“A
Festa da Sagrada Família
se insere no Tempo do Natal, ou seja, ‘tempo de manifestação’
do Senhor. Quer dizer, o Verbo eterno do Pai se torna humano, vem morar entre
nós.
Celebrando a Sagrada
Família, valorizamos a vida de nossas famílias
como santuário da vida, lugar da
vivência da gratuidade, do amor e do perdão, sacramento do mundo novo, apesar
dos seus inevitáveis contratempos.
Nesta celebração, o Pai nos convida
a entrar no mistério sempre atual da encarnação do Filho, na realidade de uma
família que, independente de seus limites, é convidada a assumir o caminho de
Jesus como Maria e José que foram fiéis a Deus, apesar das vicissitudes da
época.
‘Na
festa da Sagrada Família, celebramos em comunhão com todas as nossas famílias.
Elas são convidadas a praticar hoje os valores vividos pela família de Jesus,
Maria e José. A Sagrada Família é exemplo de amor e cuidado mútuos e de
obediência à vontade de Deus.
A liturgia
da Palavra nos mostra o projeto de Deus para nossas famílias. Acolher a Palavra
significa deixar-nos iluminar por ela e traçar nossos caminhos segundo sua
proposta.
A família é
uma pequena Igreja em que se partilham valores humanos e cristãos. A família é
o lugar privilegiado em que se favorece o amadurecimento dos filhos. A
comunidade cristã é a família de Deus em que se partilha a bondade e o amor’ (cf.
Liturgia Diária de Dezembro de 2012 da Paulus, pp. 88-91).
A Sagrada Família
de Nazaré cumpre seus compromissos religiosos e ilumina as relações entre pais
e filhos, sendo modelo para todos os lares. Mas Jesus revela que sua família,
mais do que nos laços de sangue, está centrada na obediência a Deus, Pai comum
de todas as pessoas que creem e realizam a sua vontade.
Compreender a vontade do Pai, seus
desígnios, seu projeto de amor, exige meditação, oração e contemplação
constante de sua palavra. Maria conservava no coração a palavra, os
acontecimentos da salvação, acolhendo com fé o plano de amor do Pai, que se
revela no Filho. Sua atitude de discípula ilumina a nossa caminhada a serviço
do Evangelho de Cristo.
O Filho de Deus vindo a terra numa
família humana, oferece a ocasião para refletir sobre a família como ambiente
vital e social, onde cada ser humano se insere ao nascer. Ele ensina a viver o
amor filial, a comunhão, a solidariedade, a partilha. O amor é o elemento
essencial que faz reinar a paz e a harmonia nas famílias. É o critério para
viver a felicidade em Deus e a fonte da unidade familiar.
O
Catecismo da Igreja Católica
afirma que a ‘família cristã é uma
comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra
criadora do Pai. Ela é chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo.
A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam nela a caridade. A
família cristã é evangelizadora e missionária. As relações dentro da família
acarretam uma afinidade de sentimentos, de afetos e de interesses, afinidade
essa que provém, sobretudo, do respeito mútuo entre as pessoas. A família é uma
comunidade
privilegiada,
chamada a realizar uma carinhosa abertura recíproca de alma entre os cônjuges
e, também, uma atenta cooperação dos pais na educação dos filhos’ (Catecismo
da Igreja Católica, p. 576).
[...] Com propriedade, lembramos na
festa de hoje, uma das três prioridades do Plano Arquidiocesano de Pastoral de
nossa Igreja particular de Ribeirão Preto: A Família!
Tenho um primo, Padre Jesuíta que ao chegar, costuma perguntar: ‘E a Família, como vai?’
Também nós somos nesta Festa
da Sagrada Família,
perguntados pela Palavra e pela Eucaristia que celebramos: ‘E
nossa Família Arquidiocesana, como vai?’ Temos nos
esforçado para zelar e cuidar bem de nossas famílias, especialmente daquelas
que foram colocadas de bruços por conta do capitalismo selvagem, da cultura de
sobrevivência e nem por último de nossos caprichos cheios de rubricas
pastorais? [...]
A nossa reunião dominical na casa do
Senhor (Igreja) é expressão, sinal de nossa caminhada com o Senhor e do desejo
de vivermos como irmãos, numa família
sagrada, unidos pelos laços da fé e da solidariedade. [...] Mas
nossas Igrejas lotaram nas celebrações natalinas? E se lotaram, quem veio? A
família inteira ou alguns de seus membros? Trocou-se a Igreja pelo Shopping
(muito mais confortável, elegante e tentador) do que nossas celebrações tantas
vezes mal preparadas. As pessoas não se importam esperar muitas horas,
enfrentando longas filas nos congestionamentos das estradas que as conduzem ao
lazer, nem nos caixas, onde pagam exacerbadamente por presentes tantas vezes
supérfluos. Mas não suportam que a ‘Missa do Galo’
ultrapasse uma hora contadinha no relógio. O que percebo, é que nossas
celebrações, por maior que sejam nossos esforços, já não contam mais com
multidões de famílias que buscam celebrar ‘em família’ o sentido de sua
existência. [...]
Um desejo, uma busca essencial em
relação à vida da família hoje, com certeza, deve ser procurado no exercício da
caridade que é a fonte da unidade familiar (caridade entendida como vivência da
gratuidade, do perdão e do amor, do exercício de relações verdadeiras, da
prática da misericórdia, da partilha e da solidariedade).
A Palavra de Deus neste domingo nos
introduz no mistério desta Família. Estejamos com olhar atento para ver o
quanto de bom existe na nossa pequena família também” (cf. Roteiros Homiléticos
da CNBB, n. 24, pp. 41-45).
Sempre gosto de pensar, que Deus
gostou tanto de ver a nossa Família, que também quis uma para Si. Não
decepcionemos este Deus de amor, que não se contentou em ser nosso Pai, mas
providenciou-nos também uma Mãe e um Irmão tão seletos! Oxalá reanimemos nossas
Famílias, reerguendo-as das depressões e dos vazios de sentido de vida em
Família. E então poderemos responder a quem perguntar: Nossa
Família vai muito bem, sim Senhor!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ecl 3,3-7.14-17; Sl 127(128);
Cl 3,12-21 e Lc 2,41-52).