicamente
semitas, Jesus manda cortar e jogar fora tudo o que possa causar problemas,
seja no contexto pessoal ou comunitário, mesmo se isso exigir uma atitude
drástica, a fim de não sermos motivo de queda para ninguém” (Cf. Roteiros
Homiléticos da CNBB n. 23, pp. 34-42).
A Bíblia é
a Carta de Amor de um
Deus apaixonado pela Humanidade. Orienta-nos,
sobretudo neste domingo, à coerência entre o que pensamos, celebramos, rezamos
e vivemos em nossas relações humanas. Jesus,
Moisés e Tiago
são muito lúcidos em suas orientações para nossas
Comunidades de Fé, Oração e Amor. Devemos estar atentos: líderes eclesiais,
agentes de pastoral, autoridades religiosas, mas também e, principalmente em
véspera de eleições, as autoridades políticas e
os que se apresentam candidatos! Ai de nós, se
escandalizarmos a quem quer que seja. Geralmente os maiores escândalos são
promessas impossíveis de serem cumpridas, mentiras deslavadas, falcatruas
escancaradas, subestimando a capacidade de discernimento dos eleitores. Pior, é
quando os eleitores não exercem sua cidadania. Quando votam por interesses
pessoais e não pelo BEM COMUM!
Não pretendo atrair holofotes sobre
a Igreja Santo Antoninho. Mas convenhamos, meus irmãos: neste
domingo faz quatro anos e cinco meses, que esperamos pelos
banheiros e melhorias, que tornem nosso espaço
humanamente usável. As pessoas me pedem paciência e
dizem que faço minha parte. Não há noite em que me deito, sem antes pedir a
Deus, que no dia seguinte, nosso projeto se realize!
Embora viva de esperança em esperança,
passadas algumas semanas, preciso “cutucar” a quem prometeu ajudar-nos e novas esperanças
são feitas, que duram até a próxima procura...
Hoje me pergunto: quando realizaremos nosso sonho em
realidade? As pessoas já riem ao tentar
perguntar: “E os banheiros?” Eu choro e dá-me
vontade profética de elencar nomes de quem não mereceria nosso voto, nossa
confiança! Mas prefiro confiar nosso Espaço
Cultural Ecumênico de Espiritualidade ao tempo de Deus,
que certamente não é o meu, nem o seu, nem o nosso. Só
espero que tão logo chegue o tempo de Deus,
não apareçam os que prometeram, mas não cumpriram com o prometido,
escandalizando os pobres da Santo Antoninho!
Desejando-lhes
bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Nm 11,25-29; Sl
18(19); Tg 5,1-6 e Mc 9,38-43.45.47-48)