FALTA DE PACIÊNCIA!
Conversando
com inúmeras pessoas e observando o comportamento de tantas outras, percebe-se
especialmente como sequela da pandemia da COVID-19, uma acentuada falta de
paciência nas mais diversas circunstâncias. A começar de mim mesmo, preciso
reconhecer e fazer minha confissão pública, de que não poucas vezes me falta a
paciência. Chegando ao entardecer da vida e depois que se entra no “Clube das
Pessoas Idosas”, mesmo não nos dando conta de que estamos envelhecendo, a não ser
quando as crianças e os jovens nos chamam de “vovós”, a tendência é querer
resolver a vida o mais depressa possível, recuperar tempo perdido, fazer acerto
de contas, reajustar atividades, as mais inusitadas, correndo de um lado a
outro, esquecendo que já não temos mais a mesma versatilidade de anos passados.
E os anos passam a cada ano bem mais depressa. Tudo isso nos conduz à falta de
paciência!
Sabemos
que a paciência “é a qualidade de quem sabe esperar e a virtude que consiste em
suportar dores, infortúnios com resignação”. Depois de confinados ou privados
de encontros, confraternizações, atividades de trabalho, lazer ou de tantas
outras naturezas; depois de obrigados a adiar congressos, assembleias, celebrações,
como matrimônios, aniversários e viagens, submetidos a encontros somente
virtuais, tem-se a impressão de que, como animalzinho saído de confinamento, corre-se
para “resolver o mundo”, que por mais de dois anos quase parou. Ao invés de reconhecermos
aprendizados que a pandemia nos proporcionou, ainda nos assola a falta de paciência!
Corremos
atrás do tempo, como as crianças numa pelada de futebol correm atrás da bola. Só
mesmo fazendo o Gol é que nos aquietamos. Ficamos frustrados quando esse não
sai. É bem verdade que retomamos alguns valores importantes: valorizamos mais a
vida, fizemos uma mais profunda e prolongada experiência de solidariedade, nos
tornamos mais sensíveis em relação a tantas perdas: das vidas de pessoas
amadas, de empregos, oportunidades de bons negócios, de estudos mais apurados,
de abraços mais apertados e de encontros presenciais edificantes.
Mesmo
assim constata-se a falta de paciência na convivência hodierna das pessoas, e
eu me incluo nesse grupo, suplicando o perdão às pessoas com quem convivo nas
Comunidades e em outras atividades que tento desenvolver e servir com a ternura
de meu coração. Nem sempre sei exercer a virtude da paciência, quando as coisas
não acontecem como previa ou desejava, mesmo que em benefício da promoção da
dignidade do próximo!
A falta
de paciência é notória nas salas de aulas. Seria compreensível se fosse nas
salas de aulas dos pequeninos, mas refiro-me aos alunos de cursos superiores, nas
faculdades; nas filas aguardando atendimentos médicos; nas filas dos caixas de
supermercados; nas filas do transporte público, quando a UBER demora em demasia
ou desiste de atender a viagem solicitada; nos desvios indicados por conta das
obras da mobilidade urbana, que está deixando nossa cidade mais ágil, segura e bonita;
nas expressões de opinião, como por exemplo sobre as eleições que se aproximam,
e nem por último quando o sermão do padre passa dois minutinhos do tempo que
pensamos ele deveria ter utilizado para pregar. Gastamos horas a fio em
estádios de futebol, nos barzinhos que depois da fase aguda da pandemia sempre
estão lotados, nos shows e, finalmente dialogando com o celular, ao invés de
conversar mais com os familiares nos próprios lares. Desses últimos ouve-se
frequentemente a mesma reclamação: nesta casa há muita falta de paciência!
Nos
atendimentos espirituais, a falta de paciência, é o desabafo que geralmente tem
o primeiro lugar. Precisamos encontrar meios, exercícios e atividades individuais,
familiares, sociais e eclesiais para superar nossa falta de paciência e viver
melhor o presente. Até porque o passado já se foi e o futuro ainda está por vir,
e dependerá de cada um de nós, uma melhor qualidade de vida, parando de ter
falta de paciência!
Pe. Gilberto
Kasper
Teólogo